Não, não me escutam. Agora que posso dizer algo, não me escutam. Deixam que o tempo passe e leve com ele a memória frágil que se descreve na história, mas que se perde no meio dos maiores eventos mundiais. Um dia, eu acordo e digo a mim mesmo: “acorde”, incrédulo e ainda desnorteado por ter deixado o abismo inefável dos sonhos e tombado bruscamente na concretude da realidade. Eu fugirei, um dia, e não precisarão me procurar. Estarei a sua frente, mas não estarei em mim. Nesse dia, o mundo terá, finalmente, me engolido.
Às vezes me pego quase abstraído num vazio atordoante, estendido numa plenitude etérea, num silêncio abismal. É quase como se me acolhesse o infinito cósmico, como se me aceitasse além da vida e das possibilidades materiais. Eu sumo, por instantes, desapareço, abstraio-me. Quando acordo desse delírio, é um baque. Sinto a respiração constante, interminável, que me confere vida, os pensamentos transbordam e se derramam, não consigo distingui-los e me perco nessa tormenta mental. Tento voltar àquele estado hipnótico e anestésico, mas não depende de uma vontade consciente, de um raciocínio calculado ou de um pensamento obstinado; é preciso distender-se e se deixar levar, mas quanto mais persisto nesse propósito, mais distante fico do meu objetivo. Afinal, desisto.
Li muitos livros, procurei neles alguma coisa que faltava em mim, ou que iluminasse com razão o vazio de ignorância em que sempre me percebi. Procurei neles momentos extáticos de lucidez, de compreensão, de verdade, e às vezes até os encontrava, mas eram paliativos inefetivos, pois percebia que não eram o tipo de certeza ou verdade que eu procurava ou precisava encontrar, mas respostas ou explicações que me distanciavam ainda mais do que eu gostaria de saber. Na verdade, desconhecia meus objetivos, meus propósitos, não sabia realmente o que procurava, mas pensava encontrar em cada resposta com a qual eu, em meu entusiasmo, me deparava e me identificava, pensando tê-la procurado durante tanto tempo. No entanto, novas dúvidas inundavam minha mente e substituíam as velhas às quais acreditava ter respondido. E assim não acumulava perguntas, mas respostas, explicações, diagnósticos, muitos deles, descobria anatomicamente as entranhas do meu ser, na ilusão de que eram limitadas. Porém, acredito, o cérebro humano é conjugado ao infinito do nosso multiverso e esconde incalculável número de mistérios. Por isso, sentia compreender-me, nesses milésimos delirantes, ao me abstrair nessa vacuidade de inconsciência, dormente, hipnotizado, distraído, acreditava compreender o infinito e o mistério da vida.
Eram apenas verdades indefinidas,mutáveis, verdades efêmeras que se deformavam em minhas mãos, ou que me escapavam como água e se reformulavam, se redesenhavam longe de mim. Sentia-me frustrado e cansado. E, de novo, as mesmas lacunas apareciam, ou novas surgiam. Aprendi com o tempo, e na verdade demorei a aprender, que tudo em que acreditava era inconstante e instável, mutável. Diluía-se com o tempo, desintegrava-se ou se transformava. Por isso, nunca aderi a nenhuma ideologia, religião ou filosofia de vida. Na maioria das vezes, os conceitos que fazia das novas crenças obedeciam a uma conveniência pressuposta e inconsciente. Todos os meus laços com a vida eram frágeis e insubstanciais. Nunca acreditei na vida, porque toda ela desembocava num mistério irrespondível e inevitável. A mim, a vida parecia nada mais que a reprodução de uma das milhões de vidas que uma vez floresceram neste mundo. Nada me era novo, tudo parecia repetir-se como um filme, como uma história revisitada infinitas vezes.
Lembro quando, em minha infância já adormecida pelo tempo e sufocada pela euforia da juventude, me escondia das pessoas como se fossem monstros. Eu não as repudiava; sentia, pelo contrário, uma estima parva de quem acaba de se descobrir consciente no mundo. Sentia certo medo, sim, mas não bastante para anuviar minha curiosidade. Observava a vida com ar sereno e, diria até, desinteressado, não com um olhar científico, como o de um antropólogo. Minha curiosidade se resumia a vê-los em suas mais diversas reações, em suas manifestações, não para catalogá-las, o que às vezes me era inevitável, mas para contemplá-las, admirá-las. Às vezes , não as observava com meus próprios olhos, mas me transportava para os delas. Eu não as via, eu procurava ver o que elas viam; na minha lógica cognitiva, o que elas faziam estava diretamente ligado ao que viam, e, devido a instruções prévias ou à freqüência do trabalho, soubessem exatamente a utilidade de cada objeto usado. Causa e conseqüência ligavam-se através da visão, o mundo só funcionava através dos nossos olhos – foi assim que entendi a visão como o sentido mais importante do ser humano. É claro que essa concepção transformou-se com o tempo, na medida em que meus sentidos se aprumavam a cada dia. Mas essa lição não me foi de toda descartada, compreendi com ela uma das verdades que mais me intrigam e das quais mais duvido: o mundo só existe na medida em que o apreendemos em nossos sentidos. Não cheguei a nenhuma nova conclusão, mas minha teoria demanda mais digressões, e não pretendo me estender nesse assunto.
Minha melhor diversão consistia em procurar esconderijos secretos, onde eu passava horas, aconchegado nos meus pensamentos. Sonhava com um abrigo onde eu poderia viver, cada vez mais distante, um lugar que me resguardasse do tumulto humano. Imaginava o lugar, via-me deitado, sonhando, ou brincando com meus brinquedos, ou com alguns amigos que pudesse trazer vez ou outra. Deveria ser um lugar à parte, protegido, onde nenhuma guerra pudesse o ameaçar. E eu levaria pra lá as pessoas de quem mais gostava. Em meu altruísmo infantil e ingênuo, imaginava, também, um galpão profundo, ao lado do meu abrigo, que abrigasse o maior número de pessoas boas, que mereciam a salvação. Eu não sei bem como faria para avaliar a bondade dessas pessoas, mas lembro que não me sentia confortável ao pensar que eu tivesse de selecionar os candidatos. E ainda assim, desejava a privacidade que um lugar à parte pudesse me oferecer. Quando pequeno não sabia, mas o que eu queria mesmo era me ausentar, ser um espírito num lugar à parte, um ser volatilizado, que se pusesse no mundo somente para observar, para assistir a um eterno filme que se descreve nas páginas da História, mas que se perde no fluxo interminável e inexorável do tempo.
Alguns desejos profundos jamais nos deixam, mesmo depois que a própria vida se revela em sua multiplicidade de escolhas, mesmo que ela nos ofereça novas possibilidades de prazer, novos desejos. Alguns desejos, me parece, são inatos. Hoje, vivo na oscilação entre o desejo do vazio, esse desejo que me acompanha desde cedo, e os ímpetos avassaladores e instintivos da juventude. A esses ímpetos, não os taxaria de vícios, termo bastante negativo para designar uma característica inerente a esse estágio efervescente da vida humana. Ainda que defenda a antilógica do nosso instinto, me apetece a comodidade que o desejo do vazio, o desejo de não pensar, de me abstrair, pode proporcionar. Estou sempre a meio caminho entre essas duas partes do meu ser, pois eu também sou desejo.
Na escola, nunca aprendi muita coisa. Na verdade, nunca me ensinaram nada, aprendi o que conseguia assimilar por mim mesmo e o que achava conveniente ou o que me interessava. Eles diziam, e tentavam nos fazer acreditar, que estavam construindo nossa personalidade, nosso ser social, mas a verdade é que nos exauriam de nossas próprias intuições, de nossa própria lógica. Eles esfarelavam qualquer autenticidade de nossa personalidade, e nos moldavam de acordo com suas teorias pedagógicas. Nunca me senti tão cerceado, e hoje sei disso mais do que nunca, como na escola.
E desde cedo, percebi minha incompatibilidade em relação aos grupos sociais. Talvez tenha sido rejeitado, mas a verdade é que eu me afastei, por conta própria, de qualquer relação. Lembro como temia meus colegas de sala e de como um sentimento de humilhação me perseguia, como fantasma, invisível como uma vaga sensação que, subitamente, se manifestava em toda sua intensidade, em qualquer lugar, sem qualquer razão. Certo dia, exasperado por ter de suportar mais um dia rotineiro de aula, decidi debandar do colégio e me ausentar no aeroporto da cidade, que ficava bem perto. Não lembro bem como esgotei as horas naquela manhã, mas não podia voltar pra casa cedo demais. Talvez tenha lido ou visto o trânsito escasso dos viajantes. Mas lembro quando surgiram na escada rolante, meus colegas de sala mais indesejáveis, os mais exasperantes, e lembro como me apavorei, pois me encontrava sozinho e eles sempre me ameaçavam ou me injuriavam. Temi como nunca ser humilhado ali, em público. Na escola, já estava estigmatizado e não me importava tanto ser xingado ou coisa assim, pois havia uma certa cumplicidade entre os próprios importunados pelo grupinho pop dos ‘malfeitores’. Do lado de fora, não havia leis ou qualquer tipo de proteção, eu não tinha em que me apoiar, como me defender. Na escola, mesmo que houvesse uma ameaça, uma tensão, era algo invisível, que somente se percebia, mas que não se expunha tanto. A humilhação pairava sobre os alunos, mas não podíamos delatar os ‘malfeitores’, pois, ao menos na maioria das vezes, a humilhação era apenas moral, não física, apesar dos empurrões discretos que nos davam pelos corredores. Naquele dia no aeroporto, me apavorei tanto que cheguei a me esconder por entre umas placas de metal que cercavam a mesa onde me sentava. De alguma forma, consegui tomar as escadas e sai do aeroporto discretamente, sem ser notado. Mas logo quando me vi na rua e pude sentir um instante milesimático de alívio, tive um dos mais fortes sentimentos de frustração e impotência que já tinha me assaltado. Tanto que lembro ter chorado durante todo o percurso para casa, e de ter passado a tarde inteira entre o sono e as lembranças amargas daquela manhã que eu remoia e que me revolviam por dentro. Sentia-me humilhado, e essa humilhação e o medo dos outros jamais me abandonaram durante minha adolescência. Tanto estropiaram minhas sensibilidades que me tornei um ser instável, hipocondríaco, oscilando entre as emoções intensas e a mera indiferença pelos acontecimentos da vida. Hoje, olho para trás, ainda que adolescente como sou, com um sorriso de deboche, penso o quanto fui ingênuo e temeroso. Minhas frustrações e decepções ainda me revolvem por dentro, mas não deixam de ser risíveis, são minhas piadas internas, palavras que fazem parte do meu ser, mas que, a mim, não me soam tão trágicas. Penso em como uma arma teria resolvido meus problemas: jamais teria hesitado diante de um daqueles garotinhos irritantes, e não me deixaria jamais ser dissuadido por qualquer sentimento moral ou honroso, não hesitaria em ser covarde. Teria disparado a arma.
Minha casa era o meu grande refúgio. No meu quarto, repassava na memória os acontecimentos do dia, estudava, brincava com meus brinquedos ou jogava videogame. Mas minha maior distração, que hoje se tornou a mais intensa das paixões, a mais indizível das boas sensações, era a música. Nem sei como descobri a música, essa é a verdade. Meus pais nunca estimularam em mim qualquer sentimento artístico, mas eu não os culpo por isso. A música se revelou para mim nos seus acordes mais banais e mais discretos, e foi se apoderando do meu ser na medida em que fazia vibrar as cordas mais sensíveis da minha alma. Eu não tinha aparelho de som, não sabia usá-lo e não possuía nenhum CD de música. O que ouvia, surgia de cantos misteriosos os quais não me preocupava em procurar. Escutava algumas notas e me deitava para acompanhá-las, já que surgiam vagamente, no meio dos rugidos sonoros da rua e da avenida. E quando não podia escutá-las bem, simplesmente colocava a fita de videogame no aparelho e ouvia as músicas que mais me agradavam. Começava a jogar certa fase do jogo só para ouvir a trilha sonora do mapa. E passava horas, horas intermináveis de grandes sensações e verdadeiras inspirações. Pois uma das primeiras coisas que descobri em relação à música, é que ela me inspirava mais do que qualquer coisa. Ela me enlevava a um nível espiritual de plenitude, de alívio e de evasão. Sentia-me escoar de meus problemas, de preocupações, sentia-me distender. É claro que só recentemente essas sensações mais intensas se tornaram mais frequentes, mais perceptivas; na minha infância, eu não parecia consciente bastante para notar tais sensações, mas isso não quer dizer que eu não as tinha. Só agora reconheço, conscientemente, sua importância e sua qualidade de arte suprema.
Meus pais se perguntavam porque eu passava horas deitado, com a TV ligada, e o jogo parado, sem nada fazer. Pediam que eu desligasse os aparelhos, para economizar energia, mesmo que eu me justificasse, dizendo que escutava música. Eu não compreendia que aquelas sensações eram mais importantes para mim do que a necessidade de economizarmos energia. Acabava desligando os aparelhos de TV e de videogame. Eu também me sentia bem cantando músicas de programas que via na TV, ou canções das rádios dos vizinhos. Alguns deles ouviam as mesmas músicas todo dia e algumas delas me agradavam; cantava todo enrolado as letras, pois mesmo que algumas fossem nacionais, eu não as ouvia direito. As canções, na medida que se repetiam, iam-se gravando na mente, viciosamente. Passava semanas com uma música na cabeça até começar a tentar esquecê-la – o que era um problema, porque, às vezes, nem dormir eu conseguia. Passava horas deitado, no escuro do meu quarto, tentando me desfazer dos pensamentos para finalmente alcançar o abismo dos sonhos, mas lá estava, tocando ininterruptamente aquela música tantas vezes escutada pelo vizinho. O pior é que as músicas que ficavam se repetindo na cabeça eram as mais desagradáveis, as que eu realmente não gostava, mas que possuíam alguma melodia penetrante.
Duas casas ao lado da minha, havia um aprendiz de piano. Os dias mais etéreos de minha vida, vivenciei no meu quarto, deitado, sempre com um caderno ou um livro que eu descansava no colo, enquanto ouvia soar vagamente as notas desconcertadas do pianista juvenil que adentravam pela janela. Entre os ruídos e rangidos metálicos dos automóveis na avenida, dos trabalhadores da ferraria ao lado, dos moleques que brincavam e gritavam pela rua, aquelas notas inocentes, amadoras, passavam quase despercebidas, suspensas no ar, mas se dispuséssemos nossa atenção nelas, escutaríamos sua melodia encantada, fascinante, apesar de errática e frágil. Aquelas notas pareciam vibrar indiferentes a tudo, pareciam desejar o vazio onde se dissipariam para sempre, longe de qualquer ruído, longe de si mesmas, mas continham uma sinceridade e uma humildade que me fascinavam e me hipnotizavam. Aquelas notas inocentes, que tentavam construir alguma melodia, interrompidas constantemente, que soavam como a mais pura e honesta expressão de um adolescente, tornaram-se, para mim, o emblema de minha infância. Se penso naquelas tardes, vejo-as como que suspensas no espaço-tempo, etéreas, num lugar à parte, quase oníricas, circundadas por uma áurea de nostalgia e de beleza. E a mim, me vejo como um ser insubstancial, que pairava na plenitude do nosso mundo, um ser feito de energia, inconsciente, que se conjugava ao infinito de nosso multiverso, que vibrava em harmonia àquelas notas. Mas reconheço que nem tudo era tão perfeito assim.
Assim mesmo, fui me afeiçoando à arte da música, apesar de jamais ter tentado obstinadamente aprendê-la. Talvez por falta de disciplina, talvez por falta de talento, reconheci que minha relação com a música era meramente de passividade; ela existia, para mim, para que eu a sentisse. É a única arte que jamais tentarei alcançar por profissionalismo; é para mim a única arte intangível, a suprema arte, a arte mais completa. Falar de mim, por exemplo, com todas as verdades, com plena sinceridade, seria impossível se apenas utilizasse os códigos limitados da escrita. Mas tudo isso eu poderia contar através da música, todos os meus verdadeiros sentimentos, tudo que penso. E mesmo aquelas notas constantemente interrompidas da minha infância, aquelas notas simples e inocentes, que por vezes destoavam entre si, formavam doces frases melódicas por entre os ruídos ásperos vindos da rua, e me inspiravam, me conduziam a um mundo suspenso, adimensional; eu mesmo, às vezes, encontrava nelas novas sequências melódicas, que ainda hoje resistem ao tempo na minha mente. Depois dessa primeira fase de descoberta, entendi que a música poderia falar o que eu queria ouvir, ou falar o que eu gostaria de dizer. Assim fui escutando músicas que falavam por mim. Hoje, com a quantidade de sensações, de experiências, de seres que fui acumulando, meu acervo de músicas tornou-se mais que eclético. Ouço de tudo, ou quase tudo, e sei que ainda há muito a ouvir. A música trilha a minha vida na medida em que acrescento em mim novas experiências. Hoje, digo deliberadamente: antes cego do que surdo.
Mas escrever é, para mim, um refúgio. Quando escrevo, me recrio. Imagino-me num conto e delimito minha existência às páginas desse conto, mesmo que não haja fim nem começo. E me pergunto até onde vai a transcendência dessa existência literária e paralela. Olho distante, para o fim da rua que se estende diante do meu prédio, e vejo pequenas luzes de carros que se movem e resplandecem melancolicamente por entre os galhos das árvores, e há um silêncio espectral e uma ansiedade que aos poucos é debelada pelo rugido sonoro que se intensifica na medida em que os carros se aproximam. Sinto uma ânsia, uma vontade de me exprimir e me espremer e me pronunciar. Uma vontade de escrever tudo, exatamente tudo, escrever infinitamente tudo. Penso e acredito, exultante, verdadeiramente inspirado, que posso escrever decididamente tudo e sobre tudo, com todos os mínimos detalhes. Mas, inevitavelmente, frustro-me por não conseguir distinguir as ideias, as palavras, por não conseguir escrever tudo de uma vez no exato instante em que minha inspiração se estende aos níveis apoteóticos. Transcrever a beleza das minhas visões, os ruídos arrítmicos, destoantes, anti-melódicos, que ouço, e que se transformam em música em mim, a excitação exultante dos meus sentidos, é isso que me agrada e é isso que desejo agora. Vejo, da minha varanda, os prédios, as luzes, a avenida e suas artérias, as escassas árvores, os escassos carros que transitam na madrugada, serenamente, melancolicamente. Sinto vontade de plastificar toda essa paisagem, tudo isso. Escrevo essas memórias para tentar me descobrir em minha infância, para talvez revisitar o caminho místico e ingênuo por mim traçado e quem sabe encontrar o momento exato em que me desviei. Se é que minha existência não descreve um traçado inevitável por entre as possibilidades da vida. Não falo de destino, não acredito nele. Mas sei que não tenho idade para analisar esse passado criticamente, sinto lacunas ao tentar responder algumas perguntas, olho para trás com um olhar inocente, puro, como que impressionado, o olhar equivocado de um jovem. Suspiro, e um ar gélido penetra minha pele com pequenas agulhas. Nesses momentos amenos em que minhas pulsões se aprumam, chego a compreender, conformado, a inexorabilidade da vida, e não me revolto. Simplesmente, deixo-me fluir, à deriva, deixo-me eclipsar, como se possuísse o silêncio resignado de um sol que há de se pôr no fim da tarde.