sábado, 16 de janeiro de 2010

Conversa na parada de ônibus

- Olhe, irmão, eu dou graças a Deus por ser espírita. Graças a Deus! Você veja, ela vai pra essa igreja evangélica a pedido de amiga, senta lá e fica ouvindo o que o pastor diz - vê se isso pode? Ela é espírita, não é evangélica! Eu conhecia uma família que me chamava sempre pra visitar a igreja deles, católica, mas eu não ia. Não ia, não, sabe por quê, irmão? Porque nada que de lá vem me interessa, nada daqueles sermões, das interpretações deles, da palavra, nada disso me interessa porque eu sou espírita, né, irmão? Eu vou pra lá pra fazer o quê? Eles diziam: "não, que o padre é muito bom e fala coisas bonitas!", mas, sim, nada disso me interessa porque eu não acredito nisso. Eu sou espírita, irmão, não sou católica! Não tô certa, irmão?

- Tá sim.

- E outra, pode ser a palavra bonita que for, mas eu não acredito em nada que vem deles. Eu sou espírita, irmão.

- Hum...

- "Mas vamos lá visitar, você escuta que lindo é o sermão desse tal padre", mas eu não vou, irmão. Não vou. Não adianta. Não vou me corromper. Sou espírita!

- É, é mesmo.

- Eu não vou pra lá pra ficar vendo o padre rezar uma missa e os fiéis acompanhar e eu lá sem em nada acreditar.

- É.

- Não é?

- É.

- Veja, irmão, eu já fui católica, até meus 12 anos de idade. Depois disso, irmão, virei espíritagraças-a-Deus!

- É mesmo?

- Eu frequentava a igreja, né, da minha família. E eu morria de medo, né, irmão, por causa dos ensinamentos. Eu tinha medo porque eu não pensava que eu não podia errar, porque se não eu ia pro inferno, e eu morria de medo, irmão. Não tem isso, né? se você errar, pecar, vai pro inferno; se você fizer o bem, vai pro céu. Pois irmão, eu morria de medo de errar. Quando errava ficava assustada.

- É mesmo?

- Éé. Aí foi quando uma amiga me levou pra um centro espírita. Aí eu aprendi que não existe inferno nem Paraíso. Que o "inferno e o Paraíso estão dentro da gente e que é o nosso estado de espírito". Mas não tem nada de sofrer pra sempre. Isso que me assustava. Aí eu comecei a frequentar o centro e desde então me considero espírita. Há 40 anos, irmão! 40 anos!

- Nossa! É mesmo? Achei que a irmã era novinha, tinha seus 20 anos!

(Risos)

- Mas eu dou graças a Deus, irmão, por ser espírita. Graças a Deus. Hoje em dia ninguém mais me convence, ninguém me converte mais! Já me levaram pra igreja evangélica, já tentaram de tudo, mas ninguém me tira do espiritismo, irmão!

- Hum...

- E eu não acredito em nada que me digam, não acredito em ninguém que não carregue os ensinamentos espíritas, sabe, irmão?

- Hum...

- Eu não vou pra outra igreja, irmão, pra não me contaminar. Não preciso, irmão. Eu sou espírita. Né mesmo?

- É.

- Olha, irmão, é o seu ônibus!

3 comentários:

neTrop!k@lista disse...

HAHAHAHAHAHAHAHA!!! muito bom! completamente verossímil, um dos grandes prazeres de se viver em uma cidade pluricultural.
abraços comovidos e de humor melhorado!

Alessandra Safra disse...

Gostei do texto, só acho que espíritas não se tratam por irmãos, não tenho certeza.
mas é verdadeiro que todo religioso é um pregador e sei lá, meio chato tbm. Dos espíritas minha crítica maior é sobre sua visão de carma, e sendo tudo carma, resgate, gera neles um comodismo sobre as coisas. Esse comodismo é perigoso.
Querido escritor e amigo, não quero ficar dando pitacos, só quero dizer que vc é bom prosador.

Igor disse...

também num largo minha religião irmão, não presta ser budista,católico,protestante,macumbeiro irmão... minha religião me conforta irmão, por isso não troco por nada irmão eita minha parada é a próxima.. xau irmão!