tag:blogger.com,1999:blog-46758373975348236922024-03-14T10:47:20.604-07:00Sem Paredesrenato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-75301487046481453782012-02-12T12:58:00.000-08:002012-02-12T12:59:00.384-08:00hoje encontrei renato sereno. parecia um morto a quem esqueceram de enterrar. me perguntou alheio em que ano estávamos. - 2012. feliz ano novo, à propósito. percebi que desenhava labirintos numa folha de papel, e eu perguntei para que serviam. respondeu que eram labirintos cerebrais, e pensei em Spider, de Cronenberg, que também construía labirintos cerebrais, mas com barbantes. não servem pra nad<span class="text_exposed_hide">...</span><span class="text_exposed_show">a, então? perguntei se conhecia os personagens de beckett. - não. - são personagens que frequentemente partem de nenhum lugar a lugar nenhum. é como desenhar labirintos numa folha de papel. nos despedimos e ele seguiu a pé. parecia carregar consigo toda a idade da terra, e eu tive a impressão de que não estávamos em 2012, que ele bem podia ser um personagem de beckett, e que ia atrás de lugares nenhuns. também pensei que um dia ainda nos encontraríamos num hospício, eu, ele, molloy, malone, spider, bartleby, o diabo do capitão ahab e o louco do espinheiro. todos fumando cigarros, chupando seixos ou inventando labirintos cerebrais.</span>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-33779199376516152632011-10-14T17:16:00.000-07:002012-01-18T18:42:03.002-08:00conversas com renato sereno.<div style="text-align: justify;">tentando dar algum destino a estas reflexões que, sem rumo, acabam como lixo eletrônico no fluxo de atualizações do facebook, resolvi assentar-lhes um lugarzinho pacato neste blog deserdado:<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">1.</span> meus livros têm o péssimo hábito de me desaparecerem do quarto. disse isso a renato sereno hoje mais cedo. me respondeu que por não ter o costume de ler desconhecia os hábitos secretos dos livros. mas me recomendou apropriadamente uma arrumação no quarto, pois assim não correria o risco de extrapolar os limites da razão, evitando a suposição de inconvenientes fantásticos, como duendes, passes de mágica, bruxaria e coisas de natureza esotérica. tive de concordar, mas quase não resisto à vontade de lhe dizer que ele mesmo não passava de um produto da minha imaginação, ou da loucura (como gostam os psiquiatras e iluministas).<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2. </span>hoje, tomava café com renato sereno, quando começou a chover forte do lado de fora. onde estávamos, podíamos ouvir a surda queda d'água nos telhados do estabelecimento, o fluxo que escorria pelas calhas, formando magras cachoeiras nas extremidades. ainda não tínhamos dito nada um ao outro, exceto um comentário discreto sobre a previsão do tempo. nada mais, nenhum cumprimento. um velho, ao nosso lado, pelos grisalhos espalhados por toda cara, disse, alheado e para ninguém: "êta, vai chover!". comentário que me surpreendeu bastante, mas não tanto a renato, que está sempre alheio ao mundo e indiferente às filosofias mundanas. pensei, para além da obviedade dos fatos: ora, chove, como vai chover? e lembrei instantaneamente um trecho de enrique vila-matas contido num bloquinho de notas meu que coleciona comentários famosos sobre o tempo. dizia algo como: "sempre que chove é uma coisa que acontece no passado - creio que um poeta argentino disse isso". contei a renato sereno tudo isso, mas não acho que deu importância. disse apenas que estávamos diante de um louco. mas que o louco não estava menos errado que o tal poeta, afinal. e eu conclui: chover é algo no porvir, que já passou. é qualquer coisa da teoria de bergson. portanto, não chove nunca. ora, chovia, mas não abri meu guarda-chuva ao ir embora.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">3.</span> hoje tive uma experiência no tempo. renato sereno diz que não. assim devem concordar Amanda Beça e Alan Tonello, que testemunharam o acontecimnento banal e não souberam perceber a fançanha cósmica inextricável que nos concebeu o universo. estava eu na parada de onibus e esperava cdu/ bv / caxangá, que já tinha visto mais atrás, numa fila de carros e outros ônibus, quando me virei e vi amanda e alan, acenando. ponderei se deveria me aproximar e cumprimentá-los, já que logo mais subiria no ônibus, que se aproximava lentamente por causa do congestionamento. decidi ir até eles. a experiência, invisível mas inquestionável, se deu a partir desse ato banal, durante minha caminhada. aqueles passos não me conduziram somente através da calçada, mas através do tempo. quando cheguei, nos cumprimentandos e, tendo perguntando que ônibus eu pegaria, respondi cdu... ao que me disseram: 'olha aí, rapaz, do teu lado'. impossível! pensei eu. desmentiu-me o fato, mas negligenciei a razão: me nego a assumir minha leseira e displicência: digo que não foi só um deslocamento no espaço, foi sobretudo um deslocamento no tempo! quem negará?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">4.</span> incipiente crise de agorafobia em atravessar largas avenidas movimentadas, escassa habilidade em me desvencilhar de vários problemas simultâneos, insegurança pessoal e profissional, baixa auto-estima, impasses literários e frequentes bloqueios criativos, cinefilia, bibliofilia, masturbação e masturbação intelectual que me encerram cada vez mais num estado de solipisismo agudo, desejos frustrados, ...crises excruciantes de ansiedade, a situação duvidosa do sport na competição, perspectivas futuras para arte e cultura em geral, últimas decisões políticas, crise epistemológica das ciências, quantidade cada vez maior de leituras bíblicas e de auto-ajuda em ônibus, são estresses e inconvenientes que me deprimem e minam minhas relações sociais e afetivas. tudo isso desabafei a renato sereno hoje mais cedo, e conjecturei que tais problemas talvez justificassem minhas conversas falseadas com seres imaginários. recomendou qualquer terapia; ou que visitasse um psicanalista. respondi que não, que desconfiava dos psicanalistas. são sociopatas formados em universidade, conclui.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">5.</span> o ônibus demorava, e eu conversava com renato sereno na parada. contava a ele sobre o sonho do dia anterior, um desses sonhos em que você acorda e se pergunta se realmente aconteceu ou não. acontece frequentemente comigo. mas o que me incomodava não era a dúvida e a posterior certificação do que não era fato, e sim sobre do que se tratava o sonho. sonhara que tinha telefonado pra alguém pra confirmar qualquer coisa, porque na noite passada fui dormir com essa obrigação e portanto tinha me demorado pensando nisso. disse a renato que odeio falar no telefone porque nunca sei bem o que fazer, nunca sei o que dizer primeiro, se cumprimento, se me anuncio, se espero primeiro um alô pra depois me pronunciar. mas o que mais me incomoda é o inconveniente de me identificar, 'sou eu, renan'. perguntei a renato se não sentia o mesmo, se não achava estranho dizer: "sou eu, renato". com sua negativa, me pus a me justificar. quem sou eu e que propriedade tenho para me identificar como renan? quem é renan? um nome basta para compreendê-lo, as palavras de nosso vocabulário impreciso? como posso ter tanta certeza de que eu sou renan, ou vice-versa? ou se não fui dormir renan e acordei outro, sei lá, álvaro, josé, ou mesmo renato. nessas horas me cai a ficha e eu passo em revisão tudo que fui, tudo que penso que sou e tudo que pretendo ser. é uma dessas perguntas que a gente faz, sentado na varanda, numa noite solitária de lua cheia e amarelada (o cenário romântico é indispensável pr'esse tipo de questão filosófica). quem pode me garantir e garantir a si mesmo de que, do outro lado da linha, sou eu, renan, ou aquele, renan, que falo, ou fala? posso muito bem responder, e já tive vontade de fazê-lo, 'sou eu, mariana'. e você perguntaria, assim como renato perguntou: quem é mariana? e eu respondo: quem sou eu? uma pergunta equivale a outra. afinal, sou o quê? um preciptado de ideias que faço de mim e de opiniões dos outros? (é inevitável a alusão a Fernando Pessoa). um pêndulo ciclotímico de estados psíquicos e de humor? vai saber. um dia, eu, um dia, aquele, e assim por diante. e então renato me respondeu, sorrindo: 'você não existe'. o que me intrigou bastante porque, se ele não existe, eu que o inventei; mas se sua afirmação procede, e eu não existo, sou uma invenção dele, que por sua vez é uma invenção minha. e não faltaria aqui a alusão às ruínas circulares e seus personagens sonhados de sonhos sonhados de outros sonhos e assim por diante. calamo-nos. refletia sobre isso quando o ônibus chegou. o cobrador se aprontou logo em dizer: 'demorou pq tá tendo show no marco zero'. eu fui embora e não me despedi de renato.<br /></div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-6805635491715137612011-08-07T07:14:00.000-07:002011-08-07T07:26:08.975-07:00Moonwalkman (ou A história do discurso ausente)<!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 70.9pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=";font-family:";font-size:8.5pt;" lang="EN-US" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 70.9pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="" lang="EN-US"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> </p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 5cm; line-height: normal; text-align: justify; font-style: italic;"><span style=";font-family:";font-size:8.5pt;" lang="EN-US" >But what matter whether I was born or not, have lived or not, am dead or merely dying, I shall go on doing as I have always done, not knowing what it is I do, nor who I am, nor where I am, nor if I am. Yes, a little creature, I shall try and make a little creature, to hold in my arms, a little creature in my image, no matter what I say. And seeing what a poor thing I have made, or how like myself, I shall eat it. Then be alone a long time, unhappy, not knowing what my prayer should be nor to whom.<span style=""> </span><span style=""> </span></span></p><div style="font-style: italic;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 70.9pt; line-height: normal; text-align: center; font-style: italic;"><span style=";font-family:";font-size:8.5pt;" lang="EN-US" > </span></p><div style="text-align: center; font-style: italic;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 70.9pt; line-height: normal; text-align: center; font-style: italic;"><span style=";font-family:";font-size:8.5pt;" lang="EN-US" ><span style=""> </span><span style=""> </span><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 70.9pt; line-height: normal; text-align: center;"><span style=";font-family:";font-size:8.5pt;" lang="EN-US" >(Malone dies, Samuel Beckett)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Conta-se que quando veio ao mundo, não se incomodou em chorar. Viu aquele clarão inédito e indefinido, as sombras que mal se conformavam aos contornos, aqueles corpos estranhos que de repente começaram a fazer ruídos, e não sentiu deslumbramento. Não riu e só chorou quando o enfermeiro lhe despertou as lágrimas com um leve tapinha na bunda. Conta-se ainda que em sua infância plantava-se no quarto e olhava o teto, o ventilador que girava e fazia a sombra das hélices dançarem, passava o dia ensimesmado e não havia quem o tirasse daquele estado de letargia, não havia quem lhe chamasse atenção, e só despertava quando os pais reclamavam a tarefa de casa. Não deu trabalho, não era curioso e carecia de imaginação para traquinagem. Tinha amigos, brincava na rua, não era afeito a corridas e costumava ser o primeiro desistir da brincadeira e dos jogos. Voltava para casa e ninguém insistia que ficasse, habituados que estavam àquele espírito inerte e sedentário. Não o assustava Deus, a religião, os espíritos malvados, as estórias de terror, o desconhecido, a velocidade dos carros, o reflexo no espelho, as notícias de jornais. Também não tinha medo de dormir fora de casa, na casa dos amiguinhos, mas é que não o apetecia, preferia não fazê-lo. Não se sabe quantas vezes se apaixonou, nem quantas namoradinhas teve enquanto criança, mas conta-se que invadia a casa do vizinho, ele, outro pirralho e a amiguinha, e cada um beijava a garotinha com toda inocência que se permite conceder a essa idade primeira. Cresceu e não colecionou muitas histórias, talvez não pelo espírito desdenhoso de aventuras, apático ao mundo, como se pensa por aí – e não se pensa de todo errado, pois carecia mesmo de curiosidade –, mas por discrição e sutileza. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um caderninho marrom, de capa dura, envelhecido por estilo e não pelo tempo, guardava escritos seus. Não há quem tenha se aventurado em páginas tão curiosas e voltado para contá-las. Mitificaram-nas então. Mas conta-se que eram escritos inconclusos, versos inacabados, não encadeados, não coordenados, diário pessoal da necessidade mundana de registrar cada segredo, cada pequeno detalhe, cada pequena aventura, cada ilógica reflexão. Não fazia nada, de onde se conclui que não registrava aventuras; observava, mas instado a descrever o que via, não via nada – tinha os olhos abertos, mas não via nada; e se não via nada, pensava, refletia, ensimesmado, não que aspirasse ao título de filósofo, mas pela inevitabilidade do ato involuntário. E, seja por discrição ou preguiça, jamais participava a ninguém o que se lhe passava na cabeça. Seu caderninho marrom, entretanto, sempre em mãos, sempre a postos, enquanto criança. Na sala de aula, metia-se em devaneios, abstraia-se; passado algum tempo, abria o caderno e rabiscava segredos e mistérios inauditos de sua imaginação infértil. O que se escrevia, no entanto, é uma incógnita. Conta-se, aqueles que passaram os olhos por cima, que se viam rabiscos, traços, linhas curvilíneas que não formavam desenho algum, eram apenas formas abstratas, traços que percorriam e contornavam o vazio do seu pensamento. Outros contam ter visto versos e palavras espalhados por toda a página, não por ideal concretista, mas pela distração da mão que escrevia, da cabeça flutuante, dos olhos perdidos por aí. As palavras, no entanto, não se liam, seja por não se reconhecer a caligrafia, seja por não encontrarem significado; palavras que, se existiam ou não, não se sabe, eram crianças e guardavam escasso vocabulário. Contam que juntava as letras, aleatoriamente, consoantes e consoantes, cadeias de vogais, não importava, de modo que não formavam palavra alguma, nem fonema, nada que se pudesse ler em voz alta. Mas podiam jurar que, por trás daquelas incógnitas palavras, ressoava a história do universo, uma história inaudita, fantástica, infinita, e só aquele que se despojasse das bitolas e das limitações da nossa língua conseguiria proferir tais palavras. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A história que aqui se narra também não se pode contar, a menos que aceitemos suas incontornáveis limitações, porque não tem fim nem começo, ao contrário do que indica o ponto final. As palavras parecem ter o incrível dom de reverberar para além das páginas, se reformulando e dando novos desdobramentos à história. Mas nosso inigualável herói, Renato Sereno, prazer, é bom apresentá-lo devidamente, é só um ponto na História do homem, é um trajeto circular e, portanto, um caminho que parte de lugar algum a nenhum lugar, uma paisagem que se repete, ou não se move. Renato Sereno é uma projeção cinematográfica, um rolo posto para girar eternamente na moviola e cujas extremidades foram coladas entre si. Como no cinema primeiro, a fascinação pelo movimento sutil das coisas, pela projeção e reprodução do tempo. Renato Sereno não faz parte de um tempo que se repete, mas um tempo que se desloca do tempo dos homens e se torna eterno pela infinitude do círculo. Tal história fantástica não poderia ser contada porque a necessidade a dispensa e porque a língua não a compreende. Seriam necessárias as palavras inventadas pelo próprio Renato Sereno para contarmos sua história, de onde se conclui que só ele poderia contá-la e, para isso, seria preciso que ele mesmo se inventasse, como uma mão que se escreve, uma compressão enérgica, uma implosão do universo, um big bang humano, ou de palavras. E é bom advertir: não se pode acreditar na história de Renato Sereno, porque ela só se sustenta através das palavras, que, no entanto, são frágeis e limitadas, faltam com a verdade e invalidam, por conseguinte, o que elas mesmas contam. Portanto, não se pode acreditar nas palavras, mas no que elas se desdobram nos olhos de quem lê, no que reverbera, no que cresce na alma. Esta história se escreve por si só, é Renato Sereno quem a escreve, as palavras irrompem e não há quem me desminta minha própria história. <span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não se pode contar a história de Renato Sereno porque sua história é a história das coisas, de sua geometria, de sua ontologia, do espaço em expansão, da ilusão da perspectiva, da disposição dos objetos no espaço, o que se projeta para os olhos, ou o que é projetado pelos olhos. O que se pode contar de Renato Sereno é que ele descansava na pracinha perto de sua casa e se punha a observar as coisas, intrigando-se com a disposição triangular dos postes espalhados pelo local para se decepcionar logo após concluir a impossibilidade de eclipsar a luz de um deles pelo outro através da perspectiva. Por mais que perambulasse de um lugar a outro, as luzes nunca obstruíam as outras, nunca se alinhavam ao eixo dos dois olhos. Pode-se explicar sua causa através de desenhos e explicações geométricas, pela insuficiência do tamanho de Renato Sereno comparado ao do poste, mas basta dizer, sem deixar de ostentar certo teor filosófico e sem dispensar a matemática e as leis insubstituíveis de Newton, que os dois olhos não eram um só, não ocupavam o mesmo espaço, ainda que partilhassem a mesma cabeça. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E entre as crianças que corriam e brincavam, saltitavam, os gritinhos agudos de choro, de riso ou de raiva, entre as bolinhas de sabão que piruetavam ao sabor do vento, sob as luzes do poste e a lua que nascia no horizonte, amarela, cercada por uma aura dourada, quase mística, e um mar que insistia no seu encontro com as pedras, com a terra, que ressoava um rumor antigo, muito antigo, que vinha desde milhões de anos atrás, Renato sentava na praça, observava os postes, o espírito inerte, os olhos perdidos, devaneados, a carência de curiosidade e a negação de toda poesia que inevitavelmente aludia toda essa paisagem, todas essas imagens. Renato não era poeta, nem poderia sê-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Também não é errado dizer que a história de Renato Sereno pode ser substituída pela história de sua biologia, de sua anatomia, pelo diagnóstico médico e pelo fluxograma. Pode-se falar dos seus batimentos cardíacos, mas não por que e por quem seu coração bate; não se pode falar dos seus sentimentos porque, seja por sua discrição, ou apatia, desconhecemo-los. Seu sangue ferve por uma troca natural de calor com o ambiente, ou porque seu corpo reconhece a invasão de corpos estranhos, mas não porque está com raiva ou nervoso. De Renato Sereno não podemos falar com metáforas. E de seu nome, apenas que seus pais escolheram por obra do acaso, e, como todo bom acaso, não se explica nem se calcula.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O leitor, no intuito de descobrir mais sobre Renato Sereno, vê-se no direito, concedido por mim, é claro, de fazer-lhe algumas perguntas, às quais me antecipo desde já e evito assim, num gesto afoito e pretensioso mas de boa vontade, o incômodo póstumo: </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Religião?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não sei.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não tem religião?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Católico, eu acho. Nunca pensei nisso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Seus pais são católicos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sim. Não praticantes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Acredita em Deus?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Nunca parei pra pensar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O que acha de Deus, do Paraíso, do Juízo Final, da vida após a morte?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Nunca parei pra pensar sobre essas coisas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Na morte, já pensou na morte?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não me lembro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O que acha da morte?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não sei.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Já pensou em suicídio?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O que pensa sobre acabar com a própria vida, com os sofrimentos, com as dores, se antecipar ao destino?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não sei. Parece interessante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O que acha da vida?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não sei se entendo suas perguntas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Viver, o que acha de viver? Andar por aí, ver TV, ter amigos, jogar futebol nos sábados à tarde, se casar com uma mulher, ter filhos, ir à igreja nos domingos, talvez frequentar boates noturnas, ou prostíbulos, acordar todo dia e se olhar no espelho, arrumar um trabalho, sustentar a família... essas coisas. O que pensa disso tudo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Parece cansativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Mas não é mais ou menos assim que você vive seus dias?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Então, o que acha disso?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Renato Sereno se cala, temos a impressão – mas só a impressão – de ter meneado a cabeça, um movimento reticente que confunde o sim pelo não e não sabemos, afinal, o que quis dizer. Não olha nos olhos, hesitamos se devemos avançar. Pelo sim, pelo não, sinto importuná-lo, e digo, como que para concluir, mas procurando avaliar sua resposta para descobrir se devo ou não continuar o arbitrário inquérito:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Você me lembra um personagem de Melville. Bartleby.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não conheço. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Arrisco, por fim:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É um bom livro, posso emprestar a você. Quer?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não gosto de ler.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Calemo-nos. Renato Sereno gostava da matemática, ainda que tivesse muita dificuldade em calcular corretamente os números da equação. Teimava em escrever dois mais dois igual a cinco. Forjou um novo teorema que, não tendo superado o Grande Enigma de Fermat em mistério, confundiu ao menos os colegas de sala e o professor de matemática, que de imediato considerou impossível e o anulou, sem, no entanto, identificar no argumento equacional de Sereno que equívoco o invalidava. Renato Sereno gostava também dos números imaginários, mas nunca soubera aplicá-los.<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">***</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Acorda pela manhã e se rende desde já à cama; sua mãe o chama e avisa que o café está na mesa, escuta a descarga no banheiro, o chuveiro e depois o roçar na escova de dentes, é sua irmã que sempre levanta primeiro; seu pai escarra e cospe, escarra e cospe, espirra, sempre acorda com crises de rinite alérgica; os raios de sol teimam em se infiltrar pelas frestas da cortina; quanto mais se escorre o minuto, mais se torna frequente o ruído de carros e ônibus na rua. Fecha os olhos e, admitindo sua falta de imaginação, supomos que imagina o que virá a seguir; imagina sua mãe na cozinha, olhando distraída vez ou outra o relógio na parede, quebrado, marcando eterna 1h35, o segundo inerte; imagina a pasta e a escova de dente, a água em redemoinho na pia do banheiro, sua irmã na frente do espelho com o eterno pente na mão; imagina o sanduíche na mesa, contempla-se ao mastigar, ao engolir, espera o alimento atravessar o esôfago e imagina um ponto luminoso no seu órgão; seu estômago então ronca, é hora de atendê-lo, mas não ousa mexer um dedo e só o move porque faz disso um desafio contra a preguiça. Contempla-se no espelho e talvez se pergunte o que mudou de ontem para hoje, se virá um dia a surpresa de não se reconhecer no reflexo, ou se um dia se livrará desse hábito narcísico. Vê passar o ônibus na parada distante e, sem olhar o relógio, se descobre atrasado para a aula; tem as mochilas nas costas e se põe a andar, não – nunca – acelera os passos, não tem pressa e faz uma parada na moça do café. Na escola, recebe uma advertência, e ninguém percebe quando um garoto alto e um tanto desengonçado entra na sala, no início da segunda aula, e se senta numa banca qualquer, nem no fundo, nem na frente do quadro, nem no canto da parede, na terceira fileira da segunda coluna de um sistema de coordenadas seis por cinco. Torna-se indistinto entre tantos rostos; desaparece. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Renato Sereno é, portanto, um desconhecido, com todas as questões existenciais a que o termo alude. Mas ele mesmo nunca se importou com a metafísica do termo. Estudou a vida toda numa só escola e, no último ano antes da formatura, seus professores ainda não sabiam seu nome. Comportava-se bem, era discreto e nunca teve sua atenção reclamada, exceto quando um dia seus coleguinhas de sala o acusaram das bolinhas atiradas em direção ao quadro. Solicitado a sair de sala, sempre distraído, não percebeu a picardia dos colegas e cedeu, não como mártir, para tomar a culpa dos outros, mas porque pensava se tratar de um favor para o professor. Dirigiu-se à coordenação, mas como tivesse se esquecido de perguntar do que precisava o homem, não quis voltar por vergonha e se abandonou pelos corredores. Terminada a aula o professor foi à coordenação, não o encontrou, esqueceu-se dele. Nunca mais voltaram a importuná-lo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Certo dia no ônibus, voltava do colégio para casa, era noite. Um congestionamento deixava a avenida intransitável, prolongando sua viagem por cerca de duas horas. No meio do caminho, vários passageiros se levantaram de suas poltronas para sondar pela janela uma tragédia da qual participavam alguns automóveis e umas vítimas. Renato Sereno, naquele mesmo ônibus, sentava-se distraído, enquanto as pessoas se amontoavam ao seu lado e se inclinavam para ver melhor. Chegou em casa e seus pais, preocupados, perguntaram por que a demora. Um congestionamento, respondeu, ah, deve ter sido aquele acidente que deu na televisão. Não sei, respondeu e se sentou na mesa para jantar – Renato Sereno não vira nada.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por vezes, voltando à noite do trabalho para casa, penso em Renato Sereno. Assaltam-me vozes, muitas delas, penso no meu conto, socorre-me meu bloquinho de notas e entre solavancos e tantos me ponho a escrever. Mas as palavras, traiçoeiras, me escapam, escorrem-se pelas mãos como água, ou evaporam e se expandem, ou porque são muitas, ou porque querem dizer muita coisa ao mesmo tempo. Dispenso o bloquinho e me ponho a observar a cidade pela janela, tento imaginar Renato Sereno, naquele mesmo ônibus, os olhos devaneados, perdidos, a cidade através dos seus olhos, o rio sob a ponte, as luzes e os pontos luminosos ao longe numa dança serena entre galhos de árvores, entre frestas e janelas; os ruídos dos carros, o rangir do ônibus, a moça ou o rapaz da vez que senta ao seu lado e parte, sem percebê-lo, nem vice-versa; e a noite que se estende ao infinito, como se estende ao infinito a distância que tento percorrer para alcançar Renato Sereno. Conto para mim essa mesma história, esse mesmo devaneio e tento imaginar o que imaginava aquele jovem rapaz indistinto, o que o incomodava, o que se escondia naquela alma misteriosa, naqueles olhos serenos, nos seus lábios surdos. De imediato cesso minha imaginação, que me escapa como pensamento, por medo de ultrapassar o que eu mesmo delimitei como fronteira entre mim e Renato Sereno. É-me inconcebível agredir tão puros pensamentos, confundi-los, torná-los meus, trazê-los à tona de um passado alheio para um agora só meu. Limito-me ao reflexo nos seus olhos, às coisas que resplandeciam em sua pupila e escapavam para contar a outros o que parecia ver. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas quando falamos de alguém, sempre tomamos um pouco dela para nós, ao mesmo tempo em que nos tornamos um pouco dela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nunca tive muitos amigos, e não se pode dizer que Renato Sereno foi um deles, mas me agradava sua companhia. Era como um relógio vagabundo quebrado no seu pulso. Costumava encontrá-lo no café na praça perto de onde trabalhávamos. Sentava sozinho, numa das mesas, até que nos conhecemos, graças a um desses acasos imemoráveis. Eu, tímido, e Renato, calado. Não tínhamos nada a dizer um para o outro e ainda assim sentávamos juntos; eu, com meu cigarro, Renato, sorvendo o café, olhos devaneados, perdidos. Uma ou outra pergunta sobre o tempo, a notícia do dia, a última partida de futebol. Renato se interessava por futebol; tinha o jornal sempre aberto na página de esportes. Não tinha time, mas sabia da situação de cada um, de todos os resultados, de todos os próximos jogos, da última contratação. Partilhava suas informações numa cartilha, copiava uns números, resultados de jogos, datas, coisas que eu não compreendia e não me interessavam, já que nunca gostei de futebol e só comentava por falta de assunto, ou porque muito escutava por aí. Nos últimos anos, ficávamos calados, nenhuma palavra, Renato com seu café, eu com meu cigarro; abria o jornal, fechava, deixava na mesa e voltava ao café. Despediamo-nos e partíamos em rumos diferentes. Cheguei a visitá-lo em casa, algumas vezes, e o encontrava com baralho na mesa, as cartas espalhadas, e um silêncio que anuviava a alma. Jogava Paciência e não se interessava por computadores. Às vezes, encontrava uma mesinha de madeira armada, um tabuleiro com peças de xadrez dispostas cada uma na sua casa, e um só banquinho, no qual, supunha, Renato sentava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lembro um dia, enquanto fumava no café, esperando sem esperar, pois não marcávamos nada, apenas nos esbarrávamos na mesma hora, Renato vinha debaixo de uma chuva fininha mas insistente, os passos apressados, esquivando-se dos carros, os óculos polvilhados de gotas minúsculas e, debaixo do braço, o guarda-chuva fechado; vinha curvado, protegia o jornal e sua agenda, atravessou a rua e, ao seu lado, a avenida num congestionamento que se estendia além de onde a vista permitia. Lembro vagamente de sua silhueta frágil em meio àquela paisagem cinza e nervosa, as nuvens acima num só clarão, frágeis, esbranquiçadas, que os raios de sol tentavam à força atravessar. Sentado na minha mesa, vi Renato entrar, todo molhado, apesar da chuva fraca, as mechas de cabelo coladas no rosto, enquanto lhe escorriam pequenas gotas de água. Aproximou-se, me cumprimentando, escanteou o guarda-chuva no canto da parede, em cima da mesa, depois sua agenda e o jornal, e se sentou. Com papel guardanapo enxugou as poucas gotas do guarda-chuva, depois o rosto, mas se decidiu por levantar e ir ao banheiro. Achei graça, mas não percebeu; não comentei nada. Conversamos sobre política, o placar da última partida, a desclassificação da seleção brasileira na Copa America, o não cumprimento da nova lei que proibia a cobrança de estacionamentos, minhas dores nas costas, meu casamento recém-acabado (sobre o que falei pouco), mas nunca perguntei por que se deixou molhar todo, se tinha debaixo dos braços um guarda chuva em bom aspecto. Em silêncio, como sempre acontecia no final dos nossos encontros diários, ou como quase sempre acontecia durante todo o encontro, pois raramente falávamos, ou falávamos esporadicamente, deixei que escrevesse em sua agenda, fizesse suas anotações numéricas na cartilha, enquanto eu fumava o sexto ou sétimo cigarro. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um dia, enquanto nos estendíamos um diante do outro na mesma mesa de sempre, Renato Sereno bebericava o café e rabiscava sua cartilha, fazia contas, eu fumava o cigarro, perguntei, a propósito de não sei que notícia do jornal,</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- acredita que se pode prever as coisas através dos números, do mesmo jeito que se pode calcular uma equação?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E respondeu, com inalienável humildade, mas não sem certo mistério e sabedoria:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Talvez. Se conseguirmos prever a variação dos termos, as variantes, estabelecer coeficientes etc; mas isso nos levaria a outra equação. É como tentar encontrar a posição exata do elétron no átomo num determinado instante. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lembro desse dia depois do café. Eram dias de chuva, e as palavras faltavam não por escassez de assunto, mas por reverência ao silêncio e à paisagem. Seu guarda-chuva no braço, dessa vez Renato não estava molhado como no outro episódio quando chegara encharcado em posse do mesmo guarda-chuva. Acho que dessa vez não tomamos rumos diferentes assim que saímos do café porque atravessamos juntos a avenida congestionada. Não sei aonde poderíamos ter ido, mas depois que atravessamos não devemos ter continuado lado a lado por muito tempo. Eu tinha acabado de jogar fora um cigarro e já buscava outro na carteira no meu bolso. Renato nem se importava. Perguntei, com alguma coisa de boa educação, se aceitava um e respondeu que não, obrigado. Acho que voltávamos pra casa, não tínhamos outro lugar pra ir, eu e ele. Andava com seus passos quase involuntários, conduzidos mais pela necessidade de locomoção que por vontade própria, função primeira dos órgãos locomotores dos heterótrofos, e não ia em busca de qualquer objetivo essencial, só a solidão de sua casa, a luz tênue do fim da tarde e talvez a televisão ou o som de fora, a chuva, os carros, as crianças, os primeiros bêbados, que lembravam um mundo maior e mais rigoroso. Renato e eu esperávamos para atravessar a avenida. Lembro que desviávamos das poças de lama. Fazia algum tempo que chovia sem parar, não lembrava a última vez que vira o sol. Chovia, estiava, mas as nuvens condensadas, plúmbeas, não se dispersavam. Escurecia no fim da tarde e as nuvens tornavam-se rosadas, e o dia parecia claustrofóbico. Não sentíamos frio, no entanto. Renato era friorento, mas o vento não corria pelos espaços abertos e interstícios entre prédios. Um grupo de jovens amigos compunha a fila única de um cinema sobrevivente do bairro, não lembro o filme, mas fazia parte do que chamavam sessão de arte. Não havia pipoca. Admitimos sempre um abismo entre gerações a partir de pequenos detalhes, mas meu tempo e o tempo deles se encontravam neste ponto: não comíamos pipoca no cinema. Eu fumava e o cigarro entre os dedos se consumia e se servia de metáfora da minha existência. Ao lado de Sereno, esse ser inerte e quase irreal, essa projeção incólume, esse fantasma, e dentro dessa paisagem cinzenta e metafísica, apesar dos objetivismos, eu me sentia desesperado, talvez porque soubesse voltar sozinho para casa e não encontrar ninguém, nem minha mulher, nem meus filhos, nem minhas lembranças felizes, nem os livros lidos. Renato, eu acho, não se importava, talvez não soubesse lidar bem com isso, mas não se importava. Era um bom amigo, talvez, mas talvez não se importasse devidamente. Carecia de curiosidade. Aqueles olhos perdidos, devaneados. Seu guarda-chuva, seu jornal, sua pasta de couro que guardava sua agenda e sua cartilha e outros papéis concernentes ao trabalho. As pessoas ao nosso redor, o grupo de jovens e seus sorrisos, os casais de namorados, mas não só a nostalgia de um tempo semelhante que já me pertenceu, mas as crianças nos braços da mãe, os solitários e as sacolas de compras, as senhoras desgastadas, as lanchonetes, as televisões ligadas, os mundos que não me pertenciam, que não tinham nada a ver comigo, mas que eu sabia que existiam. Mas nada disso importa, tento apenas enfeitar a imagem, preencher lacunas, colorir e redefinir detalhes; corro o risco do excesso, mas é de pouco que se faz muito. O que importa é que, enquanto acendia um novo cigarro, esperando o sinal fechar para atravessarmos, não sei por que mas me dei conta pela primeira vez de que Renato nunca perguntou por que eu fumava, por que sempre fumei, desde que o conhecia, desde antes, muito antes, desde antes do casamento, na minha adolescência corriqueira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Começo a me confundir com Sereno; começo a confundir meus passos aos deles. Depois do fim, quando finalmente desapareceu, passei solitário minhas tardes disponíveis no café. Quando tirei férias, decidi procurar por Renato, caminhar sobre sua história, seu passado. Fui a sua cidade natal, pois não era daqui. Não sei como nos conhecemos, não sei a que acaso se deve. Renato Sereno não fazia as coisas acontecerem, ele não movia as peças, e, talvez por uma tendência newtoniana das coisas em permanecer em repouso, as coisas dificilmente aconteciam a ele. Mas, um dia, graças a um desses acasos extraordinários que fariam um sorteado na loteria, ou um mergulhador encontrar uma das caixas de chá atiradas ao mar durante o episódio da <i style="">Boston Tea Party</i>, e que eu mal percebi, Renato Sereno e eu nos conhecemos. Não descobri muito sobre ele, só o que me contou vagamente, com parcos detalhes, concedendo pouco ou nenhum interesse, e sempre se desviando do assunto, quando simplesmente não se calava para evitar mais perguntas. Eu não insistia, as perguntas se faziam não por curiosidade, mas pela lógica da conversa, sei lá, pela boa educação; eram perguntas também muito vagas, que não demonstravam qualquer interesse no assunto a que se referiam. Soube que seus pais também desapareceram, deixaram de existir. De modo que boa parte de minha investigação se deu à imaginação e às minhas próprias lembranças. Comecei a agir como Renato Sereno, não me interessava falar, agir, fazer; me olhava no espelho e reconhecia Renato. Não era um rosto ao qual estava habituado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Renato falava de uma vaga lembrança que vez ou outra o afligia nos sonhos e no pensamento. Encerrado no banheiro, num silêncio que o isolava de todas as formas da rotina, e ainda assim dentro dela, o banheiro como capsula de preparação, a pasta de dente e a escova derrubadas na pia, enquanto sua mãe provavelmente descia o prédio com o cachorro, hesitava se devia ou não acender a luz, tomar banho e acabar de vez com a indolência de seu corpo. Lembra-se de tudo isso muito vagamente, e sua incerteza só não o desmentiu porque todos os dias se repetiam assim na moviola eterna de sua vida. Era uma lembrança falha: contemplava-se no espelho, num dia como qualquer outro, e pensou ter reconhecido no reflexo o rosto de alguém de quem não conseguia se lembrar. E agora, com freqüência, a lembrança o assaltava e insistia em moldar aquele rosto desconhecido ao meu. Na época, não devo ter dado muita atenção, mas hoje, diante das circunstâncias, penso nisso com freqüência. Muito me intriga.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Assaltam-me imagens de Renato Sereno, com seus óculos e sua agenda, o jornal debaixo do braço, no silêncio do ato de pagar a passagem no ônibus, entre os rangidos dos automóveis, na sua chegada silenciosa no café, no seu escritório silencioso, sua presença que não demovia a solidão, mas a exponenciava, sua presença fugidia, seu andar descompromissado, seu silêncio confortável, jamais ameaçador, que não constringia, que não limitava, sua ausência de discurso. E penso em quando pronunciava os restos de palavras que na verdade fugiam de sua boca. Era como um relógio quebrado, um ponteiro numa hora indecifrável entre 1 e 12 que não fosse nenhum dos números do relógio, que não era nenhuma hora, mas o instante eterno. Renato Sereno aceitou viver como se aceita uma dessas canetinhas que oferecem os ambulantes nos ônibus, “sem compromisso”, a indiferença no ato de pagar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em suas últimas aparições em público – viam-no entre as ruas tumultuadas do centro da cidade –, era visto com sacolas nas mãos, caminhando no mesmo compasso de sempre, olhos devaneados, perdidos, cabelo desgrenhado, andar desengonçado, e muitos partilham o mesmo depoimento: parecia desvanecer, não tinha aparência frágil, sua palidez era incomum, a pele quase translúcida, fantasmal, muitos tiveram a impressão de enxergar o trajeto da luz através de seu corpo. Sua presença sempre se fez nula, sempre negou qualquer protagonismo, nunca se importou em ganhar o jogo, nunca se importou ao menos em tentar jogá-lo. Contei uma história impossível às palavras, irredutível a elas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Renato Sereno. Irredutível à palavra. Poderia descrevê-lo, descrever suas ações, adivinhar-lhe pensamentos, ou acrescentar, inventar. O infinito, a aterradora ideia do infinito. Mas o infinito se reduz à palavra e muitas vezes parece inofensivo. Da minha parte, sempre senti um vago incômodo na impossibilidade de apreendê-lo, de imaginá-lo. A cabeça se confunde. Mas Renato Sereno é essa vaga ideia, esse vago momento que expande os espaços e todas as coisas. Esse relógio quebrado. Aqui está escrita e ainda se escreve e muitas vezes voltará a se escrever a história de Renato Sereno, que precisou se inventar, se escrever por si só, como uma mão que se desenha a si própria. Aqui jaz. Não há quem me desminta minha própria história. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: right;" align="right"><i style="">Renato Sereno,<br /><span style=""> </span>outubro 2011.</i></p>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-14874718135080396092011-01-10T20:41:00.000-08:002011-01-27T23:51:56.011-08:00As poesias que não escrevi<!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Faz muito tempo que não escrevo poesia. As razões, suponho, calculo, vasculho, são tantas e nenhuma, tenho apenas uma noção vaga dos motivos específicos, mas a verdade é que as desconheço. Parece que a inspiração, às vezes lampejante em todo seu vigor, não falta, mas as palavras cessam na ponta dos dedos, se escasseiam, e penso envergonhado que não tenho muito a dizer. Quantas palavras, quantos versos desperdiçados em uma poesia que não deu certo, que não soou bem ao se reler? Me pergunto quantas pessoas morreram por não conseguir escrever poesia, por ter perdido subitamente a capacidade de escrever e não ter suportado o resto dos dias numa vida permeada de grandes desejos e grandes sentimentos, de amores e de improváveis acasos, ou de serenidade e paz, e não poder relembrá-los através das palavras. Não descarto a possibilidade de me tornar insensível a tudo isso, uma vida enrijecida pela indisposição das palavras, uma vida cujos principais momentos impressos na memória se desbotam, se apagam, embaçadas por uma névoa branca que invade e cerca os detalhes de cada imagem, a névoa imperdoável do tempo, tudo porque as palavras me faltam, e, aqueles momentos, não posso relembrá-los. Alguns versos surgem por vezes num lampejo, carregando o sentimento intenso do instante pregnante, mas se tornam logo vagos, frágeis, esmorecem por não se completarem em outros versos. E a vida torna-se enrijecida por não poder reviver tais momentos, senti-los novamente através das palavras, aquelas palavras que despertam com toda intensidade a memória distorcida pelo tempo, mas que, essencialmente, recuperam as sensações do instante. Lamento não ter palavras para acioná-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ela me ligou ontem à tarde, na hora crepuscular, a preferida dos poetas, o céu esmaecia entre os prédios, o azul refluía pelo horizonte e o negro da noite se aproximava, eu na varanda desatento aos aviões, livro no colo, palavras em redemoinho, a paisagem, a mesma de sempre, de polígonos, quadrados e retângulos de cores frias e alguns pontos luminosos espalhados pela rua, os postes já se encontravam acesos, e o deslizar das rodas no asfalto, o zumbido que ecoava melancólico nos meus ouvidos seis andares acima do chão. Quando o celular tocou, batia o sono, e as palavras já brincavam afoitas diante dos olhos, embaralhavam-se, confundindo-os, criando novas imagens, situações diversas e arbitrárias, que não correspondiam às linhas escritas no livro. Eu despertei, vi seu nome no visor, atendi, oi tudo bom, tudo bem e você, te atrapalhei, não, ó tô te chamando pra irmos à praia mais tarde pode ser ou vai tá ocupado, pô tudo bem posso ir, massa, só nós dois, não o pessoal do curso tá indo, tudo bem, então tá tchau tchau, tchau, até mais, ela desligou primeiro, o celular na minha mão, encostado no ouvido, calado como se todas as palavras que eu queria ouvir tivessem cessado no último instante, ou se desviado por outra linha e se perdido para sempre no labirinto infinito das linhas telefônicas, no infinito ionosférico. Um vago desejo de não-sei-o-quê, uma vontade de me exaurir – de me descarregar, sim, eu precisava –, se apossou de mim e pensei, por um instante, em jogar pela varanda o celular. Mas tudo isso se passou em um ou dois segundos, e eu poderia jogar tinta no quadro, algumas cores frias, escurecê-las no preto e no azul-escuro e pincelá-las, besuntar a tela e dizer que era a imagem de um garoto com um celular no ouvido, livro no colo, sentado na cadeira da varanda diante do mundo. Diante da noite, que agora engolia tudo, e eu já não podia ler aquelas palavras negras nas páginas friamente azuladas de um livro vermelho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Risos, piadinhas, boas conversas, risos. Caminhávamos à beira mar, quando, no horizonte distante, onde não se distinguia a linha que dividia o céu do mar, vimos a lua nascer atrasada, ainda que dissesse radiante boa noite, alaranjada como se o sangue fervesse dentro dela. No início, não a reconheci – e ela jamais me perdoou –, chamei a atenção dos meus amigos para aquela bola disforme que crescia lentamente, como uma explosão de filme hollywoodiano, como a explosão de uma bomba atômica que cresce no horizonte diante dos seus olhos e você já não tem tanta esperança, mas nós tínhamos porque era uma noite linda e agradável e nos diluíamos no ar frio que o vento trazia do mar. O que é aquilo, ela atenta à bola por entre nuvens que não se distinguiam como nuvens, apenas umas névoas que borravam todo aquele alaranjado, não sei, nossa que coisa estranha, e nenhum de nós conseguia identificar, e isso me lembrou o dia em que estávamos na casa de um amigo, na piscina que ficava na cobertura do prédio – muito, muito acima do chão – quando no céu, muito além dos prédios da cidade, em qualquer parte arbitrária que não fosse extremidade, surgiu de dentro de uma nuvem um brilho inesperado, como quando riscamos um fósforo, que atingiu seu ponto mais intenso e se reduziu a uma luzinha mínima de avião, e só então pudemos identificar aquela luz misteriosa, quando eu já de boca aberta revisava minha crença em relação a seres alienígenas e discos voadores e milagres cientificamente inexplicáveis e improváveis. Restituídos de nossa surpresa, começamos a palpitar, e mal entramos em consenso, é a lua, ela já se elevava imponente e solene, inalcançável no horizonte, acima do mar, coisa linda, obrigado Deus por uma lua maravilhosa, por uma noite linda como essa, mas você não acredita em Deus, isso não quer dizer que Ele não possa nos presentear com um espetáculo desses, e nós rimos e apreciamos aqueles minutos poéticos que transcorriam estranhamente rápidos demais e só poderíamos restituí-los através da memória. E eu não me afligia por isso, pois sabia que, diante de tamanha beleza, a memória só poderia potencializá-la, e eu guardaria aquela imagem, aquele momento, por muito tempo, até que, esclerosado, só me restasse isso dos tempos lúcidos da minha vida. Por um momento, tive vontade de perscrutar o rosto dela em sua admiração, se seus olhos brilhavam, mas o espetáculo já fechava suas cortinas, e eu só podia vê-la recuperando-se de suas emoções. Talvez estivesse tão surpresa quanto eu, mas aqueles momentos em que nos precipitamos em admirar um mistério que se desvendaria com o tempo, esses momentos são os que permanecem, os que guardamos para contar por aí sobre aquele possível milagre, mas que talvez não soasse tão surpreendente, tão esplêndido quanto nossa impressão inicial. Em mim, aquilo, sempre que me recordasse, causaria uma impressão semelhante à inicial, arrebatadora, ou ao menos a sensação de que presenciei um milagre enquanto fui ignorante, acreditaria nisso porque acredito que a vida é feita de instantes e que esses instantes perduram para sempre em nós, em todos os próximos instantes, e mesmo que se explique o fenômeno, o sentimento daquele instante ficará impresso para sempre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>Andamos até a pracinha e lá nos acomodamos no meio da grama. Sentimos o vento no rosto, o esvoaçar dos cabelos, e toda a poesia de um momento como esses, com suas piadinhas e nossas conversas evasivas. Uma cena me chamou atenção, quando sentamos na arquibancada da pracinha, e me tornei a ela com vaga curiosidade, nenhuma pretensão, e até mesmo com uma vaga consciência da atenção que eu concedia. Era um gatinho, mínimo ser, acuado sob um mínimo pedaço de chão que ocupava no meio da praça, entre pés e pernas que passavam e as chances de ser pisoteado e reagir segundo o instinto em seu estágio mais primitivo. Entretido ou amedrontado, não parava de lamber qualquer coisa no chão, e não olhava para cima, para aqueles gigantes, de jeito nenhum. Seu comportamento o denunciava, sua atitude impensada, inconseqüente, e ninguém o percebia. Quase me detive a acompanhá-lo pelo resto da noite, abstraído, quando fomos embora, para fumar nosso baseado longe de testemunhas. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nessa madrugada, na outra, hoje, talvez um dia qualquer, ponderei comigo mesmo, em minha cama, antes de dormir, se minha infância não estaria desaparecendo. Talvez sim, talvez aquelas cores e aquelas imagens de outrora desbotassem, ou se perdessem por aí, se escondessem no recôndito da memória até que um dia, quando velho e não vivesse mais a intensidade dos instantes, apenas das recordações, pudesse vasculhar nela os resquícios de uma criança que já fora eu. Mas hoje penso na infância sem aquela nostalgia romântica que permeia os livros de recordações; só acho curioso como algumas coisas perduram. Se há uma cor que definiu a paisagem na minha infância, essa cor é aquela do final da tarde, quando a noite se aproxima, quando o céu desbota e há um silêncio que destoa da música de todas as outras horas, aquelas horas do dia preferidas dos poetas e que correspondem às melhores metáforas. E o ventilador girando na minha cara, enquanto fingia que pensava, mas apenas me deitava e escutava os sons da rua ou a musiquinha do vídeo game que quase nunca jogava. É preciso concordar, há um certo prazer em recordar, faz-me desaparecer, já que, distante do passado, apenas o observo e, no presente, não vivo, inexisto. É como se me destacasse do mundo ainda estando nele, ou melhor, é como se fizesse parte dele, em seu tempo de tempos imemoriais, inconcebíveis para nossa contemporaneidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Naqueles tempos, escrevia poesia e nem sabia. Fazia versos sobre coisas específicas e banais, carros a 100km/h, rodas de bicicletas, pássaros e árvores, sobre a rua onde eu morava, a única rua de terra dentre as quatro paralelas, que descia em direção à linha do trem, enquanto a avenida perpendicular a ela passava acima, bem asfaltada, e as casas pareciam prestes a serem tragadas para debaixo da terra, e eu, voltando da escola, caminhava até o meio da rua para descer solenemente como um superherói em <i style="">slowmotion</i> numa cena caótica onde ao fundo tudo explode e as construções desabam, e contava histórias, também em versos, dos meus personagens favoritos, meus fantasiosos heróis coadjuvantes, nunca centrais, pois minha inocente humildade de criança não se importava em competir pelo mais forte, pelo protagonista. Com meu escasso vocabulário, procurava a rima perfeitinha e quase não importava a concisão; desconstruía toda a oração em busca dela – fazia hipérbatos e nem sabia – e até às preposições era permitido o final do verso. E quantos versos não gastei dedicados às minhas paixões semanais? É engraçado, e parece exagero,<span style=""> </span>sim, não é bem verdade, me apaixonei pouco quando criança – ainda lembro o nome de todas elas – mas tive um amigo que se apaixonava com uma freqüência inacreditável, e tinha uma aptidão para a dor do amor romântico que, com certeza, demandou mais versos que os que escrevi para minhas paixonites. Sempre achei que se tornaria poeta. Quantos amores não desperdicei, quantas hipérboles e clichês não usei, e o tempo que perdi, frustrado, impaciente como um poeta decadente, à procura da rima perfeitinha? Se me encontro diante da mesa, caneta na mão, papel estendido, penso que um dia fui poeta, uma criança poeta, e me surpreendo com aquelas palavras que surgiam da minha inocência e honestidade. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um dia perdi todas as poesias que escrevi enquanto consciente. Impossível recuperá-las, talvez minha aptidão para a poesia tivesse sumido com aquelas poesias. Perdi a vontade, passei muito tempo escrevendo pornografia nas bancas da sala de aula, em homenagem aos alunos do colégio. Talvez tenha sido minha primeira tentativa de divulgar meus textos; eu não os assumia, escrevia-os no anonimato e eles se tornavam públicos como as frases subversivas nas portas dos banheiros. Eu não me importava, mas me sentia orgulhoso quando ouvia comentários a cerca deles. Além do mais, eu conservava o nome real de todas as pessoas a quem dedicava minhas fantasias sexuais. Ouvi chamarem o autor daqueles textos de pervertido muitas vezes, mas eu nunca quis ser apelativo: todas as minhas palavras eram sinceras em seus desejos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por que, se escrevia tanto naquelas bancas, não conseguia escrever poesias? Devo ter feito algumas tentativas, em minhas viagens de ônibus, ir para o colégio, voltar pra casa, comecei a me sentir à deriva daquele cotidiano, ainda que estivesse muito bem inserido nele. Deixava-me levar e talvez isso tivesse me acomodado. Não, chega de tentar investigar a origem do meu bloqueio criativo no âmbito da poesia. Sim, tentei muitas vezes escrever poesia, arrancava páginas do caderno, derramava algumas palavras, conseguia alguns versos, mas talvez não me sentisse satisfeito. Comecei a escrever poesias para depositar em ônibus, amaçava o papel, fazia uma bolinha e jogava por aí, ou simplesmente deixava a folha aberta descansando na poltrona. Um poeta anônimo, frequentador de ônibus, despretensioso, quem seria, quem poderia ser, seria algum movimento, algum manifesto para divulgar novos talentos, ou simplesmente para recuperar a vontade de ler, era apenas um estudante adolescente em crise de criatividade, acomodado, perdido entre os estudos e entre as indecisões dessa fase da vida. A verdade é que eu não pretendia decidir nada, nem estava em crise existencial, só uma vaga angústia de se sentir vivo em meio à indisposição das palavras. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Comecei a me desfazer em palavras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Às vezes, à noite, numa dessas noites em que pondero comigo a vida, sou assaltado por uma inspiração e um impulso de escrever. Cautelosamente, no escuro, tateio com a mão a cabeceira, encontro carteira, chave, e outros objetos que costumo depositar lá e, finalmente, acho a caneta. Com cuidado, trago até mim e escrevo na outra mão o que andei pensando; tento ser o mais sintético possível, escrever de modo que no outro dia, quando acordar, consiga me lembrar de tudo que pensei. Escrevo na mão, sem enxergar, e as palavras são imprecisas, por vezes se atropelam. Às vezes, me levanto e vou até o computador, que está sempre ligado e eu só preciso ligar o monitor. Abro o bloco de notas e me ponho a escrever. É claro que as palavras, aquelas nas quais estive pensando durante o tempo de vigília, se perdem, mas o que me preocupa mesmo são as ideias principais. Tantas vezes me levantei pra escrever aqueles versos que surgem num lampejo, aquelas palavras que parecem se concatenar e se envolver umas com as outras de modo que produzam sensações, e tantas vezes me decepcionei ao visualizá-las no monitor, tendo que voltar frustrado à cama. Ou no outro dia, quando tinha escrito na mão a ideia que desencadearia todo o texto, e ao tentar desenvolvê-lo, as palavras se tornam escassas, não as encontro, a ideia não me parece mais tão boa, tão interessante quanto imaginava, e as palavras me traem, talvez me traiam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Me pergunto se voltei a escrever poesia depois dessas tentativas. Talvez não devesse reler o que escrevo, é como se as palavras tivessem validade para mim, perdessem o vigor, e lentamente perdessem o sentido e a verdade, desvanecessem. Lembro daquela tarde em que ficamos calados, sentados na sombra daqueles coqueiros, diante do mar, quando nossos amigos mergulhavam e nossos pecados nos constrangiam; fumávamos e isso era a única coisa que nos ligava, compartilhar o isqueiro, e eu remexia na mochila, sem saber se pegava o livro para me distrair, ou o caderno para escrever os pensamentos e os desejos reprimidos, mesmo sabendo com certeza que, na hora em que derramasse a tinta da caneta na página, as palavras escasseariam. O silêncio se prolongou e nossos amigos voltaram, conversamos e rimos enquanto voltávamos pra casa, e você caminhou de costas, brincando com suas pegadas, invertendo a lógica das ações, como se assim voltássemos no tempo, como se, ao invés de voltarmos pra casa, as pegadas simplesmente fossem para debaixo daqueles coqueiros. E enquanto as pegadas dele voltavam, as minhas continuavam em frente, e assim nos desencontramos para sempre, pois as antigas pegadas que nos levaram ali foram inevitavelmente apagadas tanto pelo tempo quanto pelas águas do mar. E agora as palavras rememoram o que se passou, e parece que elas se escrevem por si só, como se se inventassem, como se se reinventassem. E sobre o tempo o que é que se pode dizer? Em quantos minutos depois um momento pode se transformar em passado, em memória? Quando, pensando bem, as coisas se transfiguram ou se esclarecem e aí percebemos o que aconteceu? Quando, naquele momento, sentados debaixo daqueles coqueiros, eu passei meu caderno de anotações e ele leu algumas palavras, e leu exatamente estas palavras que acabei de escrever, as confissões derramadas nestas páginas. E ele me passou de volta e eu li no seu rosto estas palavras e por isso eu as escrevo. E torço para que elas não tenham perdido sua magia. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Então... e se as palavras se perdem, desvanecem, então continuarei escrevendo, sem parar, para sempre, como os dias em que passamos juntos e a música tocava 16 horas por dia e parecia nunca acabar e não queríamos que acabasse. Não para, eu digo, e escrevo, sem parar, como o tempo que passa, o tempo que não para, e continuo escrevendo, enquanto o tempo transforma o presente em passado, e assim vou rememorando. Antes que elas me decepcionem. Vontade de desistir. Vou pra cama, lá as coisas deixam de existir. E assim acordo, tentado a escrever, ao mesmo tempo frustrado, exausto, e me deixo engolir pela cama, deixo meu corpo ser tragado pelo colchão, me afundar nas profundezas dos meus próprios sonhos derramados ali. E os dias se passam até que nós nos encontramos de novo, mas ele sempre em outro tempo, eu com ela, descansados da praia, ao redor nossos amigos, e nós estamos ansiosos para aproveitar a noite, porque a noite é uma criança devassa, e todos os espíritos libertinos começam a se exaltar. E eu penso quando poderei transformar isso em poesia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tenho lido tantos livros; cada um deles se torna um pouco de mim, cada um deles é uma experiência. Mas penetrar em seu universo, tentar desvendar seu mistério – é um absurdo. Quantas páginas não fechei, desnorteado, porque trouxe comigo mais uma experiência misteriosa, e porque me deixei absorver pelo seu mundo, apesar de não conseguir desvendá-lo completamente e por isso me senti um tanto quanto frustrado? Comecei a sentir cada vez mais que devia abandoná-los, deixar de ler, pois o mundo real é demasiado misterioso e complexo por si só. Mas é um erro, fugir é apenas uma solução fácil; deixei de tentar compreendê-los para senti-los, ou melhor, observá-los, deixar pairar meus olhos diante das palavras sem julgá-las, sem racionalizar mesmo o absurdo e a fantasia de suas situações. Tanto li Cortázar. E são tantos mundos que a mim se apresentam, já não me perturbo em desvendá-los, em compreendê-los, o mistério torna-se parte de sua natureza e de mim, e eu simplesmente os vivencio como o faço em meu próprio mundo, este que se apresenta diante de mim no fluxo do cotidiano, em seus milagres e mistérios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enquanto leio todos esses livros e me encontro num cantinho dentro deles, enquanto percebo meu mundo através deles, quando não faço parte de sua intensidade, de sua concretude, quando simplesmente observo, todos esses séculos que se derramam no nosso tempo – mas que tempo? – e tudo aparece num único instante, deixo-me pairar, abstraio-me, destoando diante da rapidez das coisas, e, então, sinto-me tornar cor. E quando, dentro do ônibus, à noite, percorro o caminho de volta a minha casa, e a cidade passa diante da janela, e eu tiro meus óculos e as luzes se expandem, e todas as coisas tornam-se embaçadas, se fundem, são apenas cores, a ansiedade desaparece, e nem a memória nem as expectativas resistem ao instante, e eu finalmente quase me esqueço de pensar. Minha mão, pela janela, acaricia o vento e parece flutuar, surfar em suas rajadas, parece autônoma, meus membros se fragmentam e, afinal, quase não existo. E tudo isso quase se torna poesia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cada vez mais me torno cor da cidade, não uma cor glamorosa, vivaz, que se distingue, mas uma cor que se matiza, que se esbate na monocromia da paisagem, do cotidiano; cada vez me vejo através de mim mesmo, abstraio-me, e me torno cor sob a luz e me apago no escuro. As lembranças se perdem por aí, os fantasmas se projetam no espaço, enquanto eu vivo os instantes, por minha juventude impensada e inconsequente e ansiosa. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O tempo – que tempo? – que atravessou séculos e que desemboca no nosso mundo contemporâneo, arrastando sua multiplicidade de informações, de culturas, de poesias. Em nosso tempo, o que podemos dizer, se todos podem dizer alguma coisa, se todos descobriram que podem escrever poesia, mesmo que não o façam em códigos verbais? Para que poeta em tempos de penúria, perguntou Holderlin, e para que, então, poetas em tempos de exuberância quando todos se sabem poetas, eu pergunto. Quando as informações não cessam e as palavras, jamais, e todos podem se pronunciar, porque sabemos que tudo é poesia, até os pós-modernos. E nossos próprios olhos nos confundem e tudo que precisamos fazer é redescobrir, é ver de novo e atribuir significados. Parei de escrever poesia por incapacidade, porque meus sentimentos estão de tal formas mesclados, felicidade e tristeza tornaram-se indissociáveis no espaço-tempo, que não conseguiria distinguir as palavras e suas acepções das minhas próprias sensações. Parei de escrever poesia e não tentei mais, jamais como ato de protesto, mas porque poesia não é palavra, apesar das atribuições românticas e sentimentais de nós (nós, por que não?), jovens poetas, jovens. Parei de escrever poesia porque posso ouvir minhas palavras na boca dos outros, porque posso encontrar o que quero dizer nos olhos e nas coisas em concreto, no silêncio das ruas e nas horas românticas do dia. <span style=""> </span>Sim, tudo é poesia, basta olhar de novo, todos podem fazer poesia, os miseráveis, os rotos, os ignorantes, os ingênuos, aqueles prestes a desaparecer, as crianças serelepes hiperativas inconseqüentes caladas silenciosas com a inocência nos olhos e a esperteza nos atos e a verdade no coração, os intelectuais, os poetas do submundo, os poetas dos subúrbios, os homens de preto, os dias incontáveis – porque neles há vida –, a fome e a pobreza, os ativistas, os anjos, os deuses, os pseudo-intelectuais, os velhos poetas, os blogueiros, os jovens que incessantemente atualizam o twitter, os playboys, os ricos, os cachorros das madamas, o céu e a terra, os seres além-fronteiras, além-mares, além-mundos, os interplanetários, os sonhadores, os melodiosos, os bêbados deitados no próprio vomito, os cineastas do Central, as rachaduras nas calçadas, a prefeitura que tenta reconstruir a cidade, os pisca-pisca desregulados nas fachadas dos prédios, a falta de senso estético – mas tudo é sensação –, os abstracionistas, os meias-palavras, as menininhas Crepúsculo, Malhação, as prostitutas, os drogados, os estudantes, os terceiroanistas sufocados pelo vestibular, os protestos contra o aumento da passagem de ônibus, os ônibus depois da meia-noite e a cidade que passa através das janelas com o silêncio e a vida latente, o chão que reluz à noite sob as luzes dos postes depois da chuva da tarde, a manhã que surge suavemente em seus diversos tons até que o sol se instale reinante sob nossas cabeças e o cinza nublado as nuvens carregadas se dissipem, os moradores de cobertura, os maconheiros, os maloqueiros, os pedintes, os cheira-colas com suas eternas garrafas nos narizes, os insones às três da manhã sentados na varanda a TV ligada reluzente, os programas chatos, os filmes dublados, os jovens atores, os velhos, os rangidos metálicos dos automóveis, o congestionamento nas principais avenidas e estradas e a vida que poderia surgir daí através de Cortázar, as cartas que guardam tantas palavras de amor e de perdão e de confissão e não são lidas, e são rasgadas, e são queimadas, e são retornadas, e são lidas através de visões difusas pelas lágrimas, os presentes rejeitados, aqueles que nunca foram dados, aqueles recebidos com carinho e cumprimento, os amantes nas lanchonetes, percorrendo os corredores do shopping center, as roupas que não couberam porque elas estavam gordas, ou magras demais, as roupas que não puderam ser compradas, as roupas que se desgastaram e foram doadas, os gestos simples, os pequenos gestos, os gestos que passam despercebidos, os amores da vida que não se reconhecem no corredor do banco, os apaixonados, os platônicos, os rejeitados, a primeira noite no motel da namoradinha, a primeira noite da virgem quando no mundo não há mais virgens, os santos, os demônios, os eremitas, os ascéticos, os sofredores, os crentes, os velhos cristãos dentro da capela ajoelhados palmas juntas rezando mil ave-marias pedindo perdão pelos pecados pedindo proteção para a família pedindo uma morte rápida e sem dor, os velhos que se sentam sobre as pedras em frente ao mar e se põem a ler (isso ainda existe) os clássicos ou os livros de fantasia Harry Potter Crepúsculo Brumas de Avalon ou os livros espíritas, a Bíblia aberta num cômodo especial no meio da sala, o café da manhã com a família reunida, os nerds, os viciados, os retratos da família espalhados pela casa, os retratos das antigas gerações, os sorrisos ingênuos, a verdade que transcende a matéria física, mas que parte dela, as luzes desfocadas através dos olhos do míope, o vento no rosto no automóvel em alta velocidade, a adrenalina, a sensação de que tudo é paz e tranqüilidade e que seu mundo e seu tempo são outros, e que as coisas para cada um são assimiladas, percebidas em seus tempos específicos, e as músicas, ah, algumas delas me fizeram sentir a verdade, as músicas nas rádios, cheias de ruídos e chiados, no som de alta potência, na balada, no fim da balada quando todos cantam juntos, bêbados, exultantes, satisfeitos ou não, cheios de alegrias que se derramam em forma de cerveja e lama pelo chão, o coração pulsando desejoso, o eterno desejo, incessante, incontrolável – um dia vai explodir –, os desejos e a ânsia de satisfazê-los que revolvem o estômago e sufocam o coração. Sim, todos podem dizer alguma coisa, quem sou eu para me por a escrever, então? E se sabemos que tudo se interdepende, e que o mundo não anda por si só, então que todos tomem seus próprios rumos, por que não? Se não há mais nada a dizer porque tudo já foi dito, só nos resta as redescobertas, captar o óbvio, mesmo em toda sua ambigüidade, viver a intensidade do momento, observar as coisas e se abstrair nelas. Pus-me, então, a escrever haicais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span></p>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-12512958076146817262010-08-25T23:28:00.000-07:002010-08-26T07:40:47.670-07:00Não tenho muito a dizer, mas há muito a ser dito.<div style="TEXT-ALIGN: justify">Não tenho muito a dizer. Tudo o que poderia ser contado, tudo que tivesse realmente alguma relevância, não seria dito com tanta clareza, com todas as verdades possíveis que sobrecarregam os fatos, os instantes, ou mesmo a vida. Mas há tanto a dizer, tanto a contar, e ninguém para ouvir. E ninguém para falar. As palavras ressoam no vento, vozes distantes, contam histórias de quem veio e se foi, e cujos rastros se confundem com tantos outros mil que por ali passaram. Sussurros que se confundem na memória, que nos impedem de nos esquecermos, que tentam nos lembrar de alguma coisa que ressoa vagamente, mas que não se distingue e desvanece no tumulto avassalador dos nossos dias. Tanta coisa para se lembrar. E a memória sendo absorvida pelo tempo. O mundo poderia girar ao contrário.<br /><br />Não, não me escutam. Agora que posso dizer algo, não me escutam. Deixam que o tempo passe e leve com ele a memória frágil que se descreve na história, mas que se perde no meio dos maiores eventos mundiais. Um dia, eu acordo e digo a mim mesmo: “acorde”, incrédulo e ainda desnorteado por ter deixado o abismo inefável dos sonhos e tombado bruscamente na concretude da realidade. Eu fugirei, um dia, e não precisarão me procurar. Estarei a sua frente, mas não estarei em mim. Nesse dia, o mundo terá, finalmente, me engolido.<br /><br />Às vezes me pego quase abstraído num vazio atordoante, estendido numa plenitude etérea, num silêncio abismal. É quase como se me acolhesse o infinito cósmico, como se me aceitasse além da vida e das possibilidades materiais. Eu sumo, por instantes, desapareço, abstraio-me. Quando acordo desse delírio, é um baque. Sinto a respiração constante, interminável, que me confere vida, os pensamentos transbordam e se derramam, não consigo distingui-los e me perco nessa tormenta mental. Tento voltar àquele estado hipnótico e anestésico, mas não depende de uma vontade consciente, de um raciocínio calculado ou de um pensamento obstinado; é preciso distender-se e se deixar levar, mas quanto mais persisto nesse propósito, mais distante fico do meu objetivo. Afinal, desisto.<br /><br />Li muitos livros, procurei neles alguma coisa que faltava em mim, ou que iluminasse com razão o vazio de ignorância em que sempre me percebi. Procurei neles momentos extáticos de lucidez, de compreensão, de verdade, e às vezes até os encontrava, mas eram paliativos inefetivos, pois percebia que não eram o tipo de certeza ou verdade que eu procurava ou precisava encontrar, mas respostas ou explicações que me distanciavam ainda mais do que eu gostaria de saber. Na verdade, desconhecia meus objetivos, meus propósitos, não sabia realmente o que procurava, mas pensava encontrar em cada resposta com a qual eu, em meu entusiasmo, me deparava e me identificava, pensando tê-la procurado durante tanto tempo. No entanto, novas dúvidas inundavam minha mente e substituíam as velhas às quais acreditava ter respondido. E assim não acumulava perguntas, mas respostas, explicações, diagnósticos, muitos deles, descobria anatomicamente as entranhas do meu ser, na ilusão de que eram limitadas. Porém, acredito, o cérebro humano é conjugado ao infinito do nosso multiverso e esconde incalculável número de mistérios. Por isso, sentia compreender-me, nesses milésimos delirantes, ao me abstrair nessa vacuidade de inconsciência, dormente, hipnotizado, distraído, acreditava compreender o infinito e o mistério da vida.<br /><br />Eram apenas verdades indefinidas,mutáveis, verdades efêmeras que se deformavam em minhas mãos, ou que me escapavam como água e se reformulavam, se redesenhavam longe de mim. Sentia-me frustrado e cansado. E, de novo, as mesmas lacunas apareciam, ou novas surgiam. Aprendi com o tempo, e na verdade demorei a aprender, que tudo em que acreditava era inconstante e instável, mutável. Diluía-se com o tempo, desintegrava-se ou se transformava. Por isso, nunca aderi a nenhuma ideologia, religião ou filosofia de vida. Na maioria das vezes, os conceitos que fazia das novas crenças obedeciam a uma conveniência pressuposta e inconsciente. Todos os meus laços com a vida eram frágeis e insubstanciais. Nunca acreditei na vida, porque toda ela desembocava num mistério irrespondível e inevitável. A mim, a vida parecia nada mais que a reprodução de uma das milhões de vidas que uma vez floresceram neste mundo. Nada me era novo, tudo parecia repetir-se como um filme, como uma história revisitada infinitas vezes.<br /><br />Lembro quando, em minha infância já adormecida pelo tempo e sufocada pela euforia da juventude, me escondia das pessoas como se fossem monstros. Eu não as repudiava; sentia, pelo contrário, uma estima parva de quem acaba de se descobrir consciente no mundo. Sentia certo medo, sim, mas não bastante para anuviar minha curiosidade. Observava a vida com ar sereno e, diria até, desinteressado, não com um olhar científico, como o de um antropólogo. Minha curiosidade se resumia a vê-los em suas mais diversas reações, em suas manifestações, não para catalogá-las, o que às vezes me era inevitável, mas para contemplá-las, admirá-las. Às vezes , não as observava com meus próprios olhos, mas me transportava para os delas. Eu não as via, eu procurava ver o que elas viam; na minha lógica cognitiva, o que elas faziam estava diretamente ligado ao que viam, e, devido a instruções prévias ou à freqüência do trabalho, soubessem exatamente a utilidade de cada objeto usado. Causa e conseqüência ligavam-se através da visão, o mundo só funcionava através dos nossos olhos – foi assim que entendi a visão como o sentido mais importante do ser humano. É claro que essa concepção transformou-se com o tempo, na medida em que meus sentidos se aprumavam a cada dia. Mas essa lição não me foi de toda descartada, compreendi com ela uma das verdades que mais me intrigam e das quais mais duvido: o mundo só existe na medida em que o apreendemos em nossos sentidos. Não cheguei a nenhuma nova conclusão, mas minha teoria demanda mais digressões, e não pretendo me estender nesse assunto.<br /><br />Minha melhor diversão consistia em procurar esconderijos secretos, onde eu passava horas, aconchegado nos meus pensamentos. Sonhava com um abrigo onde eu poderia viver, cada vez mais distante, um lugar que me resguardasse do tumulto humano. Imaginava o lugar, via-me deitado, sonhando, ou brincando com meus brinquedos, ou com alguns amigos que pudesse trazer vez ou outra. Deveria ser um lugar à parte, protegido, onde nenhuma guerra pudesse o ameaçar. E eu levaria pra lá as pessoas de quem mais gostava. Em meu altruísmo infantil e ingênuo, imaginava, também, um galpão profundo, ao lado do meu abrigo, que abrigasse o maior número de pessoas boas, que mereciam a salvação. Eu não sei bem como faria para avaliar a bondade dessas pessoas, mas lembro que não me sentia confortável ao pensar que eu tivesse de selecionar os candidatos. E ainda assim, desejava a privacidade que um lugar à parte pudesse me oferecer. Quando pequeno não sabia, mas o que eu queria mesmo era me ausentar, ser um espírito num lugar à parte, um ser volatilizado, que se pusesse no mundo somente para observar, para assistir a um eterno filme que se descreve nas páginas da História, mas que se perde no fluxo interminável e inexorável do tempo.<br />Alguns desejos profundos jamais nos deixam, mesmo depois que a própria vida se revela em sua multiplicidade de escolhas, mesmo que ela nos ofereça novas possibilidades de prazer, novos desejos. Alguns desejos, me parece, são inatos. Hoje, vivo na oscilação entre o desejo do vazio, esse desejo que me acompanha desde cedo, e os ímpetos avassaladores e instintivos da juventude. A esses ímpetos, não os taxaria de vícios, termo bastante negativo para designar uma característica inerente a esse estágio efervescente da vida humana. Ainda que defenda a antilógica do nosso instinto, me apetece a comodidade que o desejo do vazio, o desejo de não pensar, de me abstrair, pode proporcionar. Estou sempre a meio caminho entre essas duas partes do meu ser, pois eu também sou desejo.<br /><br />Na escola, nunca aprendi muita coisa. Na verdade, nunca me ensinaram nada, aprendi o que conseguia assimilar por mim mesmo e o que achava conveniente ou o que me interessava. Eles diziam, e tentavam nos fazer acreditar, que estavam construindo nossa personalidade, nosso ser social, mas a verdade é que nos exauriam de nossas próprias intuições, de nossa própria lógica. Eles esfarelavam qualquer autenticidade de nossa personalidade, e nos moldavam de acordo com suas teorias pedagógicas. Nunca me senti tão cerceado, e hoje sei disso mais do que nunca, como na escola.<br />E desde cedo, percebi minha incompatibilidade em relação aos grupos sociais. Talvez tenha sido rejeitado, mas a verdade é que eu me afastei, por conta própria, de qualquer relação. Lembro como temia meus colegas de sala e de como um sentimento de humilhação me perseguia, como fantasma, invisível como uma vaga sensação que, subitamente, se manifestava em toda sua intensidade, em qualquer lugar, sem qualquer razão. Certo dia, exasperado por ter de suportar mais um dia rotineiro de aula, decidi debandar do colégio e me ausentar no aeroporto da cidade, que ficava bem perto. Não lembro bem como esgotei as horas naquela manhã, mas não podia voltar pra casa cedo demais. Talvez tenha lido ou visto o trânsito escasso dos viajantes. Mas lembro quando surgiram na escada rolante, meus colegas de sala mais indesejáveis, os mais exasperantes, e lembro como me apavorei, pois me encontrava sozinho e eles sempre me ameaçavam ou me injuriavam. Temi como nunca ser humilhado ali, em público. Na escola, já estava estigmatizado e não me importava tanto ser xingado ou coisa assim, pois havia uma certa cumplicidade entre os próprios importunados pelo grupinho pop dos ‘malfeitores’. Do lado de fora, não havia leis ou qualquer tipo de proteção, eu não tinha em que me apoiar, como me defender. Na escola, mesmo que houvesse uma ameaça, uma tensão, era algo invisível, que somente se percebia, mas que não se expunha tanto. A humilhação pairava sobre os alunos, mas não podíamos delatar os ‘malfeitores’, pois, ao menos na maioria das vezes, a humilhação era apenas moral, não física, apesar dos empurrões discretos que nos davam pelos corredores. Naquele dia no aeroporto, me apavorei tanto que cheguei a me esconder por entre umas placas de metal que cercavam a mesa onde me sentava. De alguma forma, consegui tomar as escadas e sai do aeroporto discretamente, sem ser notado. Mas logo quando me vi na rua e pude sentir um instante milesimático de alívio, tive um dos mais fortes sentimentos de frustração e impotência que já tinha me assaltado. Tanto que lembro ter chorado durante todo o percurso para casa, e de ter passado a tarde inteira entre o sono e as lembranças amargas daquela manhã que eu remoia e que me revolviam por dentro. Sentia-me humilhado, e essa humilhação e o medo dos outros jamais me abandonaram durante minha adolescência. Tanto estropiaram minhas sensibilidades que me tornei um ser instável, hipocondríaco, oscilando entre as emoções intensas e a mera indiferença pelos acontecimentos da vida. Hoje, olho para trás, ainda que adolescente como sou, com um sorriso de deboche, penso o quanto fui ingênuo e temeroso. Minhas frustrações e decepções ainda me revolvem por dentro, mas não deixam de ser risíveis, são minhas piadas internas, palavras que fazem parte do meu ser, mas que, a mim, não me soam tão trágicas. Penso em como uma arma teria resolvido meus problemas: jamais teria hesitado diante de um daqueles garotinhos irritantes, e não me deixaria jamais ser dissuadido por qualquer sentimento moral ou honroso, não hesitaria em ser covarde. Teria disparado a arma.<br /><br />Minha casa era o meu grande refúgio. No meu quarto, repassava na memória os acontecimentos do dia, estudava, brincava com meus brinquedos ou jogava videogame. Mas minha maior distração, que hoje se tornou a mais intensa das paixões, a mais indizível das boas sensações, era a música. Nem sei como descobri a música, essa é a verdade. Meus pais nunca estimularam em mim qualquer sentimento artístico, mas eu não os culpo por isso. A música se revelou para mim nos seus acordes mais banais e mais discretos, e foi se apoderando do meu ser na medida em que fazia vibrar as cordas mais sensíveis da minha alma. Eu não tinha aparelho de som, não sabia usá-lo e não possuía nenhum CD de música. O que ouvia, surgia de cantos misteriosos os quais não me preocupava em procurar. Escutava algumas notas e me deitava para acompanhá-las, já que surgiam vagamente, no meio dos rugidos sonoros da rua e da avenida. E quando não podia escutá-las bem, simplesmente colocava a fita de videogame no aparelho e ouvia as músicas que mais me agradavam. Começava a jogar certa fase do jogo só para ouvir a trilha sonora do mapa. E passava horas, horas intermináveis de grandes sensações e verdadeiras inspirações. Pois uma das primeiras coisas que descobri em relação à música, é que ela me inspirava mais do que qualquer coisa. Ela me enlevava a um nível espiritual de plenitude, de alívio e de evasão. Sentia-me escoar de meus problemas, de preocupações, sentia-me distender. É claro que só recentemente essas sensações mais intensas se tornaram mais frequentes, mais perceptivas; na minha infância, eu não parecia consciente bastante para notar tais sensações, mas isso não quer dizer que eu não as tinha. Só agora reconheço, conscientemente, sua importância e sua qualidade de arte suprema.<br /><br />Meus pais se perguntavam porque eu passava horas deitado, com a TV ligada, e o jogo parado, sem nada fazer. Pediam que eu desligasse os aparelhos, para economizar energia, mesmo que eu me justificasse, dizendo que escutava música. Eu não compreendia que aquelas sensações eram mais importantes para mim do que a necessidade de economizarmos energia. Acabava desligando os aparelhos de TV e de videogame. Eu também me sentia bem cantando músicas de programas que via na TV, ou canções das rádios dos vizinhos. Alguns deles ouviam as mesmas músicas todo dia e algumas delas me agradavam; cantava todo enrolado as letras, pois mesmo que algumas fossem nacionais, eu não as ouvia direito. As canções, na medida que se repetiam, iam-se gravando na mente, viciosamente. Passava semanas com uma música na cabeça até começar a tentar esquecê-la – o que era um problema, porque, às vezes, nem dormir eu conseguia. Passava horas deitado, no escuro do meu quarto, tentando me desfazer dos pensamentos para finalmente alcançar o abismo dos sonhos, mas lá estava, tocando ininterruptamente aquela música tantas vezes escutada pelo vizinho. O pior é que as músicas que ficavam se repetindo na cabeça eram as mais desagradáveis, as que eu realmente não gostava, mas que possuíam alguma melodia penetrante.<br /><br />Duas casas ao lado da minha, havia um aprendiz de piano. Os dias mais etéreos de minha vida, vivenciei no meu quarto, deitado, sempre com um caderno ou um livro que eu descansava no colo, enquanto ouvia soar vagamente as notas desconcertadas do pianista juvenil que adentravam pela janela. Entre os ruídos e rangidos metálicos dos automóveis na avenida, dos trabalhadores da ferraria ao lado, dos moleques que brincavam e gritavam pela rua, aquelas notas inocentes, amadoras, passavam quase despercebidas, suspensas no ar, mas se dispuséssemos nossa atenção nelas, escutaríamos sua melodia encantada, fascinante, apesar de errática e frágil. Aquelas notas pareciam vibrar indiferentes a tudo, pareciam desejar o vazio onde se dissipariam para sempre, longe de qualquer ruído, longe de si mesmas, mas continham uma sinceridade e uma humildade que me fascinavam e me hipnotizavam. Aquelas notas inocentes, que tentavam construir alguma melodia, interrompidas constantemente, que soavam como a mais pura e honesta expressão de um adolescente, tornaram-se, para mim, o emblema de minha infância. Se penso naquelas tardes, vejo-as como que suspensas no espaço-tempo, etéreas, num lugar à parte, quase oníricas, circundadas por uma áurea de nostalgia e de beleza. E a mim, me vejo como um ser insubstancial, que pairava na plenitude do nosso mundo, um ser feito de energia, inconsciente, que se conjugava ao infinito de nosso multiverso, que vibrava em harmonia àquelas notas. Mas reconheço que nem tudo era tão perfeito assim.<br /><br />Assim mesmo, fui me afeiçoando à arte da música, apesar de jamais ter tentado obstinadamente aprendê-la. Talvez por falta de disciplina, talvez por falta de talento, reconheci que minha relação com a música era meramente de passividade; ela existia, para mim, para que eu a sentisse. É a única arte que jamais tentarei alcançar por profissionalismo; é para mim a única arte intangível, a suprema arte, a arte mais completa. Falar de mim, por exemplo, com todas as verdades, com plena sinceridade, seria impossível se apenas utilizasse os códigos limitados da escrita. Mas tudo isso eu poderia contar através da música, todos os meus verdadeiros sentimentos, tudo que penso. E mesmo aquelas notas constantemente interrompidas da minha infância, aquelas notas simples e inocentes, que por vezes destoavam entre si, formavam doces frases melódicas por entre os ruídos ásperos vindos da rua, e me inspiravam, me conduziam a um mundo suspenso, adimensional; eu mesmo, às vezes, encontrava nelas novas sequências melódicas, que ainda hoje resistem ao tempo na minha mente. Depois dessa primeira fase de descoberta, entendi que a música poderia falar o que eu queria ouvir, ou falar o que eu gostaria de dizer. Assim fui escutando músicas que falavam por mim. Hoje, com a quantidade de sensações, de experiências, de seres que fui acumulando, meu acervo de músicas tornou-se mais que eclético. Ouço de tudo, ou quase tudo, e sei que ainda há muito a ouvir. A música trilha a minha vida na medida em que acrescento em mim novas experiências. Hoje, digo deliberadamente: antes cego do que surdo.<br /><br />Mas escrever é, para mim, um refúgio. Quando escrevo, me recrio. Imagino-me num conto e delimito minha existência às páginas desse conto, mesmo que não haja fim nem começo. E me pergunto até onde vai a transcendência dessa existência literária e paralela. Olho distante, para o fim da rua que se estende diante do meu prédio, e vejo pequenas luzes de carros que se movem e resplandecem melancolicamente por entre os galhos das árvores, e há um silêncio espectral e uma ansiedade que aos poucos é debelada pelo rugido sonoro que se intensifica na medida em que os carros se aproximam. Sinto uma ânsia, uma vontade de me exprimir e me espremer e me pronunciar. Uma vontade de escrever tudo, exatamente tudo, escrever infinitamente tudo. Penso e acredito, exultante, verdadeiramente inspirado, que posso escrever decididamente tudo e sobre tudo, com todos os mínimos detalhes. Mas, inevitavelmente, frustro-me por não conseguir distinguir as ideias, as palavras, por não conseguir escrever tudo de uma vez no exato instante em que minha inspiração se estende aos níveis apoteóticos. Transcrever a beleza das minhas visões, os ruídos arrítmicos, destoantes, anti-melódicos, que ouço, e que se transformam em música em mim, a excitação exultante dos meus sentidos, é isso que me agrada e é isso que desejo agora. Vejo, da minha varanda, os prédios, as luzes, a avenida e suas artérias, as escassas árvores, os escassos carros que transitam na madrugada, serenamente, melancolicamente. Sinto vontade de plastificar toda essa paisagem, tudo isso. Escrevo essas memórias para tentar me descobrir em minha infância, para talvez revisitar o caminho místico e ingênuo por mim traçado e quem sabe encontrar o momento exato em que me desviei. Se é que minha existência não descreve um traçado inevitável por entre as possibilidades da vida. Não falo de destino, não acredito nele. Mas sei que não tenho idade para analisar esse passado criticamente, sinto lacunas ao tentar responder algumas perguntas, olho para trás com um olhar inocente, puro, como que impressionado, o olhar equivocado de um jovem. Suspiro, e um ar gélido penetra minha pele com pequenas agulhas. Nesses momentos amenos em que minhas pulsões se aprumam, chego a compreender, conformado, a inexorabilidade da vida, e não me revolto. Simplesmente, deixo-me fluir, à deriva, deixo-me eclipsar, como se possuísse o silêncio resignado de um sol que há de se pôr no fim da tarde.</div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-5414550652535392262010-07-06T21:36:00.001-07:002010-07-06T21:51:57.392-07:00Instante (ou Segredos)<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page WordSection1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.WordSection1 {page:WordSection1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <o:shapedefaults ext="edit" spidmax="1026"> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <o:shapelayout ext="edit"> <o:idmap ext="edit" data="1"> </o:shapelayout></xml><![endif]--> <p style="text-align: justify;" class="MsoNormal"><span style="font-style: italic;">"Deus perdoa os que fodem"</span>, Tinto Brass.
<br /></p><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Sempre achei que nunca contamos tudo. Aquele detalhe, um gesto, uma palavra, o olhar deflagrador entre todos os outros, a confirmação de que os olhares precedentes não se esbarraram por pura coincidência, por acaso, mas porque se atraíam. Talvez não soubesse dizer qual, dentre todos, foi aquele que legitimara alguma paixão e confessara a intencionalidade do gesto. Aquele instante infotografável, irregistrável. Talvez um sorriso. Talvez. Não existe lógica matemática que formule todos os gestos, palavras, sorrisos, insinuações que me levaram até ela.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Um tanto distante um do outro, sim, mas em algum ponto nossos pensamentos se tocavam. Em algum ponto adimensional, onde se desfaz, por leis inconcebíveis e específicas, a validade do nosso conceito de espaço-tempo. Sabíamos, no entanto, e é isso que importa, que nossos espíritos se tateavam e se descobriam. E quando nossos olhares se esbarravam, era porque precisávamos reforçar a linha que nos conectava espiritualmente e nos certificar de que essa linha não era frágil ou apenas um equívoco. Por isso o impacto: um soco no peito, uma mão que constringe o coração e que o tensiona com mil emoções, com todas as emoções que implodem de uma paixão. E por isso o suspiro depois que nos virávamos, cada um para seu grupo de conversa. Emergíamos de um estado quase hipnótico, apesar de milesimático; mas como um corpo que se afogava e finalmente encontrasse ar para respirar, a tensão se dissipava aos poucos e deixava seqüelas, vestígios. E a vontade de nos encontrarmos de novo no olhar. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Era uma troca espontânea de volúpias. O desejo alimentava-se dos olhares, nossos espíritos se atraíam, e nossos corpos sentiam a necessidade do toque. Distraíamo-nos nas conversas, nas piadinhas, e de vez em quando conseguíamos trocar palavras diretas: comentários irrelevantes, que se dispersavam e se desfaziam nos ouvidos, restando apenas o eco da voz do outro, como uma espécie de recordação, não para ser contemplada, não uma voz enaltecida e adocicada pela paixão, mas como uma identidade, que revelava mais de seu locutor do que as palavras ditas poderiam fazê-lo. E nessa linguagem polissêmica e incerta que é a troca de olhares, nos revelávamos e nos insinuávamos, nos comunicávamos verdadeiramente, num fluxo desordenado de consciência, de emoções, que não se distinguiam e que se confundiam no reflexo atordoante da íris, de onde não podiam transpassar. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Nenhuma fórmula matemática, até agora, só o desejo vago de descrever tudo, sem evitar, no entanto e infelizmente, a redução dos fatos e das impressões. Talvez poesia fosse a melhor linguagem para transmitir as sensações daquele momento, mas teimo em tentar revisitar os fatos através da memória, revivê-los e transcrevê-los. Eu deveria me calar. Algumas coisas guardamos somente para nós. Mas quando os sentimentos transbordam, é preciso desabafar e despejar o excesso em algum lugar. Escolhi o papel e por isso os garranchos e as manchas, a prova de que as palavras não conseguiram dizer tudo ou que se equivocaram no que disseram. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">A madrugada absorvia os últimos ecos do dia, o silêncio da noite se espalhava pelas ruas. Só o bar onde estávamos era imune; a balbúrdia deixara ecos de palavras avulsas suspensos no ar, não se distinguiam as vozes, nem se identificavam os donos. Já ia a tantas a madrugada, a música tocava, mas era possível perceber os ruídos e as falhas das caixas de som. Apenas um murmúrio tranqüilo das conversas alheias, um murmúrio cansado da euforia de outrora. Sentia-se o ar gélido e úmido da madrugada, e os objetos faziam-se mais claros e resplandecentes para a visão um pouco atordoada pela embriaguez. Detrás de nossas mesas, as garrafas de cerveja se entulhavam, vazias, ou quase vazias, como tudo o que tínhamos para dizer ou poderíamos dizer. Chovia lá fora, uma garoa fininha, mas que entrava como frias agulhas na pele. Brincávamos com nossos cigarros e desmanchávamos seus pequenos e frágeis cilindros de cinzas, quando alguém se despediu para ir embora. Decidimos, então, irmos todos de uma vez. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Teria sido a distância espacial, mesmo pouca e transitável, desobstruída e sem obstáculos intransponíveis, que nos impedia de nos tocarmos? Beijinhos e abraços de despedidas, a cordialidade ingênua do aperto de mão entre amigos, até que ela se aproximou. Um pervertido teria aproveitado a oportunidade para satisfazer seu desejo táctil. Abraçamo-nos, com a cordialidade de recém-conhecidos, mas não com ingenuidade e intenções comedidas. E foi como um golpe psíquico, hipnótico. Nossos corpos ataram-se, enquanto nossos espíritos descarregavam cargas elétricas de efeitos atordoantes; nossas pulsões evadiam-se e era possível sentir o impacto sísmico que tremulava os corpos de um e de outro; nossas cabeças entrelaçadas, ela descansava a dela no meu ombro; um abraço cordial de despedida que se prolongou por pelo menos mais um segundo que o normal e foi suficiente para dissolver dúvidas e consolidar certezas. Senti seu cabelo e sua nuca, pareciam mais suaves aos meus dedos. Seu corpo parecia suspenso e entregue. Ao afastarmo-nos, seu rosto friccionou-se ao meu até as últimas células que circundavam os lábios; sua boca tão milesimaticamente perto da minha, e, no entanto, tão distante de um beijo, tão impossível, tão inalcançável. Até o último momento em que nos olhamos um nos olhos do outro, como se comunicássemos nossos protestos por essa oportunidade desperdiçada. Minha mão deslizou-se por seu braço, como uma última carícia que desejasse a eternidade daquele instante. Deslizou-se até a ponta de nossos dedos, e como ainda atraídos energicamente, esqueceram-se suspensos no ar por alguns milésimos. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Efeito atordoante que me deixou alheio por alguns instantes, enquanto nossos amigos combinavam a volta para casa. Não me saia da memória aquele abraço, seu corpo quase entregue ao meu, deixando-se suspender, desejando o etéreo, minhas mãos que deslizavam nos seus braços até a ponta dos dedos, e aquele último olhar. E pensava nas oportunidades desperdiçadas, nas possibilidades, nos finais secundários. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Ecos de gemidos ofegantes, o suor e a saliva libidinosa, o travesseiro, como um corpo indefeso, apertado e abarrotado entre os braços, os lençóis manchados caídos ao chão, o coração sísmico pulsante, pensamentos eróticos tonitruantes, desejos concupiscentes da ingenuidade infantil de quem desconhece o pecado, transe alucinante de quem chega ao limiar do sono e não consegue se libertar da capa negra de sonhos abismais que o encobre. Distração imprevisível que me pegava de surpresa; e eu me pegava absorto, observando o nada, e o desejo à flor da pele. Num eterno navio sem mar, sem terras à vista, só o pensamento distante, além, e o brilho nos olhos de quem sonha acordado. E eu flutuava na correnteza dos errantes, sem atenção para cachoeiras e redemoinhos, apenas à deriva, com a dor e a vontade de quem acaba de se apaixonar. Segredos que só a cama e o travesseiro guardariam como máculas. E que ressoariam para sempre nos ouvidos de quem os auscultasse.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Durante semanas, pensei nela. Não por estar apaixonado, mas pelo impacto do ineditismo do momento que nos uniu. Um golpe hipnótico atordoante. Diria que, se a vida não fosse delineada pelas veleidades do destino, teria sido produto dos acasos o fato de estudarmos no mesmo centro científico da universidade. E eu jamais a teria notado passar ao meu lado, como tantas vezes deve ter passado, pelo átrio ou pelos corredores do prédio onde estudávamos. O dia em que nos conhecemos nos marcou com magnetos que nos atrairiam sempre estivéssemos próximos um do outro. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">O dia era assinalado pelas horas em que nos esbarrávamos, como uma relação discreta que tentava se adaptar a uma rotina, mas que nos divertia com a imprevisibilidade dos encontros casuais. Ainda que me sujeitasse a cumprimentá-la, com discrição e até uma certa timidez, na frente do seu namorado, não me importunava nem torturava a ideia de que ela estava comprometida. Conversávamos besteiras, quando nos víamos a sós. Eu tentava me aproximar, de alguma forma, mas talvez não fosse ousado suficiente para atravessar as barreiras da timidez e alcançar alguma intimidade. E quando eu a encontrava ao longe, enquanto percorríamos nossos trajetos particulares, cada um por seu caminho, sentia-me num filme, numa cena em slowmotion, nós dois no mesmo plano, os olhos dela nos meus, os passos e os ruídos sonoros não eram abstraídos de todo, mas abafados pela tensão do momento que obstruía meus sentidos e me deixava suspenso.<span style=""> </span><span style=""> </span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Tínhamos terminado as aulas, podíamos ir pra casa. No campus, pairava a melancolia do silêncio da tarde, e nós conversávamos futilidades. Ela disse que iria buscar alguma coisa em algum lugar e me chamou para irmos juntos. Entramos no prédio onde estudávamos. Subimos as escadas. Caminhávamos sozinhos pelo corredor. O sol escanteava-se por entre os prédios da cidade. O corredor estendia-se e já tínhamos percorrido um quarto do seu comprimento. E como nossos pensamentos confluíssem entre nós dois, telepaticamente, e as volúpias inflamassem nossos corpos e os magnetizavam, puxei seu braço e a beijei. Um ruído crescente tomou conta dos meus ouvidos. Não consegui aplacar a força tumultuosa das emoções; não houve distensão no ato. Como desmoronasse a razão, escutei o estrondo do abalo sísmico que atingira minha mente e o peso e a tensão do momento; me libertei das amarras da timidez e dos comedimentos sociais, mas não foi como voar, flutuar no espaço e deixar suspenso o espírito com a delicadeza dos amantes que, como penas, titubeiam no ar. Pelo contrário, mantive-me no chão, com o peso dos escombros da razão e de toda concretude da realidade. Mas fui correspondido.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Como descarregasse de uma só vez todas as vontades, com o ímpeto de uma pulsão desmedida, um vômito irreprimível, desenfreado, me afastei dela aturdido. Ela mostrou um sorriso de consentimento, de conivência, de aprovação, de paixão, de desejo satisfeito. Não sei. Nunca se sabe. Ela me apanhou pelo braço, deslizou por ele, como na primeira vez em que nos tocamos, e me levou à sala mais próxima. Entramos e assim que a porta foi fechada, ela me beijou de novo. Com as carícias ávidas e afoitas, tentamos satisfazer a necessidade premente de nos tocarmos, de sentirmos a pele um do outro a cada milímetro, em cada célula, uma vontade de pairarmos na plenitude do corpo um do outro. Era uma ânsia insaciável, ofegávamos, beijávamo-nos, mas o desejo transbordava nos corações, e não sabíamos de onde vinha a fonte que nos abastecia as paixões. Puxei sua blusa, que deslizou corpo acima, enquanto ela levantava os braços. Desfiz a ideia de jogo de turnos e eu mesmo tirei minha camisa, enquanto ela se desfazia das calças. Depois, ela tirou as minhas calças, e levou junto o que tinha por baixo. Ela me conduziu até uma banca, num leve empurrão com as pontas dos dedos, e ajoelhou-se diante de mim. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Nossa paixão durou os milésimos que um relâmpago demora a rasgar o céu, na mesma intensidade, com a mesma carga elétrica. Ela começou a me evitar, como se relutasse contra o desejo passageiro e incerto que alimentava nossa paixão, em favor do seu amor que quase pairava inerte num marasmo idílico, mas que tinha se modelado aos dias e às necessidades suas e de seu namorado, e não teria de sobreviver a tormentas e instabilidades da alma. Depois que transamos, naquele dia, ela me perguntou, quando já estávamos vestidos: “você acredita que eu amo meu namorado?”, e disse isso não como quem sente a culpa corroer-lhe a alma e deseja desabafar para aliviar a dor do remorso, mas como quem busca conivência e se sente à vontade para, francamente, deixar as coisas claras. Não duvidei, não duvido, hoje, e a admiro por não ter se arrependido. Eu me enviesei pelas armadilhas e ilusões de uma paixão que arde e inflama os sentidos e diz-se reconhecer como amor, mas que, afinal, não se realiza como tal. A verdade é que nunca acreditei no amor como uma pedra rara que se encontra nos confins do mundo, nas entranhas da terra, e que fosse única para cada ser humano. Para mim, bastaria a centelha daquela paixão que senti no dia em que nos conhecemos para acender algo mais, para nos enlevar, para, quem sabe, acordar em nós o amor. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Ainda nos encontrávamos quando comecei a namorar outra pessoa. Ela tentava me evitar, mas algo em nós pulsava e respirava ruidosamente. E só precisávamos nos encontrar, a sós, nos esbarrar por aí, para que a paixão reacendesse e acordasse com uma força que nos feria a carne. Sabíamos dos riscos, mas era implacável. Às vezes, andávamos juntos, eu com minha namorada, ela com o seu, e alguns amigos. Para não expor o grau de intimidade a que chegamos, evitávamos demonstrar provas de amizade incriminadoras. Talvez, a única coisa que nos denunciava estava no olhar, na maneira de como nossos olhos se encontravam, de como se olhavam e se enamoravam. Mas tudo que tínhamos para comunicar, através do olhar, dizíamos em poucos milésimos, de modo que seria impossível descobrir nossos segredos sem que se congelasse o instante exato em que nos olhávamos para analisar o brilho em nossos olhos que denunciava todas as intenções. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Deixamos de nos encontrar a sós. Rompemos. Como uma substância volátil, nossa paixão se expandiu e se destilou. Apenas um cheiro etílico forte pairava no ar, que ainda podia exercer sobre nossa carne um desejo, mas que evitávamos com certa maturidade. Nunca reprovei nossa relação, os impulsos voluptuosos que nos fazia transgredir as convenções e pular a cerca. Nunca entendi isso apenas como imaturidade, ímpetos descontrolados de um jovem; eu aceitei minha natureza e a tudo que ela estivesse predisposta. Não tenho remorsos. Teria costurado a vida de outra maneira, se a linha e as agulhas estivessem em minhas mãos. Teria continuado. Mas o tempo se encarrega de tomar o que dar, de unir e de separar, de construir e destruir. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">No meu travesseiro, ressoam os sussurros longínquos que me recordam, no frio e no silêncio da noite, mesmo no recôndito do meu sonho, os segredos de um passado tão recente quanto remoto. E como um determinismo que atua sobre os sonhos, paira na atmosfera onírica um sentimento de nostalgia que me obriga a olhar para trás, mas que se evola no ardor das novas paixões que se personificam dentro de mim. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Não mais tento entender. Como tudo se desenrolou. Nada começou, nada terminou. Como palavras de um livro que escasseiam antes do ponto final, do desfecho. Como a tão pronunciada e banalizada frase, “a vida continua”, mesmo que aventuras como essa a permeiem sem permissão.<span style=""> </span>Tantos acasos, tantas equações. E se não fosse o cálculo probabilístico, única matemática possível para equacionar o problema dos acasos, jamais saberia mapear o caminho que me levou até ela. E mesmo a probabilidade não poderia traçar nossos trajetos com precisão, pois faltariam os termos que identificariam as incógnitas da equação.<span style=""> </span>Ainda não posso resolver essa questão.</p> renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-1706455105960865382010-05-13T16:28:00.000-07:002010-06-06T22:33:21.269-07:00Minha alma não tem nome<div align="justify">1. Me sinto como um tiro no escuro. Vejo vagamente, nos poucos milésimos de claridão, o corpo que será minha vítima. Não o reconheço. Não sei bem o que vi. Será que o vi? Espatifo-me. Tenho muitas possibilidades, nenhuma delas é um objetivo. Um tiro cego, arbitrário, uma bala perde-se no escuro, espatifa-se – não sei em quem ou em quê. Por que não vejo? Se me tiram a venda dos olhos, descubro-me num quarto escuro, sem portas e sem janelas. Apenas um cheiro úmido e um ar refrescante me acolhem e me fazem acreditar que não estou numa câmara hermética, asfixiante. Tento apalpar as paredes da minha existência: são frias, úmidas, são, além de tudo, desoladoras. Não precisei de mil filósofos nem mil sábios como conselheiros para que essa verdade, em tom catedrático e religioso, me fosse revelada. Ela compete só a mim, e sou eu quem a sinto; é uma verdade que me foi transcrita pelas minhas próprias percepções; assim me foi dita, traduzida, revelada. Sou eu quem a vivencio do modo como o faço. Minhas palavras talvez não digam nada, mas eu as escrevo com o sentimento que me é infligido por essa verdade. Sou eu quem as escrevo, não é mais ninguém. São verdades minhas. Tão bem como poderiam ser suas.<br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Uma porta branca se abre e uma luz cálida e calada invade a sala, revelando seu assoalho desgastado e carcomido. Nada mais, apenas uma sala vazia, empoeirada, desolada. As paredes estão úmidas e mofadas, parece que respiram; recendem um cheiro de coisa antiga; lá dentro o ar é quase rarefeito. As janelas estão fechadas e lacradas com madeiras – alguém quis vendá-la. Minúsculas fibras de poeira flutuam vagamente e refletem à luz do sol. O assoalho está empoeirado. Alguém entra em passos tímidos e curiosos. Espero que se revele: sou eu ali. Assusto-me. Percebo um redemoinho de poeira subir acima do meu allstar emboçado pela terra úmida por onde passei. Intimidado, enfrento as aparências tão pouco convidativas da casa. Procuro me familiarizar assim mesmo; percorro o olhar por todos os cantos; não há portas, mas percebo entradas para outras salas. Afinal, descubro que não há nada em todas elas, em todas as salas. Tenho dúvidas; por que trancafiá-la? Ou vendá-la? Por que abandoná-la? Quais os segredos que ela encerra? São os meus. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Me sinto só, longe da civilização. É como a casinha da árvore da nossa infância, nela eu podia contar meus segredos, podia sonhar, pensar, refletir em paz – longe de tudo que me desagradava, longe da minha família, da minha própria realidade, principalmente quando tudo isso me aborrecia. E de lá, eu podia contemplar e sentir. Aqui me sinto livre, livre de convenções, de regras, de moralismos empáficos. É um lugar estranho, mas não tenho medo. Pelo contrário, me sinto protegido. Aqui posso revisar minhas ideias, posso me auto-avaliar. Hoje, não tenho mais vontade de contemplar, minhas sensações agora se satisfazem a partir de outros sentidos, do tato principalmente. Agora eu necessito de ações, meu corpo se adaptou à velocidade do nosso século, à precisão e à objetividade que a tecnologia proporciona. Mas a atmosfera sombria e desértica me acolhe.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Estranho. Tenho vontade de cantar.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Eu? Sou eu mesmo ali?<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Senti em milésimos vívidos o que eu chamaria de liberdade. Não saberia dizer que sensação é essa, acho que não se explica a liberdade. Da História, ouvi dizer que se lutou muito por ela. Não me importo com isso. Seria insincero se isso realmente me chamasse atenção, ou se por isso eu lutaria ou morreria. Acho que sou, ou ele é, um adolescente do nosso século, tratado sob as convenções do individualismo. Eu não sei bem. Nem quem eu sou. Nem se sou. Senti, então, minha respiração límpida. Na verdade, tive vontade de respirar, não com o desespero de quem se afoga, mas exultante, como quem é acometido por um lapso de consciência de vida.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Voltaria outras vezes àquela casa.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />2. Eu quis dizer: me sinto purificado depois de ser corrompido. Poucos aceitariam essa ideia. Não sei se a aceitei, isso não pode se resumir a um assentimento voluntário, é algo mais volitivo, mais instintivo. Não acredito nisso também. Criei a noção básica de que meus desejos e minhas necessidades são consequências de um condicionamento processual que envolve tanto a cultura quanto a família. E quando falo disso, quero enfatizar bem a noção de valores morais e éticos que nos são incutidos durante todo o processo de formação individual. Mas, em circunstâncias tão curiosas e tão ricas em possibilidades, não me proponho a discutir isso. A verdade é que sou a bruta definição de um egoísta: faço o que me agrada, faço o que quero fazer. Um hedonista. Mas eu me desafio sempre que posso.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />“O que você sentiu?”. “Não sei”. Não sei. Ela não soube dizer. Não sei, não sei. É o espírito da incomunicabilidade que assola nosso século. Perguntei corajosamente, inescrupulosamente. Ela me respondeu com uma inocência que prescinde de escrúpulos e de coragem. Respiramos o mesmo ar, nos tocamos, eu a penetro e nossa alma se funde – mas ainda me pergunto que direito tenho sobre ela. Ela mesma não saberia responder. Ficamos calados, incomunicáveis, inexpressíveis. Tento não modificar os trejeitos do meu rosto, porque ela pode confundi-lo, enganar-se quanto ao que sinto. Ela também teme que eu me engane, acho que ela pretende assegurar, por mim, o amor que sinto por ela. Acho que ela quer me dar certezas. Muitos achismos não identificam nem de longe indicam certezas. Enquanto isso, não sabemos de muita coisa. Eu acho. E só. A certeza, para nós, é imponderável, é líquida e de minhas mãos ela escapa. É como se fôssemos personagens de um livro, de um conto; nossas verdades e a verossimilhança em nós assimiladas é uma construção poética da criatividade do autor. Em algum momento eu devo ter pensado em fugir, em escapar-lhe à mão, tornar-me o que eu pretendo ser, contruir-me conforme minhas próprias pretensões, como se eu fosse vivo. Em algum momento, meu autor se viu aflito por perder as rédeas do lápis que me contornava e me construía em palavras. Então, ele se viu forçado a rabiscar, a apagar parágrafos e parágrafos que me revelavam de maneira errônea, escritas conforme uma implosão da inconsciência, sem, no entanto, sua permissão. Este momento é epifânico: descobrir que minha vida é uma implosão criativa e que não posso escapar às determinações da verossimilhança, isso tudo me impressiona. Um autor escreve, cria seu mundo, elabora suas verdades e suas determinações que, mesmo não escapando ao mundo real e concreto, delimita a ilusão em que os personagens vivem. Posso ver onde terminam as fronteiras entre a realidade e a ficção, mas não posso transpô-las. Por isso, me sinto impelido por minhas emoções, por minhas ideias etc. Por isso mesmo, tento transgredi-las, contorná-las se possível. Por isso me desafio, desafio o que sinto, o que é de mim. Ora, se sou criação de um autor e suas verdades não me agradam, então quero descobrir novas verdades em novos autores. Quero me escrever, com minhas próprias mãos, se possível.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />3. Fecho os olhos. Abro-os.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Aquele ali sou eu? Ainda sou eu ali?<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Aquele lá, aquele não sou eu. Eu não estou aqui.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Prefiro não perguntar de novo. Sinto-me livre agora e gostaria de continuar. Minhas ideias saltitam na página e eu posso espalhar as palavras sem muito esforço para organizá-las. Elas dizem por si. Sou um precipitado caótico de ideias e emoções. Elas dizem por mim, elas me compõem, me contornam, me delineiam, me modelam, me impelem, numa batalha infinita entre razão e emoção, entre pensamentos dicotômicos, entre dilemas, entre maniqueísmos e inapeláveis desafios morais que enganam a lógica das dialéticas. Não sei se posso dizer que aquele ali sou eu. Se sou este, se penso como este, como poderia ser aquele outro? Eu não estou aqui.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Radiohead toca no mp4. Ela não quer falar, nem quer escutar, está absorta. Nos ouvidos, o fone deixa zumbir alguns versos, ressaltados pelo silêncio da casa vazia. Levanto-me, percorro a casa e o rangir do assoalho velho segue meus passos. Tiramos as madeiras das janelas; achei que sentiria menos a melancolia que transbordava na densidade e na escuridão daquela casa. Enganei-me. As luzes do sol só realçaram, num contraste intenso, a atmosfera solitária, melancolicamente angustiante e sombria que pairava ali. Agora eu entendo que a paisagem, como eu a vejo, nem sempre reflete as emoções do observador ou a elas corresponde. Chega de impressionismos desbaratados. Sinto-me mais real agora que sei disso. Antes eu me sentia como se fibras me conectassem a uma página polvilhada de palavras, na qual tudo se aglutinava e imiscuia, criando formas borradas e inteligíveis. Como se eu não pudesse me desprender das determinações do ambiente, ou da vontade de alguém. Agora posso me mover, me deslocar, agora os cenários diante de mim não me perseguem, simplesmente me abrigam. Agora não sinto que sou feito de símbolos, apesar de saber que isso não é verdade.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Infelizmente, estamos inacessíveis, com medo, com receio de errarmos em nossas palavras. É a dificuldade de comunicação do nosso tempo, apesar de todo o aparato tecnológico de alto grau de que dispomos e que nos conecta a todos os cantos do mundo. As relações humanas e os vínculos afetivos, de âmbitos metafísicos e sensitivos, já não atraem mais. Ela está deitada num colchão velho que trouxemos para nosso novo lar. Não sei bem como me sinto, mas reluto contra meus ciúmes. Penso na afeição que tenho por ela e na calmaria que ela suscita em mim. Volto à sala onde está o colchão e a vejo com lágrimas nos olhos. A música sempre desencadeia sensações tremendamente fortes para fazê-la expelir algumas lágrimas. Não acho que ela seja sensível, mas é a música, a força da música. É o movimento, o bailar das ondas sonoras, a harmonia dos instrumentos, as emoções que compõem a melodia, que a descrevem, que a contornam, que a delineiam, é a articulação da letra ao composto sonoro, a vontade inexorável e a tentativa frustrada de dar vazão à transbordante angústia de viver. É a música. Ela se apropria da música e de todos os sentimentos que esta reproduz do compositor, e os transforma nos seus. Por isso as lágrimas nos olhos.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />“Você sabe que eu te amo”. “Eu te amo” é uma expressão que parece não nos encantar mais. Parece, agora, desmistificada. Tão banalizada, batida e rebatida. Não sei como chegamos a esse ponto, mas o amor se esvai com o tempo. Poderíamos encher de areia uma ampulheta e virá-la até que o último grão caísse e, então, chamar isso de amor. A diferença, incontestável por sinal, é que não sabemos de que tamanho é a ampulheta e o quanto de areia é preenchida quando começamos a amar.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Palavras. Como podem dizer tanto?<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Minhas verdades.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Eu me pus a sua frente, bem diante dos seus olhos e disse: “você sabe que eu te amo”. Provavelmente ela não escutou, mas deve ter lido nos meus lábios ou captado por algum sexto sentido fenomenal. Ela sorriu, então. Ela me segurou pela nuca e me beijou. Beijamo-nos. Sempre gostei do seu beijo, é cauteloso, é suave e delicado – eu tento seguir o mesmo movimento, com a mesma delicadeza. Ela tem certa habilidade, uma habilidade inerente. Afinal, acho que consigo.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Nós transamos naquela tarde.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Trouxemos tinta naquele dia; iríamos ver o que fazer depois da faxina. Eu sempre gostei de cores, mas nunca soube aproveitá-las, ou melhor, organizá-las, combiná-las. Alguns artistas fazem bem isso e, quando vejo suas obras, sinto que, em algum lugar, essas tintas escoam e formam um riacho colorido que ligam o mundo ilusório concebido pelo artista ao nosso mundo convenientemente real. Não sou imediatamente absorvido, mas sei que posso adentrar nelas enquanto nado em algum sonho perdido. Pintar paredes não se compara à arte de pintar telas, é claro. Acho que tentávamos mudar aquele clima. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />4. Mas palavras não dizem tudo.<br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify">Não poderia me descrever com palavras, me definir como tal, pois há verdade na minha existência verossimilhante. São palavras que compõem minha forma, e, no entanto, minha dor não seria maior se fossem moléculas e células. O que eu digo é que não quero me definir, me delinear – dou carta branca à imaginação.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Lá fora chove, algumas gotas colidem no chão, abafadas pela terra que amortece a queda d’água; outras espatifam-se como vidros ou cacos de vidros nas pedras ou no chão de concreto do quintal, ou nas folhas das poucas árvores. Algumas ainda entram pela janela aberta ao meu lado, entram tímidas e algumas se quebram e produzem uma espécie de fumaça d’água. Uma poça se forma no chão, e parte da água escorre em filetes por entre as entranhas retilíneas e labirínticas do assoalho. Vejo as diminutas correntezas seguirem seu caminho, uma vai em frente, outra atalha-se pela direita, outra ainda se perde pela esquerda para se reencontrar logo em frente com a primeira. Cada uma seguindo seu curso, delineada pela irregularidade do chão ou das peças de madeira que fazem o assoalho. É um labirinto simples, afinal. Brinco na diminuta poça d’água, descrevendo com o dedo alguma letra impensada que emerge legível do meu inconsciente. L, desenho. A poça é violada, mas como moléculas obedientes e teimosas que são as da água, a poça recompõe-se, apenas com algumas deformações, em sua forma original.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Algum ruído me trouxera de volta de minha distração. Me virei e a vi: espiava-me. Parecia tímida. Apegada à quina da entrada, ela tinha o rosto encostado na parede. Estava linda, parecia emanar uma delicadeza que diluía o ar sombrio e melancólico daquela sala, daquela tarde chuvosa. Ficou-me a espreitar. A chuva não cessava. Levantei-me e dei alguns passos até ela, mas percebi que não queria que eu me aproximasse. Dei mais alguns passos e ela, como se tentasse fugir timidamente, recuou, adentrando-se na penumbra do quarto. “Não quero que me toque”, disse. Não conseguia raciocinar, nada me estava claro, não conseguia ao menos conjecturar sobre tudo aquilo. Senti-me constrangido. Um medo se apossou de mim. De nós dois. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Medo de nos tocarmos, de flutuarmos, de diluirmos na vida.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Um homem não pode voar porque tem medo de altura.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Não conseguimos nos tocar.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />5. Ela ainda não sabia, mas aceitara.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Não consegui me excitar. Não tive ciúmes, mas não consegui me excitar. Algum pudor se traduzia em escrúpulo, ou vice-versa, ou eu estava exaltado demais nessa situação inusitada e completamente inédita para mim. Ela, de costas, curvava-se para alcançá-lo em seu pescoço e abraçá-lo. Ele perdia-se naqueles caminhos, naquelas curvas. Ela inclinava-se voluptuosamente a sua frente, enquanto ele segurava ora em sua cintura ora acariciava seus seios. Ela prometia pecados, transpirava pecados; aquela abundância de secreções, que se misturavam, que escorriam, cheirava a pecado. Alguma forma de paixão inundou a sala, ele não a agredia, faziam sexo, mas não deixavam transparecer o caos e o turbilhão de pensamentos frenéticos e indomáveis dentro da cabeça, nem a tensão do momento. Ele a apalpava e a acariciava como se não quisesse deixar nada escapar de seu tato. Seus sentidos pareciam aguçados. Entregavam-se à volúpia, deixavam os espíritos confluírem-se e se fundiam em alguma outra dimensão. Transcendiam. Eu não parecia estar lá. Tinha a câmera na mão e tentava não perder um detalhe do que faziam, mas me perdia nos pensamentos e nas dúvidas e na memória e na própria imagem na minha frente. Algum impacto delirante me atingira e eu parecia fazer parte do filme que eu mesmo fazia, como se manejasse a câmera automaticamente, como um diretor que conhece o roteiro e sabe o próximo passo, o próximo gesto dos personagens, e capta tudo. Descobri que não havia incongruências entre o que eu via e o que eu captava com a câmera; pareceu-me que eu havia redescoberto o olhar, o ver, o assistir. Descobri que do outro lado, do meu lado, onde eu estava, existia vida que se conectava de alguma forma à cena que eu presenciava. Fui absorvido, como sempre ou quase sempre sou quando algum filme me arrebata. Percebi-me vivo detrás da câmera, diante da imagem; havia uma incongruência ali que me punha em confronto com as idéias e concepções traduzidas pela imagem; eu não tentei relutar, mas acatar as imagens, como espectador e não como crítico. E como espectador fui golpeado pelas surpresas que não atendiam às minhas expectativas. Como se nem ao menos tivesse lido a sinopse. Tentei não deixar transparecer as marcas que me deixavam os golpes. Talvez não o tivesse conseguido, se os personagens do filme não fossem só integrantes de um mundo que só a eles era assimilado e se não estivessem embalados pelo delírio. Uma janela deixava-se transluzir, a tarde recebia os últimos golpes e empurrões e se precipitava, titubeante, em cair. Concentrei-me na câmera e na imagem; mas algo nos ligava por fibras, mesmo que nossas ideias se confrontassem. Ela oscilava e deliberadamente havia se entregado, deixara-se conduzir pelo outro corpo. Era uma dança mística, sensual, e não havia compasso nem ritmo previsível, apenas o movimento mágico dos espíritos que transcendiam. Eu quis transferir esse sensualismo, essa dança, para a imagem, quis que ela fluísse. Movimentei-me com a câmera e tentei entrar naquela harmonia; movimentava-me com fluidez, suavemente, fazendo a câmera oscilar por vários ângulos. Tentei compactuar aquele espírito à imagem. Tudo transpirava sensualismo. Eles se tocavam sem relutância. Foi lindo. E eu tinha me deixado levar. O orgasmo foi explosivo, o ápice. Desabaram, extenuados, e abraçaram-se. Desliguei a câmera, mas o filme ainda não tinha acabado.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Não estávamos realmente constrangidos, mas ele foi embora primeiro. Ficamos eu e ela, cada um em um canto diferente da casa. Ela tinha se enxaguado, mas já estava vestida quando entrei no quarto. Ela esboçou um sorriso, mas senti algo de insincero nele. Não que estivesse constrangida. Talvez quisesse me provar algo, ou desmentir algo. Mas estava feito. Depois de tudo... não sei, talvez tivesse me precipitado ao pensar assim. Eu a beijei – sabia que, de algum modo, ainda nos amávamos. Íamos embora, mas eu parei para observar a casa. A tarde tombara, mas a noite ainda não se tinha acomodado. Não havia fontes luminosas à vista e eu me perguntava de onde vinha aquela luz tênue que pairava sobre o assoalho. Melancólica. Extenuada. Quis acreditar que fosse imanente à casa.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Ela saíra e me esperava do lado de fora. De repente, tive receio em deixar a casa, alguma náusea parecia me consumir ao ver a porta de saída aberta para mim. Lembrei-me de muitos momentos ali, principalmente daquela tarde, de como eles se amavam. Eu me perguntava se tinha os amado de coração. Dei uma última olhada, parecia o quarto escuro e desolador que era a minha existência. A náusea me deixara, mas ainda tinha receio. Pareceu-me que seria minha última vez naquela casa, mas nunca confiei em minha intuição. Algo prendia minha alma, chamava por ela. Mas ela não tinha nome. Eu fui. </div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-6470826972027393852010-04-20T20:47:00.000-07:002010-04-20T21:57:47.724-07:00Bang Bang, um fime de Andrea Tonacci<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj24gGopwy6A64mHxVQT2HPhtXmvBqEXfuKme5foAyNnHr5Xlykhvr-gr_SZ_McgTmTt96zyL1HOZowh-XbaqyISuXq-mxxzui3cFJ3tN2DDgDnhBc11Yc56AMecMvVBX0h6HxoqKDjDB3I/s1600/bang+bang+1.bmp"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 203px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462449393357834402" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj24gGopwy6A64mHxVQT2HPhtXmvBqEXfuKme5foAyNnHr5Xlykhvr-gr_SZ_McgTmTt96zyL1HOZowh-XbaqyISuXq-mxxzui3cFJ3tN2DDgDnhBc11Yc56AMecMvVBX0h6HxoqKDjDB3I/s320/bang+bang+1.bmp" /></a><br /><div><div><div><div><div></div><div align="justify">Não seria de todo errado dizer que Bang Bang não tem narrativa; poderíamos adotar essa afirmação e a partir dela discorrer sobre sua proposta e seus motivos. É certo que Bang Bang desconstrói a narrativa clássica do cinema, brinca e satiriza a curiosidade do espectador em saber qual desfecho terá a estória, desmistifica o herói enquanto herói e o vilão enquanto vilão etc. Mas a maneira como faz Andrea Tonacci, diretor do filme de 70, vai além da desconstrução e do embaralhamento dos fatos narrativos. Tonacci simplesmente monta, desmonta e remonta parte dessa narrativa. Sim, apenas parte dela, retalhando-a e a discrimando de seu todo, não oferecendo um início nem um desfecho aparentes, mas simplesmente remontando variações em torno de uma situação. Dando tiros às cegas (e não é gratúita a expressão), Tonacci constrói seu cinema, desconstruindo toda noção convencional da coerência do fio narrativo, procurando sempre novas possibilidades estéticas.<br /><br />Bang Bang, no entanto, não é apenas a desconstrução narrativa de um filme para analisá-lo em sua condição de cinema. Tonacci cria em torno da situação clássica de perseguição, tão recorrente no cinema hollywoodiano (e essa escolha não é à toa), hipóteses várias que correspondem ao universo de possibilidades oferecido pelo cinema. Bandidos esdrúxulos e caricatos, um mocinho que não se vê como herói e a mocinha misteriosa que dança para a câmera, em frente a um plano de fundo ilustrado por elementos essencialmente urbanos: edifícios, construções etc. Aliás, a urbanidade é patente no filme, não só como plano de fundo, ou mesmo como cenário, mas como habitat natural dessas figuras grotescas que perambulam por aí sem objetivo aparente que não botar as garras no mocinho. Os elementos que compõem esse urbanismo exacerbado, a concretude, os mecanismos dos elevadores, amontoado de peças automobilísticas sucateadas, tudo isso realça a imundice, o caos, a exasperação da atmosfera urbana onde habitam os tais personagens dessa estória, que não é propriamente uma estória, já que a força motriz que move o chamado cinema clássico (a trama) condensa todo o filme e não oferece desfecho e muito menos explicação cabível para a perseguição. Tonacci brinca com nossa visão limitada, condicionada pelo cinema clássico, pelas estórias clássicas, de começo, meio e fim.</div><div></div><br /><br /><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 205px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462447046066902834" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjfSYWiS_QIm8D6CCNZ_HLqJgrBC3AH0owZ83XDDGMSQkbCV41ytJdBql5mOWX1IHDhuDWJFB95I3n8nCygya8EitRofLSWmrN6hKB1JBF78E4W_EdMlw3rfMyd4AJBJyywf64VNProEPA/s320/bscap0066.jpg" /> <div align="justify"><br /></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 205px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462446178268798178" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEvscP5iD7xEYeGKi94ml4J-4a0mXMSxcNqjS_tw-bwBpph4cn0oEzaRKk1fub01fWU_N4XHQbURe_oE1IH2V8MranQLzzM68fIaW41ldibxyOHu5ShH-C6HK-_Fpn11hAuJUxvZuu-Irj/s320/bscap0067.jpg" /><br />Próprio ao Cinema Marginal e sua filosofia, "já que não podemos fazer nada, a gente se avacalha e se esculhama", o filme de Tonacci é sujo e maculado por excelência. Esse cenário brutalmente urbano, caótico, sucateado, confere à imagem uma textura bastante exasperada, suja, imunda. É nele que os personagens atuarão (no próprio termo referente a ator, pois eles nem ao menos tentam nos persuadir, disfarçando-se de personagens, porque eles têm consciência do que realmente são: atores), onde a perseguição começará e recomeçará sem nenhum desfecho definitivo. Essa consciência de ator é também um artifício para assegurar a ideia de consciência de uma realidade que cerca a ficção. A câmera não mais se esconde para registrar a ação dos personagens e criar assim uma ficção verossímil suficiente para convencer o espectador. A cena no banheiro, em que o personagem, com máscara de macaco, canta "Eu sonhei que tu estavas tão linda", desfaz toda noção de barreira intransponível entre realidade e ficção. Ao mostrar a câmera, pelo espelho, Tonacci quebra essa barreira e instaura dentro da ficção o aparelho causador de sua própria condição. Em sua busca pelo que pode ser cinema, ele funde realidade e ficção, desmistifica a farsa do ator e joga um balde tinta na quarta parede do cinema, a parede invisível.</div><br /><div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 205px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462447518952570434" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWugeP5AEgFhhZW8CWUI69B09rJO6BD-vlyd6tZ1-4ZhGfBGLIEiI50HHRslynA5kVuG4sznS9CflSz8KT1GGhDzJZwF7VGcBNZiFnOXADy0XlScmfZQ3cKih2mXPHqcFcB1xYvRK0Ie_s/s320/bscap0062.jpg" /><br />Pode-se pensar, a partir de então, que as ações e os olhares dos personagens para a câmera não mais serão dirigidos apenas ao espectador, mas para a própria câmera, posto que agora sua presença física e participativa é reconhecida e admitida e se encontra na mesma dimensão ficcional a que eles pertencem.<br /><br />A câmera agora faz parte do espaço e de toda uma dimensão ficcional que também a abarca, junto aos personagens. Portanto, a situação de perseguição nem sempre corresponderá ao bandido que corre atrás do mocinho - essa ideia é aqui deturpada; agora não só o bandido persegue o mocinho, como a cãmera (tanto em sua função registrativa como em sua condição física) os persegue. Não que os queira presos (porque muitas vezes são capturados e logo na sequência estão livres de novo), mas a câmera quer registrar a reação por parte dos personagens. Ela os estimula, eles reagem. Numa cena, em que um mágico à Meliés brinca com a composição do quadro, nossos heróis (pois acho que nem ao menos podemos definir quem é herói e vilão neste filme) aparecem e desaparecem, fazendo poses altivas, que confirmem sua posição como herói ou vilão, para, depois, fazer desmoronar essas imagens, tornando-as até cômicas de tão desajeitadas. Quando, por exemplo, na mesma cena do mágico à Meliés, o cego perde seus óculos e começa a procurá-lo, tombando em tudo pelo cenário, e um dos bandidos come sem parar, emporcalhando-se todo.<br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">No entanto, mesmo em suas sequências mais desconexas, ainda se encontra no espaço amostral desse cinema, uma cena de grande carga dramática: a cena em que os bandidos sofrem um acidente. Vemos no quadro, que afasta-se do chão lentamente, um carro em chamas, um homem estirado no chão, os bandidos que, após terem invadido um carro, vão embora, deixando de fora do veículo uma mulher que vinha nele. E, de fundo, uma música triste. Logo após um dos bandidos tenta contar a estória do filme e estabelecer, finalmente, um fio narrativo coerente. O que não acontece. O bandido é então acometido por uma torta na cara, enviada por alguém provavelmente da equipe de filmagem de Tonacci. Ele compreende a mensagem e desiste de continuar a estória. </div><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 205px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462444252430711266" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhRIrRx0rCzpd-Z66ao6Q4-m6zp2ygwdBRNUYmuWKKMkiZp6DAv3vHEiJMjEMbL2DJnzm-6v9vjKts-FyZaRiA5UEfbgxE9kMb8dhsRpRwot5SwJ8PjtT12zcG79JKF3BU1-vegA73ybuv/s320/bscap0068.jpg" /></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 205px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462444248355309682" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTrUR3xhwFIdR02ypv5MPcQIv9okzeF3nX4WM-k4CBwM96mdmmB_15R_gws7X_9xfegTrYjbABwuvG85ONVZvDr4fYoT3VIHJhAQnqxng2-cizv1Ig3o9hvjiVD0fmhzDNsi1VbYhngo54/s320/bscap0071.jpg" /><br /><div align="justify"></div><div align="justify">O filme termina com risadas debochadas dos bastidores, enquanto um dos personagens insiste em cantar "Eu sonhei que tu estavas tão linda", enquanto se veste no banheiro. Parece então que já vimos de tudo no cinema. Talvez.</div><div align="justify"><br />Bang Bang é a contribuição do Brasil à pesquisa estética que era proposta e realizada em praticamente todo o mundo, com maior vigor nas décadas de 60 e 70. Tonacci vai em busca de um novo cinema, sem fórmulas premeditadas, sem convencionalismos, sem técnicas manjadas, e nos oferece uma visão ousada e inovadora. Quebra antigos conceitos e lança sementes para o florescimento de outros. E assume a impossibilidade de velar a dimensão ficcional do cinema. </div></div></div></div></div><br /></div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-8460729133947213542010-03-25T10:58:00.000-07:002010-03-26T09:39:21.537-07:00Leite, um filme de Semih Kaplanoglu.<img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 226px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452980095906325506" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzhtOk1d9WJXzp0kMTBbuWTqx9N-F5p2fXUWo-Bjj5w0JlMlvnDnB6hEJzSLmR_mlYgf7XRXoWtonSM4SaMziPm9cM6aQ4ND3K00Ep7QLeYeHU2BUkZHNpFpxYdfAEz0-424Ync9N-vcwh/s320/Sut+aka+Milk.jpg" /><br /><br /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452981471776376338" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifmpgwIfXREJEpH0f9jmrPlz2T5lrV6vOz715fZTkIrE-KXD1T8FCgr9Cm7kVuwJ8pfmy-lwYAchvX0rCvHjSFSUQACd6Ni3og_ucaRZ5QIdljX0KuU9H-EzvLW5F01YkKlDdcYPQACF4L/s320/bscap0003.jpg" /><br /><br />Parte 2 de uma trilogia que decorre inversamente a vida do poeta Yusuf, Leite nos propõe uma experiência sensorial não diria nova, mas que é tendência na imagem cinematográfica dos diretores que se inserem na linha do cinema artístico. Um cinema que utiliza recursos naturais da própria paisagem, como a iluminação, Semih rechaça o artificialismo dos recursos comuns próprios do cinema comercial. Ademais, não é um filme difícil de digerir, pela sua beleza paisagística que atrai os olhares contemplativos. No entanto, é um filme que deve se desprender dessa visão superficial (que sobrepõe a imagem à estória) por estar carregado de símbolos em sua narrativa imagética.<br /><div><div><div><div><br /></div><div align="justify">Na verdade, me pergunto como metaforizar certos conceitos num cinema que procura aderir às teorias do olhar contemplativo característicos nas obras de diretores como, por exemplo, Tarkovsky. Se Tarkovsky prescinde das metáforas, mesmo que seu cinema seja um artifício poético, onde e como a semiótica poderá identificar e definir os signos de um filme que nasce de um paisagismo exacerbado, ou seja, principalmente do superficialismo da imagem. Se Semih consegue conceber seus próprios signos em suas imagens, então é preciso que eu faça uma revisão no meu olhar cinematográfico. Não é isso, no entanto, uma crítica, mas uma dúvida de um leigo como eu. </div><div align="justify"></div><div><br /></div><div align="justify">Voltando ao filme... </div><div align="justify"><br />É importante destacar a beleza das imagens realçadas principalmente pelos cenários e pelas cores leitosas bem característicos do filme e que claramente aludem ao título. Como disse, não há iluminação artificial, mas para compor a cena bastam a iluminação natural do cenário, mesmo que não haja, e isso acontecerá em algumas das cenas já no final. O céu é um elemento bem recorrente, mas sempre aparece manchado pelas enormes nuvens esbranquiçadas. Semih prefere os cenários grandiosos, espaçosos, mas não relega de todo os cenários internos, nem prescinde do closer ou do primeiro plano. </div><div><br /></div><div align="justify"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452978924490136130" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhmBjbCrKyW5onMDmSkFr8oNr2xu7zp1tHY7k-qWiOcrW0JRK4ysjDm5PTR3VJzhI-uPtDGv0fgfCukbd9sX-ophiZQNdJ196gyDZuwf7oScF66kU-n6lxMu0VAsxFGrHpeABL0HVgWOay/s320/bscap0007.jpg" /></div><div align="justify"></div><div><br /></div><div align="justify">A beleza do filme está entranhada, também, na simplicidade de sua narrativa. Para os olhares despretensiosos, o filme parece o registro de um adolescente que deambula aqui e ali, escrevendo poesias e trabalhando para a mãe. Mas a temática adolescência possibilita um universo de temas que se pode explorar e discutir, ou que serve de motivo para dissertações e estudos científicos sobre o assunto. O que, no entanto, descarta essa possibilidade, é a apatia e a inexpressividade do jovem protagonista Yusuf. Personagem, eu diria, atípico, que não encerra características universais presentes na juventude, Yusuf não sai à procura de nada, não se preocupa em se satisfazer fisicamente, ou satisfazer os vícios de sua efervescência hormonal, não questiona nada e não tem grandes pretensões. Na verdade, não parece se preocupar com muita coisa, exceto com sua mãe, que, viúva, se ver apaixonada de novo em determinada parte do filme.</div><div><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify">Se Yusuf, portanto, não atende às características do típico jovem em crise existencial ou de identidade, ou se seus hormônios explosivos não o impelem à tentativa de satisfazer prazeres físicos, então ele personifica, nos moldes de uma visão romântica do artista, um poeta errante. Ou seja, Semih traz ao mundo um personagem um tanto metafísico. Se os problemas de Yusuf não são terrenos, ou melhor típicos, então são problemas artísticos que se encerram unicamente na arte. Mas Semih não explora a arte de Yusuf, ele simplesmente o persegue e o registra. A verdade é que Yusuf é um personagem alegórico, sim. É um poeta errante bastante humano e, ao contrário do que eu falei, não se encerra na arte. Talvez isso seja uma peculiaridade característica. Se assim for, Yusuf é um personagem bastante peculiar e traz à tona certas problemáticas do nosso mundo. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div><br /></div><div align="justify">Exceto quando sai pra vender leite, a pedido de sua mãe, Yusuf caminha errante por quase todo o filme, sem objetivos nem grandes pretensões, como já disse. Yusuf não procura e, no entanto, sempre encontra alguma coisa, e só por isso é possível identificar e caracterizar o personagem Yusuf. Na primeira vez, encontra uma amiga com quem acaba pegando carona. Depois, encontra o professor a quem pede conselhos sobre suas poesias. Afinal, encontra uma garota por quem demonstra certa simpatia. Em nenhum desses encontros, porém, Yusuf obtém sucesso seja qual for seu objetivo. Com a primeira garota, Semih apresenta uma situação de incomunicabilidade evidente entre os dois personagens. O problema de comunicação, na verdade, está em Yusuf; essa hipótese é sugerida a partir do momento em que a garota, ao atender um telefonema, sai deambulando pelo cenário enquanto conversa longamente no celular; essa mesma hipótese será confirmada no decorrer do filme. Já o encontro com o professor, a ausência de comunicação também é evidente, mas de uma forma muito mais antipática. Yusuf e o professor bebem cerveja num café, sem trocar uma única palavra. Quando se pronunciam, não é para se corresponder, mas para simplesmente pedir outra cerveja. De outra forma, correspondem-se pelas trocas de olhares apáticas ou mesmo incisivas. A cena sofre um corte brusco no exato momento em que os dois conseguem trocar palavras. Já no último episódio, a relação é mais simpática; Yusuf consegue manter uma comunicação estável, até fluente, eu diria, com a nova garota; os dois personagens não parecem se preocupar em procurar algo para dizer. No entanto, essa relação não é duradoura, não mais a encontramos durante a narrativa.</div></div><div><br /></div><div align="justify"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452977755804414690" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYpQietz9sy4WREtxR-13IV0sHZnDR_0YVVbsUJJB8SeALqnO9gySGya0twBEddfvpCzRZVOaWA0XxSsev84yXTE2gRO71lLoARXeDFHwsShRWrCsINsMRwUF2orzBdcBeXc9cdf_6SEww/s320/bscap0002.jpg" /></div><div align="justify"><br />É interessante observar que essa incomunicabilidade não serve unicamente para atestar um problema recorrente na juventude ou na sociedade atual, mas para suscitar a preocupação de se encontrar um silêncio, que hoje é incomum, nessa mesma sociedade. Tomando como voz o próprio Semih, ele nos atenta, em entrevista, que o silêncio em seu filme não é o silêncio absoluto de todas as coisas, mas um silêncio que ressalta o murmúrio da natureza, e ratifico com minhas palavras, que serve como oportunidade para se escutar o que não se diz entre os homens. Não estou sendo aqui naturalista como o filme, apenas analisando uma leitura possível aos meus olhos. </div><div align="justify"><br />Desse silêncio onde paira o espírito da incomunicabilidade, os planos terão obrigação de nos atentar à paisagem, já que os personagens não nos têm muito a oferecer. Por isso, Semih capta paisagens naturais, na maioria das vezes, ao mesmo tempo em que situa seus personagens no início desse plano. Muitas vezes, os próprios personagens observam essa paisagem junto aos espectadores. Nesse sentido, é um filme bastante contemplativo, apesar de que os personagens estão, quase sempre, à vista, para que não nos esqueçamos de sua estória.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div></div><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452977468829865282" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPfkKuXiGf3PihvDYeQAs05Xx2ABl5bDi0gUg1GkvQNchF2Z9hckpznPjRHrt5kMPoe_CwjtyGHD5R1eW2htiQAAvad_w-jgCV4i4H0lMUVeUIchdfNPHZsO9x11fAy1-FrKJIRgccVJ0f/s320/bscap0010.jpg" /></div><div></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Quanto ao tempo, o filme segue um ritmo um tanto quanto peculiar, apesar de seguir uma tendência artístico-cinematográfica atual, com planos fixos e extensas tomadas. Semih tenta estender o tempo perceptivo com seus planos fixos e demorados, mas quebra esse ritmo com alguns cortes que eu não diria dispensáveis para sua diegese. Em alguns diálogos, principalmente nos que os personagens se situam em espaços diferentes, o corte é bastante recorrente. Essa é uma grande diferença entre Semih e, por exemplo, Tsai Ming-Liang. Este último aproveita os cenários de forma que os cortes sejam completamente descartáveis, mas permitindo aos personagens que interajam entre si ou se comuniquem. Esses cortes, no filme de Semih, conferem uma certa dinamicidade que o filme prescindiria, devido a sua estética e a sua ideia inicial. Mas Semih não se preocupa em seguir parâmetros ou tendências.<br /><br /></div><div align="justify">Leite é um filme do qual não despontará nenhuma epifania. Mas vale a pena vê-lo, seja pela beleza de sua simplicidade, seja pela simplicidade da própria narrativa ou da própria estória, ou mesmo pela experiência memorialística, mas nesse sentido, será imprescindível ter em mãos os dois outros filmes que completam a trilogia de Yusuf.</div><div align="justify"></div><div><br /></div><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452980658683181394" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgChxBTvRAKVtX2FKraLqV3aeImx-gx5DvVYad6b4uGKpayeTmwLhE-WIHiVK_XKAg-EPqGNOuaUzsWTTJ0Pd5mtoUeA3hU8OybVFGjHfNs4VoDol5ids2o8t1nrzex-d9UCJHXywRqbCox/s320/bscap0004.jpg" /><br /><br /><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 174px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452979255227210034" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilm_z3vSt0miQJbK8YOFyEn1el4oXYFRCFGgS0Zb-PS57-5jpjRoTv6yh-8QboAQQCzYvCMoXfRCYTcS0fsv5Na4SKsxsm0031CqyXeAdSjB7wDP2db6QunT1iIOm4kSZfvSQTFUVMOhWN/s320/bscap0006.jpg" /></div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-54148500120459476772010-01-22T21:22:00.000-08:002010-01-22T21:32:47.218-08:00Amor, Sexo & Stravinsky.<div style="text-align: justify;"> Não vou resistir, pensou. É mesmo um redemoinho, estamos no mesmo barco. Não resistiu. A última palavra de adeus fora dada, cumpriram com a transação de suas vidas, na qual um pagava com o corpo e com as carícias apaixonadas. Comunhão espiritual, carnal, compactuavam-se. Agora seus espíritos imiscuídos irrompiam-se, rescindiam-se no último golpe dilacerante: a negação do marasmo idílico – deram o que tinham para dar. Ela quis assim, ele entendia, mas não aceitava. Necessidade de novas faces, de novos momentos – não que não tivesse achado o amor, não que não o tivesse amado. Era uma Don Juan desejosa, que compreendia o amor e queria compartilhá-lo, não atestar sua intensidade, não para qualificá-lo, mas para disseminá-lo. Multiplicá-lo. Saciedade? Se o abandonou, não foi por o não desejar, ou por o não amar, mas por desejar outros, desejar amar outros. Talvez fosse adepta e sustentasse o discurso do hedonismo. A verdade é que se sentia livre para amar – e amar em si era um ato de liberdade, num mundo coercivo, impregnado da sujeira dos entulhos caóticos dos mecanismos sociais, disputado pelo predatismo sistemático do capitalismo por excelência – e não fazia do amor algo a se expropriar: a reciprocidade, pois, não cria exigências.<br /><br /> Mudava de ares menos para renovar as energias do que para conhecer o novo; não procurava, porque não tinha esperança de achar, mas tinha necessidade de mostrar (ao mesmo tempo que se satisfazia) todo seu desejo, toda sua ternura, tudo o que sabia sobre amar. Pois, qualquer que seja o significado que o conceitue, o amor não é muito mais do que desejo e ternura. E essa experiência ela teve aos montes, todos ou a maioria muito distintas uma das outras, pois não era ela que fazia do ser amado um ser especial, um ser único, mas ele próprio. Ela saboreava o que ele tinha para oferecer, deixava-se conduzir contanto que as mãos do outro delineassem sabiamente os contornos do relacionamento. Ela tinha suas manhas, assim como tinha seus melindres. Peculiaridades.<br /><br />Ela fechou a porta assim que ele entrou no elevador. Trancou. Nenhuma lágrima? Uma talvez. Sua excitação havia esmorecido depois da discussão que tivera. Mas tudo o que ela precisava era de Stravinsky, de sua agitação, de sua veemência, para revolver os sentimentos condensados na alma, para dissipá-los, fazê-los em pedaços com os movimentos dilacerantes, discordantes e irruptivos dos seus instrumentos. Pôs a Consagração da Primavera. Estendeu-se na cama e tentou relaxar. Gostava de Stravinsky porque sua música era inconciliável, discordante, dissonante, como sua vida; Stravinsky oscilava.<br /> <br />A música, tudo ainda era inspiração, aspiração. As notas se compactuavam, lenientes, e cessavam, como quem procura palavras para expressar alguma coisa e hesita em quais escolher. O tom parecia se preciptar, a melodia era derrisória, mas já começava a tender para um suspense grave. Ah, Stravinsky, você era esperto. Finalmente as palavras, as notas, pareciam se articular, pareciam se conciliar, consignadas – pareciam concordar em alguma coisa e queriam dizê-la. Mas, na voz de Stravinsky, qualquer acordo é quase intratável, porque sabem que Stravinsky é imprevisível, e por isso o acordo, qualquer que fosse, seria escorregadio, instável e a harmonia poderia se desfazer tão prontamente ao desejo de Stravinsky.<br /><br />Ela se compactuava à música, fundia-se à música; com a voz dos instrumentos, dava vazão aos seus sentimentos desconcertantes, como se cada movimento interpretasse ou descrevesse uma parte da sua vida, ou melhor, do seu relacionamento amoroso, de como começou, de como se estruturou num equilíbrio terno e espontâneo e de como tudo se desfez, se desmoronou ao sopro avassalador das vontades, dos desejos que a instablizavam. Não os desejos que a fazia entregar-se a ele, mas os desejos de se entregar ao mundo; não fisicamente, apenas, não sexualmente, apenas.<br /> <br />A música fluía, paralela às idéias e aos pensamentos. Confluíam-se. Era sua história que era interpretada por uma peça musical. No entanto, o enredo não era nenhuma surpresa – era sua própria história contada. E esperava o momento em que tudo irromperia, o momento dilacerante em que as notas não mais se compactuariam, mas se disseminariam como balas metralhadas a esmo, que rasgariam sua alma; esperava o soco de Stravinsky, as mãos pesadas que revolveriam sua alma condensada. Tinha de esquecer tudo. Amanhã, acordaria e teria sua pele trocada. Sua alma estaria límpida, novamente. Stravinsky seria então trilha sonora para sua nova aventura amorosa. Ou para exaltar a monotonia de um dia rotineiro.<br /><br />A peça havia-se enviesado pelos movimentos instáveis – ela pôde finalmente identificar os últimos momentos que vivenciara. As notas oscilavam, agora, entre as intrigas do dia-a-dia e a concupiscência apaixonada da noite. Tudo convergia. O fim estava próximo. Ela não se surpreenderia com o final – vivenciara isso já muitas mil vezes. Stravinsky era mesmo inconciliável. Na obra de Stravinsky, não havia harmonia para trilhar uma vida – exceto uma vida desconcertada como a dela. <br /><br />De repente, a campainha soou. Ela sabia quem era. Hesitou em se levantar, mas resolveu-se ir. Era ele. Stravinsky explodia como bomba atômica no quarto dela. E ele esperava em frente à porta – sabia que ela abriria. Não vou resistir, pensou. É mesmo um redemoinho irreversível, mas se pode permanecer nele tempo bastante. Ela abriu. Olharam-se, seus olhos se corresponderam, consignaram-se. Foram para cama, ao som dilacerante de Stravinsky. Transaram pela última vez. Sem palavras, despediram-se como se cumprimentaram – com os olhos. Stravinsky já pretendia descansar.<br /> <br />Silêncio. Agora tinha a promessa do amor entranhada na carne. Sentia-se revigorada, mas com a mesma pele que recendia o cheiro dele. Amanhã esse cheiro seria transferido para a cama, que o absorveria e o diluiria. Ele nunca mais voltaria – seria melhor assim.</div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-72567438800626765812010-01-16T06:57:00.000-08:002010-01-16T06:59:48.831-08:00Conversa na parada de ônibus<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5Crenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Olhe, irmão, eu dou <i style="">graças a Deus</i> por ser espírita. <i style="">Graças a Deus</i>! Você veja, ela vai pra essa igreja evangélica a pedido de amiga, senta lá e fica ouvindo o que o pastor diz - vê se isso pode? Ela é <i style="">espírita</i>, não é evangélica! Eu conhecia uma família que me chamava sempre pra visitar a igreja deles, católica, mas eu não ia. Não ia, não, sabe por quê, irmão? Porque nada que de lá vem me interessa, nada daqueles sermões, das<span style=""> </span>interpretações deles, da palavra, nada disso me interessa porque eu sou <i style="">espírita</i>, né, irmão? Eu vou pra lá pra fazer o quê? Eles diziam: "não, que o padre é muito bom e fala coisas bonitas!", mas, sim, nada disso me interessa porque eu não acredito nisso. Eu sou <i style="">espírita</i>, irmão, não sou católica! Não tô certa, irmão?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Tá sim.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- E outra, pode ser a palavra bonita que for, mas eu não acredito em nada que vem deles. Eu sou <i style="">espírita</i>, irmão.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Hum...</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- "Mas vamos lá visitar, você escuta que lindo é o sermão desse tal padre", mas eu não vou, irmão. Não vou. Não adianta. Não vou me corromper. Sou espírita!</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É, é mesmo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Eu não vou pra lá pra ficar vendo o padre rezar uma missa e os fiéis acompanhar e eu lá sem em nada acreditar.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Não é?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Veja, irmão, eu já fui católica, até meus 12 anos de idade. Depois disso, irmão, virei <i style="">espírita</i> – <i style="">graças-a-Deus</i>! </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É mesmo?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Eu frequentava a igreja, né, da minha família. E eu morria de medo, né, irmão, por causa dos ensinamentos. Eu tinha medo porque eu não pensava que eu não podia errar, porque se não eu ia pro inferno, e eu morria de medo, irmão. Não tem isso, né? se você errar, pecar, vai pro inferno; se você fizer o bem, vai pro céu. Pois irmão, eu morria de medo de errar. Quando errava ficava assustada.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É mesmo?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Éé. Aí foi quando uma amiga me levou pra um centro espírita. Aí eu aprendi que não existe inferno nem Paraíso. Que o "inferno e o Paraíso estão dentro da gente e que é o nosso estado de espírito". Mas não tem nada de sofrer pra sempre. Isso que me assustava. Aí eu comecei a frequentar o centro e desde então me considero <i style="">espírita</i>. Há 40 anos, irmão! 40 anos!</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Nossa! É mesmo? Achei que a irmã era novinha, tinha seus 20 anos!</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">(Risos)</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Mas eu dou <i style="">graças a Deus</i>, irmão, por ser <i style="">espírita</i>. <i style="">Graças a Deus</i>. Hoje em dia ninguém mais me convence, ninguém me converte mais! Já me levaram pra igreja evangélica, já tentaram de tudo, mas ninguém me tira do espiritismo, irmão!</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Hum...</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- E eu não acredito em nada que me digam, não acredito em ninguém que não carregue os ensinamentos espíritas, sabe, irmão?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Hum...</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Eu não vou pra outra igreja, irmão, pra não me contaminar. Não preciso, irmão. Eu sou <i style="">espírita</i>. Né mesmo?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- É.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">- Olha, irmão, é o seu ônibus!</p> renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-40281269907867116552010-01-08T23:22:00.000-08:002010-01-08T23:54:00.084-08:00O Otimismo em Gaspar Noé<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBpbqJQYEAzHEJjoYjgzYnV1PKrv25a1OUHtB4cMW4rs-Mv7VY8yv_xXxn51lHOz8Qea1plDzAyWcHJufiyA8qBSRaG6C3ujeLDgW5DmKNs1tBsMA2QOgSCIuzqb9bMUGmxR3YlMLSEfLm/s1600-h/d14879a6-eedb-4dd6-aa4c-d281bc83e342.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424638878882597698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 230px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBpbqJQYEAzHEJjoYjgzYnV1PKrv25a1OUHtB4cMW4rs-Mv7VY8yv_xXxn51lHOz8Qea1plDzAyWcHJufiyA8qBSRaG6C3ujeLDgW5DmKNs1tBsMA2QOgSCIuzqb9bMUGmxR3YlMLSEfLm/s320/d14879a6-eedb-4dd6-aa4c-d281bc83e342.jpg" border="0" /></a><br /><div>Todo o pessimismo das tramas fílmicas de Gaspar Noé – compostas por personagens ordinários que sofrem as mais funestas desventuras e têm de superá-las de alguma forma, por entre os becos dos subúrbios da França, no mais ínfimo dos limbos – não consegue dissimular a bondade e a clemência arraigadas no seu coração. Noé não me engana. Toda a violência explícita e gratuita dos seus filmes parece não passar de componente que serve para um discurso de auto-superação, antitético, do qual os próprios personagens dão exemplos de vida. Piada? Não.</div><div> </div><div></div><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424639353375411778" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 169px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgySpXcspnR6DktY-nZN63eukJUbhIeyVdpxHlwEYbRHIiRoiLdQ7kxacIYkTwK-xQ6_YF86G-Rl7BpSF5P_j4rrBVCaSneKLxs9aHE4dozp0U54ulnUkq3YrvaTZw8l1LzsW7SGhMSLoFr/s320/24cbeff3eafe736e89917856aec64be38242.jpg" border="0" /> <p align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9TAqYdwnzrLovAnmQo71BxGT_7eSyf9RFTishNGU4fRz8envLM_-ariqThhFECpBQtLnvnozdsfHHX8DngAaL4-TWTuXk_KbkmXGHL9BOJG2Wi_i77t3nLrGrERQQEkpR7HCuCZWyEiN7/s1600-h/sozinho.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424641989338749090" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 272px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9TAqYdwnzrLovAnmQo71BxGT_7eSyf9RFTishNGU4fRz8envLM_-ariqThhFECpBQtLnvnozdsfHHX8DngAaL4-TWTuXk_KbkmXGHL9BOJG2Wi_i77t3nLrGrERQQEkpR7HCuCZWyEiN7/s320/sozinho.jpg" border="0" /></a> <em>Sozinho contra todos</em> é o que mais evidencia esse discurso de superação. Depois de toda aquela vertigem alucinada, pela qual o Açougueiro, tão desvairado quanto aterrorizado, declina num espiral destrutivo, atulhado de pensamentos implosivos e reflexões existenciais, depois de executar a filha e, finalmente, se matar, rebenta o clarão para anunciar aos espectadores a segunda chance dos personagens, a reviravolta que anula todos os planos e expectativas, e que vem, principalmente, para desfechar, de forma emocionantemente esperançosa e – arrisco dizer - hollywoodiana, um <em>final feliz</em>. Em <em>Carne</em>, que não é um longa mas um<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmBSpbkMlY7TjZCHgxzXrzspQssek_o8mDWbo7RY2QDUVjXhEF4-20-8nnsKOOf5hdMqokb1Cv-8lQ_aKXHmVk3kq0bXUzO_eaRGJD3GmU5101eZqjM-h9NmNmRIHbii_tZhVIEg_TYJuN/s1600-h/carne.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424641596003962850" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 243px; CURSOR: hand; HEIGHT: 140px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmBSpbkMlY7TjZCHgxzXrzspQssek_o8mDWbo7RY2QDUVjXhEF4-20-8nnsKOOf5hdMqokb1Cv-8lQ_aKXHmVk3kq0bXUzO_eaRGJD3GmU5101eZqjM-h9NmNmRIHbii_tZhVIEg_TYJuN/s320/carne.jpg" border="0" /></a> média metragem, também não é difícil perceber resquícios de esperança no seu final, que não se pode chamar de desfecho. E já que disse isso, que a carapuça sirva também para <em>Sozinho contra todos</em>, já que a vida – ora – a vida continua. Em <em>Carne</em>, o mesmo personagem de <em>Sozinho...</em> (magistralmente interpretado por Philippe Nahon), o Açougueiro, tendo cumprido a pena na prisão e sendo liberto, recomeça sua vida com a dona de um bar, enquanto dirige um carro ao som do rádio.<br /><br /></p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424643402339574594" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 335px; CURSOR: hand; HEIGHT: 218px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTU-hCdI183EzcKro3XGO1s7_72kEkFTHczfZvSCR8TqHm38a66tPN4ninEcW9fFPU0w7eaMeeAhClfbnU43_vremfWFLr-CHgZ-RlMW0CUGOyOd4oHrMx7hbpFWJiWCys4DzOzz3kbINs/s320/irreversivel.gif" border="0" /> <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424643639054217874" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 332px; CURSOR: hand; HEIGHT: 195px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9OPN3z1NAp8xKTiepKYyHut4pAIu4khen2MHYwKvpzaBwHLU1l1g1wD-hO4Pljmt7fzYy1d17bdGWy31yXeCsm7b_HARlJ21wMTk-VjgzVFg7S6B9WS7HH_PU6JnZIZr3ac7dBLb1L-_e/s320/cinema1.jpg" border="0" /><br /><br /><p align="justify"></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiYo1cPEtGl7RiSFC-fft7CCiF1pCfaWZWbAXiumZYkt23uPxMSVZvFnx01l9Qh-nDWAQ8H8Y1rzKu9RwjVOeGBvFV-CQA9MFo1K1-I1NznNGTHIm5Xyebzpyx4lrIY_uiPoSuj0GG9oGZ/s1600-h/irreversible3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424642366979969010" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 255px; CURSOR: hand; HEIGHT: 172px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiYo1cPEtGl7RiSFC-fft7CCiF1pCfaWZWbAXiumZYkt23uPxMSVZvFnx01l9Qh-nDWAQ8H8Y1rzKu9RwjVOeGBvFV-CQA9MFo1K1-I1NznNGTHIm5Xyebzpyx4lrIY_uiPoSuj0GG9oGZ/s320/irreversible3.jpg" border="0" /></a> <p align="justify"><em>Irreversível</em>, seu segundo longa metragem, tem uma estrutura bem distinta, não só entre seus filmes, mas entre películas de outros diretores, e nos confunde quanto a <em>o que é</em> o final e <em>onde está</em> o final. A narrativa do filme, ao contrário do que o título sugere, é genuinamente revertida, tendo seu começo no final e virse-versa. Para se ter uma idéia, o filme começa com a apresentação dos créditos finais e, na sequência, o que seria o final do filme – é ao menos o final do enredo, da estória. As cenas (tanto por causa da brutalidade psicológica e a violenta interação e comunicação humana) são brutalmente bem produzidas em planos-sequências, com o acompanhamento de uma alucinada câmera que flui rodopiante, e atuações excepcionais, como as de Vincent Cassel, Albert Dupontel e, é claro, Monica Bellucci. No entanto, a reversão cronológica da narrativa não faz convergir toda a nossa tensão e curiosidade a um só ponto; pelo contrário, ao descobrirmos, num filme que se passa de frente para trás, o próprio final de sua trama, vemo-nos disposto apenas a aguardar, não menos curioso, a causa de seu desfecho. </p><p align="justify"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424644027088455746" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 182px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUrNLBAGq6qpfBtlMAtMnWP20pPhZeHRNBnOEDi50G0NMlkoFau0onM8EXYDqRKs4DJR3DQUQD1lXpbJQxp49AN7c_REZWSsiU6nladCARARh_0Wh32r_P3ggmAdLvrA2dkqUYViSAsAq3/s320/irreversivel2.jpg" border="0" /><br />Afinal, depois das duas cenas mais brutais, depois de todo o frenesi da festa em que os personagens se encontram antes de todas as desavenças e desventuras, o que <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibkLqdKzU-berRqoHggiKgnjSAtFYpYl7Ak3ks9pTzpPBGITbdTUenatsB7jvAnF7hGXQtzajxozSZXy_gd_7U8NZbw1xwnV0bXLKM265tRSm4k_kty95oiSujjAUFwQDUfaGj-22Yp7m8/s1600-h/irreversivel.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424642678563456946" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 266px; CURSOR: hand; HEIGHT: 160px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibkLqdKzU-berRqoHggiKgnjSAtFYpYl7Ak3ks9pTzpPBGITbdTUenatsB7jvAnF7hGXQtzajxozSZXy_gd_7U8NZbw1xwnV0bXLKM265tRSm4k_kty95oiSujjAUFwQDUfaGj-22Yp7m8/s320/irreversivel.jpg" border="0" /></a>seria o começo do filme acaba sendo o seu desfecho. De um quarto tranqüilo e a revelação de uma gravidez, cheia de exultação partilhada por um casal (Marcus – Cassel e Alex – Bellucci), para um brando, tênue e resplandecente campo verde, onde Alex lê, na quietude proporcionada pela paisagem, e onde crianças brincam saltitantes e rodopiam com a câmera. É nesse sentido que eu alego e defendo a benignidade e clemência de Noé e seu otimismo escamoteado pela violência física e psicológica de seus filmes. </p>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-12658218945804529472010-01-06T23:59:00.000-08:002010-01-07T00:05:59.621-08:00Eu, adolescente e o Cinema<p align="justify">Fui ao cinema, ontem, a um típico multiplex no meio do shopping center, onde se reúnem caoticamente grupinhos de adolescentes da <em>nova moda</em>. Fui ver Atividade Paranormal, filme cujo gênero (terror) não me apetece muito. No entanto, num espasmo súbito de coragem, pus-me em frente ao espelho, olhei nos meus olhos e disse: Renan, você irá. E fui, mais pela minha namorada do que por qualquer outra coisa. </p><p align="justify"><br />Não acho que preciso narrar todas as vicissitudes, que ocorreram até certo ponto de forma amistosa e incólume; vou citá-las algumas, ao menos. Primeiro, tive de enfrentar uma fila caoticamente titânica para adquirir os ingressos. Os corredores se congestionavam quilometricamente, e quanto mais gente chegava, mais o lugar se obstruía. Esperei quase uma hora, sozinho, desolado, abandonado (enquanto Laura maquilava milimetricamente cada detalhe de seu rostinho lindinho, em frente ao espelho, na casa da sua prima). Inevitável e incrivelmente, me amparei nas telas hipnóticas do meu celular, jogando um joguinho tremendamente legal, enquanto a fila caminhava a passos raros. Afinal, chegou ela e a prima, deram um oi (tremendamente rápido) e foram almoçar (eram umas 17h30). </p><p align="justify"><br />Bom, até aí, tudo bem, tudo tranqüilo, até encontrei um amigo porra-louca dos tempos que eu ainda estudava com mamãe na mesa de jantar, pra prova do próximo dia. Dos tempos, inclusive, que ele dividia revistas pornográficas com os amiguinhos (eu estava lá), e passávamos a tarde navegando pelas curvas vertiginosas e pela cútis resplandecente das mulheres nas páginas das revistas e na telinha do computador – tudo isso enquanto nossos pais se orgulhavam perante os amigos contando a eles que seus nobilíssimos, respeitáveis e dedicados filhos estavam reunidos, quebrando a cabeça num trabalho escolar. Verdade, mas não passava de uma verdade teórica, hipotética. Eu fui uma criança normal, nesse quesito, no que se refere à nossa sociedade masculinizada, construída à base do discurso imagético da pornografia. </p><p align="justify"><br />Depois... </p><p align="justify"><br />Tudo começou dentro da salinha (saleta) do cinema, que estava abarrotada (sem exageros, pois tinha gente sentada nas escadinhas, e eu estava entre essa gente). Possivelmente, venderam mais ingressos do que a sala podia comportar. Vários grupinhos tinham se amontoado em uma só fila de poltronas, e todos os jovenzinhos se sentiam acomodados e protegidos e, principalmente, deslocados. Todo aquele conforto e segurança propiciavam empolgação transbordante para horas de sarro e algazarra estridente típicos de adolescentes espalhafatosos da <em>nova moda</em>. Era de se esperar. Comentários de todo tipo ressoavam por toda sala; primeiro, eram dirigidos a eles mesmos, como se todo mundo ali se importasse com suas particularidades e girasse em torno deles. Depois, o sarro se dirigiu para todo mundo, grupinhos se interconectavam, discutiam e se xingavam no escurinho do cinema (o que garantia a segurança do anonimato). Tivemos de suportar suas extravagâncias. Aquilo, absolutamente, sem dúvida alguma, não era um cinema. Era um antro de cachorrinhos mimados por piruas mesquinhas e que latiam um para o outro sem poder se atacar. </p><p align="justify"><br />O filme, enquadrando-se no gênero terror, obviamente tentava satisfazer (que modo mais estranho de garantir diversão) o público com suas cenas tipicamente <em>aterrorizantes</em>. E em cada suspense, em cada cena <em>angustiante</em> e <em>tenebrosa</em>, as garotinhas davam gritinhos estridentes que se confundiam com os gritos (se é que havia algum) da personagem no filme. Foi algo realmente interessante, acho até que boa parte dos espectadores se assustou mais com os gritos deles mesmos do que com as cenas do filme. E que filme – francamente, sinceramente – merda. É verdade que eu achei criativo, mas – vá lá – já temos a Bruxa de Blair. O filme se encaixa forçosamente no gênero terror justamente por causa do enredo e suas vicissitudes manjadas de qualquer filme de terror: o cara sarcástico e incrédulo, a garota que os espíritos perseguem etc etc. Ao menos a protagonista não é gostosa (haha). Isso, sim, foi original, apesar de que, nesse caso, as gostosas são imprescindíveis. </p><p align="justify"><br />Todos aqueles adolescentes imbecilóides, superficiais, superfaciais, lançando risos insinceros, espalhafatosos, vivendo num mundinho cheio de verdades inconcretas – isso realmente não me interessava, mas eles eram chatos. Revestem-se de uma carapuça falseada, reproduzem idéias e personalidades e têm a coragem de insinuar toda essa superficialidade vazia para – agora vou apelar para o discurso manjado do pacato cidadão – para trabalhadores que só querem, no fim do dia, algumas poucas horas de diversão e relaxamento. Acho que todos nós temos a mesma sensação ao encarar uma dessas figurinhas repetidas que são esses adolescentes midiáticos (porque se vestem e se revestem de mídia, de propaganda), puras reproduções mecânicas de um sistema falho e inorgânico. São carcaças vazias, puras carcaças. Lacunas impreenchíveis. E, principalmente, possuem uma mentalidade socialmente apática. E, adivinha só, isso não é individualismo. Por fim, levando em conta os tipos ideais weberianos, caricaturalmente falando, são personas superficiais, carcaças vazias. Não quero, no entanto, que minha crítica se estenda a uma reflexão filosófica existencialista. Paro aqui, enquanto o texto ainda conserva o sabor de crônica. </p><p align="justify"><br /><em>Que o Sr. Anderson (dos filmes de terror), não leia esse texto.</em> </p>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-44306598320624840382010-01-05T21:13:00.000-08:002010-01-05T21:21:06.508-08:00Nós, cristãos e crianças.<div align="justify"><strong>Parte 1: O cristão decente</strong><br />Pernas cruzadas, silêncio respeitoso, gestos curtos e prudentes. Algumas palavras trocadas, discretamente, despretensiosas. Pergunta, resposta, silêncio. Pergunta, resposta, silêncio. A TV sintonizada detém a atenção. Faustão tenta ser engraçado e faz comentários estúpidos. O programa decorre aos trôpegos indiscretos e constrangedores da arrogância discreta de Faustão, e se arrasta, então, tentando se apoiar nos truques midiáticos e nos comerciais do plin-plin. A telinha absorve a mente. Alguém reclama do calor – realmente, a sala está abafada. Alguém abre a janela e uma brisa suave penetra desesperada e faz redemoinhos por entre os cabelos, e um alívio percorre o corpo de todos. A noite está resplandecente, e uma lua pálida projeta-se pela janela. “Nossa, estava muito abafado”, comentam. “São dias quentes”, outro comenta e todos concordam. “É o aquecimento global”, arriscam. E de novo o silêncio paira sobre a sala, embora haja alguma tentativa de confabulação. Alguém pergunta se querem um copo com água. Alguns aceitam, outros simplesmente agradecem. Há uma tensão coerciva no ar – todos têm medo de cometer qualquer imprudência.<br />“Hoje em dia, tudo está muito mudado. Não há mais respeito – você, que é do interior, você percebe?”<br />“É. É mesmo. Você veja, quando você era criança, você não pedia benção a seus pais? Chegava de um lugar e: ‘benção, meu pai ou minha mãe’ – não era assim? Hoje em dia não tem mais respeito. Tratam como se a gente fosse qualquer um, ‘e aí, bicho’, é assim; cheio de gírias”.<br />“Concordo. Eu lembro que meus pais exigiam que pedisse a benção. E, na frente das visitas, não se podia falar! Como havia mais respeito naquela época, mais disciplina. Você vê, é por isso que hoje há tanta desgraça no mundo, filho matando pai etc etc. Se ninguém respeita os pais, o que dizer da palavra de Deus, que está acima de tudo? As coisas mudaram bastante”.<br />Sim, mudaram na sua época, na sua geração, e mudarão na minha; nessas horas, ninguém critica a própria geração, sua própria conduta. É assim, uma se sobrepondo a outra, e todas querendo para si o título de melhor conduta cristã para, posteriormente, julgar como bem entendem a próxima geração e tentar conduzi-la a seus moldes. Todo sábio reclama para si seus discípulos. Todo discípulo quer, um dia, ser sábio para reclamar os seus. A palavra na boca de um ancião decrépito é revestida de ouro e possui a força de uma verdade. Escutemo-na.<br />“Você, que morou no interior, sabe como é a disciplina. Eu fico maravilhada com o povo do interior, como são educados, disciplinados! E como respeitam a religião! Você vê, bate as 6 horas da noite, todo mundo tira o chapéu pra rezar! E o que quer que façam, pedem bênção ao pai, a mãe.”<br />As coisas mudaram. É, as coisas mudam. Que tapa na cara dos conservadores, que iluminação! Que descoberta! Não me interesso por esse velho discurso manjado sobre como as coisas estão diferentes e piores, de como a juventude se perdeu, de como o país caiu na miséria e todo esse blá blá blá cheio de empáfia e falso moralismo sobre tudo e todos. De alguma forma, estamos todos em contradição. E eu não me importo. Não me importo se eu concordo ou discordo deles, mas não quero ouvi-los, não gosto de quem toma partidos extremos. Sou da incerteza, do imponderável. E não me mato em dúvidas. De fato, é um ciclo vicioso, e todos querem desatar a malha que teceram. Provavelmente não se lembram de como lutaram contra a repressão do seu tradicionalismo cultural, de como ao menos puderam respirar melhor depois que as correntes conservadoras começaram a ceder e afrouxar. É a memória curta e a falta de reflexão crítica. Absorvem informações demais que tomam todo o lugar na mente e a deixam mais decrépita e miasmática do que o tempo consegue fazê-lo. Mas eu não quero criticá-los. Arrisco:<br />“Só que a promiscuidade é bem frequente, né?”.<br />Com certeza a promiscuidade no interior é grande, mas isso todo mundo abstrai, nessas horas. É papo de cabra macho que abusa das investidas e dos sucessos para contar vantagem sobre os amigos. Mas isso é entre amigo homem. Isso não é conversa que se tenha com uma dama, numa reunião de família.<br />Todos concordam e se calam; esqueçamos o assunto. Não é coisa que cristão decente discuta. Voltemos a Faustão. É reprise. Porra.<br /><br /><strong>Parte 2: Retorno à infância da Cognição<br /></strong>Uma garotinha corre pela rua, entre as poças de lama das chuvas torrenciais da tarde, seu vestido drapeja esvoaçante; outros dois menininhos correm também e sorriem estridentes. A garotinha pisa, subitamente, numa das poças de lama que respinga por tudo quanto é lugar e também pelo seu vestido. Ela não se importa, apenas ri, em toda sua inocência, despretensiosa, é como se satirizasse toda essa vida coerciva, rude e exigente. Ela apenas não sabe o que virá. A vida não existe para ela; apenas o momento, as calçadas resfriadas, úmidas, que resistiram durante o dia todo à descarga torrencial de gotas pontiagudas em sua carapaça desgastada e esburacada; e a noite resplandecente, que chegou como uma notícia alegre depois do temporal monótono da tarde, e a lua gélida e protuberante na imensidão escura do céu, as estrelas silenciosas que se escondem nas nuvens para depois reaparecerem com brilho mais intenso e mais evidente; e as nuvens roseaplúmbeas que escorrem lenientes pelo céu e se fundem, e se transformam e se reformam e finalmente se redefinem, mutáveis e incertas. E as luzes lacrimais dos postes, difusas como lágrimas nos olhos. Apenas o momento e o espaço, em sua coexistência limítrofe, em seus conceitos abstratos, é tudo o que existe para a menina. Enquanto ela tiver espaço para correr e seu momento de diversão, enquanto seus pais permitirem que brinque com seus amiguinhos, ela será feliz – numa eternidade que durará por alguns minutos.<br />A infância, apesar de ingênua, não é facilmente modelável, é teimosa e resistente; é quando as leis sociais e os regramentos convencionais podem ser transgredidos sem maiores punições. É como Adão e Eva no Éden antes de experimentarem o fruto do conhecimento. Na verdade, o mito de Adão e Eva é uma metáfora perfeita para explicar a ingenuidade e inocência da criança.<br />Sigo meu caminho, mas me aproximo delas. A menina, mais próxima, me olha e mantém seu olhar, porque eu olho nos olhos dela. Eu sou mais fraco, desvio os meus primeiro. Ela continua sua brincadeira. Eu paro e observo. A menina percebe que eu ainda estou ali. Ela se vira e se aproxima. Eu não me sinto altivo, observando-a se aproximar, pelo contrário, é como se a menina fosse uma espécie de sábio que dominasse todo tipo de conhecimento, e eu, apenas um discípulo atormentado pelas dúvidas e questões humanas. Sinto-me acuado. Olhamo-nos.<br />“Você é um estranho. Vai me seqüestrar?”, ela diz.<br />“Não, não vou te seqüestrar”, respondo, não menos aliviado da fraqueza que me acometeu. “Você deveria ter cuidado, a rua está esquisita”, digo.<br />“Não quer brincar?”<br />“Não, obrigado. Por que não volta pra casa?”<br />“Estou brincando, não ta vendo?”<br />Não sei o que dizer.<br />“Mamãe diz que todo mundo que é mais velho sabe de muita coisa e pode me ensinar muita coisa”, ela diz.<br />“Eu não tenho nada pra te ensinar. Você é que me diz muita coisa.”<br />“Eu?”<br />Os meninos agora se aproximam, desconfiados. Acho que pensam que sou um seqüestrador e em suas mentes infantis e fantasiosas, pensam em me fazer em pedacinhos, como seus super-heróis fazem com os vilões. Mas eu apenas os observo se aproximar.<br />“Por que não volta a brincar com eles?”, pergunto a menina, mas os garotos já chegaram.<br />Eles se olham e os meninos não têm mais a expressão receosa no rosto. Eles me olham curiosos agora.<br />“Quem é você?”, um deles pergunta.<br />“É meu novo amigo”, a menina se precipita em responder.<br />“Não, não sou seu amigo. Sou um estranho, você não pode fazer amizade com um estranho, assim, de uma hora pra outra”, eu digo em tom paternal.<br />“Por que não vem brincar com a gente?”, pergunta o outro menino.<br />“Não posso, tenho que ir”.<br />Não sabemos o que dizer agora, mas não é nada constrangedor estar com eles. Sinto-me um pouco mais livre, e uma sensação de que sou mais velho do que eles me acomete. Estou de volta à realidade, nada de dimensão filosófica. Por um momento, penso em como cheguei até onde estou, em como me transformei no que sou hoje. Penso por qual caminho segui e quais os acasos me guiaram por aqui e me desviaram do caminho convencional que meus pais desejaram para mim. Tiro um cigarro da carteira no meu bolso e, com o isqueiro, acendo. Os meninos, de olhos arregalados, surpresos, exclamam, como se eu tivesse cometido o maior crime do mundo:<br />“Você fuma!”<br />Perdi meus créditos com os pirralhos, eu penso. Agora me rebaixaram a um nível quase ignominioso, desprezível. Eu os entendo, eu mesmo me reprimo por isso. Mas eles ainda não entendem. Talvez nunca entendam, e, com suas mentes obtusas, abominarão todos que praticam esse ato execrável para a sociedade convencional.<br />Por um momento, achei que tinha sido iluminado com todo o conhecimento lúdico e transcendental que só as crianças propiciam, achei que tinha alcançado uma espécie de satori, e quase cai na ingenuidade tão aclamada e exaltada por Kerouac. Impressões impressionistas, apenas. Eu era eu e sustentava nas costas o baque da realidade em peso. E as crianças correram desengonçadas, foram continuar suas brincadeiras em outro lugar. Logo estariam transando uma com as outras, elas mesmas praticariam ménage à trois, e os conceitos de amizade e amor se confundiriam e, finalmente, elas alcançariam o conhecimento absoluto, a verdade que move o mundo, e toda essa abstração e esse transcendentalismo de que falam os discursos metafísicos das religiões e seitas e filosofias sobre existência humana.<br />Ou simplesmente nossa sociedade convencional e situacionista consiga moldá-los de acordo com seus contornos e suas subjeções impositivas, com seus regramentos e seu tradicionalismo miasmático e estático no qual ela mesma definha e se putrefaz. Mas a carne é fraca, o pecado é tentador. Segui meu caminho enquanto os pirralhos me abominavam por tudo o que eu sou e por tudo o que elas pensam que sou. Fui embora, sob essa noite quase límpida e impoluta, sob a imensidão escura do céu, sem rumos e sem profecias. Sem verdades. Só o pensamento e as vontades. E os desejos sexuais.</div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-11513329103799218822009-12-23T12:03:00.000-08:002010-01-24T10:11:50.612-08:00Pornopopéia - nem sempre<div align="justify">Nem sempre. Na verdade, a noite transluzia e fluía leniente ao sopro de brisas gélidas que perfuram a alma e o corpo como agulhas. A atmosfera liquefazia-se nessa transparência lúcida e aparentemente impoluta que carregava o ar. Noite vívida. E o céu rejubilava-se em sua imensidão infinda. Apenas algumas nuvens se condensavam como esperma e se dispersavam, tímidas, despretensiosas. Sem receios. Sem anúncios de futuras tempestades. Mas os ventos dançavam em redemoinhos inofensivos e invisíveis, invadiam as janelas e varandas por entre os dédalos de concreto armado, e iam incomodar seus moradores sonolentos e os insones e zumbis de madrugadas como esta. Madrugadas como esta coincidem com uma boa programação na TV, para estimular a concorrência. Deixo de observar o céu reluzente sem estrelas e volto à TV. Mas Jô não me estimula, seu humor sem exageros e sua postura galante me agradam, mas não estou a fim. Repasso os canais pela terceira vez, os mesmos canais, os pastores pregam a palavra divina com todo fervor e ascetismo, jovens rapazes caçam vampiros noite adentro, entrevistador e entrevistado se olham sem saber o que falar, enchendo lingüiça com as mesmas perguntas e com as mesmas respostas, e a indecisa MTV, entre vinhetas críticas e propagandas de celular, exibe clipes de bandas clássicas – ABBA, Blondie, Clash. Não há putaria, e eu chego à conclusão frustrante do quanto a TV aberta é obtusa e pouco diversificada. É como se minha mente se estruturasse a partir dos programas: se eu não tenho muito o que falar, se tenho pouco assunto, não existe grandes possibilidades de sociabilização. E o pensamento é monolítico, além de escasso.</div><div align="justify"><br />No céu, as nuvens roseaplúmbeas escorrem monótonas na imensidão, transfiguram-se em imagens pareidólicas, incertas. Sinto-me transfundir na paisagem; não tenho alucinações e o céu e as nuvens não são reflexos absolutos do meu estado de espírito, mas ambos se compactuam numa acintuosa ficção de palavras e sensações. Começo a me excitar. A noite exalta os espíritos libertinos. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Nas ruas venais lá embaixo, o silêncio e a escuridão engolem tudo. Um único murmúrio reminiscente – não sei se produzido na mente ou se são ecos reais – do que foi o tumulto tonitruante, o rosnar dos automóveis, o tilintar de pratos e talheres, e garrafas ou as últimas conversas e gargalhadas dos bêbados. O silêncio ressalta os ruídos anônimos e ignorados, dos insetos, dos postes de iluminação (a luz faz barulho), dos ventos em redemoinhos. Ruídos constantes, mas imperceptíveis para os transeuntes apreensivos e atarefados do cotidiano convencional. Não surgem apenas em madrugadas silentes e ociosas como esta; estão aí, sempre, do lado de fora, emitindo suas ondas sonoras que se distinguem quando recebida a devida atenção. Alguns zumbidos de carros fazem-se soar, esparsamente, lá embaixo. Os últimos carros? Para onde vão, de onde vêm – não sei. Não importa. São apenas detalhes que percebemos quando há silêncio e escuridão por toda parte, quando não há nada e a certeza imponderável, mas insistente de que não há nada. O silêncio ressalta a respiração. E os pensamentos parecem falar mais alto. Quando não há nada do lado de fora para se perceber, percebemos nosso íntimo; nossas entranhas clareiam-se, se mostram em muitos de seus segredos; e todos os nossos sentidos aguçam-se inutilmente para sentir o nada, como se procurassem algum pragmatismo no vazio (pré)conceitual das coisas. Isso pode ser frustrante quando descobrimos que não há proveito nenhum para se tirar. É quando o ócio se manifesta sem o típico prazer de se omitir das responsabilidades (e aí, sentimos que precisamos delas); ou quando não há muito que fazer, e a cama ainda é a última opção. Procuramos um passatempo, nessas horas. Qualquer que seja. Talvez, por isso, os pensamentos sejam revelados e relevados e pareçam mais gritantes, mais intensos, mais claros. Mas eu não estou a fim. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Primeiro, parecem surgir inevitavelmente e, normalmente, vão tomando conta do corpo e da mente. Substituem qualquer outro pensamento e vão se alastrando. O espírito libertino acorda, numa volúpia que se intensifica cada vez mais; excito-me, tenho vontades e desejos. Mas nem sempre. Estou cansado, talvez. Os pensamentos, no entanto, batucam, insistem, as imagens surgem, sem espalhafatos, mas sem promessas de se irem embora. É o tédio. E tudo quanto ele representa e o que me faz lembrar. Preocupações, responsabilidades, tudo que me apreende no dia-a-dia dos dias. Mas não é isso ainda. Nem sempre. Não estou a fim. Desabotoou a bermuda, afasto a cueca e deixo meu pênis respirar livre o ar em abundância da nossa atmosfera. Observo-o, está flácido como um molusco, sem sinais de vida, sem pulsação. Respiro e vejo que se mexe, indolentemente. Nem sempre. Mas não estou a fim. A volúpia parece obstruída em alguma parte da alma, não consegue atingir o corpo para fazê-lo estremecer e inflamá-lo em excitação. Não há vontade. Não há tesão. Só os corpos que minha mente incontrolável vislumbra diante de mim, numa profusão surreal de imagens eróticas, pornográficas, de garotas em posições obscenas, fazendo gestos obscenos. Quanto mais reluto em pensar alguma coisa, mais penso nela e não consigo parar. Não me importo, mas. Nem Sempre. Não estou a fim. Obscenidades. Elas não têm nomes, não têm identidades, não importa quem são, são como putas. Mas são irreais. Imateriais. Apenas carcaças, bonecas obscenas, brinquedos de sexo, seres-máquinas animados. Essa superficialidade me excita; os corpos despidos, inorgânicos, vazios, incertos, pronunciam-se em minha mente. Massageio-me, como se espalhasse o tesão pelo corpo. Seguro meu pênis e exercito-o; ergue-se, infla-se. Masturbo-o. Ainda uma vaga corrente de volúpia, inconstante e incerta, corre meu organismo. Tenho muitos fetiches, e muitas imagens obscenas implodem, rebentam na mente. No entanto, ainda não sinto a tensão voluptuosa provocada pelo tesão. Masturbo-me, mas num exercício mecânico, com o objetivo de manter o pênis aquecido e ereto. A tensão, agora, parece crescer e eu tenho leves ímpetos de volúpia. Um acesso de libertinagem me acomete.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">É quando minhas tensões psicológicas são dissipadas e entro num estado de volúpia; meus valores são desvalorizados, tudo o que minha cultura me condicionou é destituído de seu valor. Cresci sob o moralismo ralo de uma família tradicional de classe média, os valores incutidos em mim, mesmo vagos, corroboram para a formação de alguns medos internos. O prazer de desafiar e superar esses medos são-me excitantes. Sinto o prazer, o prazer de transgredir, de violar os preceitos morais da minha família, da minha própria personalidade condicionada e adaptada ao cotidiano. Nessas horas, me desfaço de mim, da máscara que me imponho e que me amedronta, que me deixa acuado. A obscenidade é um discurso corrosivo que uso para subverter meus próprios valores, minhas próprias idéias. É a minha perversão no sentido doentio da palavra. Mas quando me domina, perco minhas noções de certo e errado, sinto apenas um chamuscar de pecado e sujeira na alma, mas isso é ainda mais excitante. É isso que chamo de libertinagem, o momento em que me excito por me libertar dos valores e me transferir para um mundo depravado e obsceno. Essa libertinagem tem seus níveis, e quanto mais me desfaço das concepções estético-culturais e dos valores morais em mim embutidos, mais excitante tudo fica. No entanto, isso tem um preço que desconheço, mas pago quando menos espero. Há os seus momentos: quando as incertezas são descartadas, não substituídas por verdades cabais, mas escamoteadas, relegadas. Desaproprio-me delas e tudo o que fica é um vazio receptivo a tudo, a novas concepções, ou melhor, às transformações conceptivas. Toda estética estipulada por conveniência pública é, por instantes, abstraída. É isso que acuso de libertinagem. E não o faço por crítica negativa. Mas não consigo me libertar, deliberadamente, de todos os valores. Nem sempre. Não estou a fim. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">No entanto, esse acesso de libertinagem é de nível primário, não tendo efeitos impactantes. Ainda procuro na TV algo que me chame atenção, mas Jô continua galante diante dos entrevistados; o pastor ainda discorre fervorosamente sobre os valores cristãos e a participação individual na igreja, assim como a importância de exercer os preceitos de sua religião e de como adaptar suas práticas dogmáticas ao cotidiano; em outro canal, o entrevistador continua a tentar prolongar a conversa na madrugada – maçante. Mas é tudo ainda muito obtuso, estreito, monótono e sem variedades. Meu pensamento continua singular. Mas as imagens obscenas pluralizam-se. É como um vício. Nem sempre. Não estou a fim. Preciso de imagens reais, não mentalizadas. A TV não dispõe disso. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Eu quero, mas não quero? O céu sem estrelas é imperceptível, mesmo em sua imensidão e transparência. Percebo isso. Já o havia percebido. Não há cintilância natural na paisagem; os postes que iluminam as ruas têm suas luzes constantes, mas não brilham, são imóveis, mecânicas, não possuem a inconstância vivente da natureza. E o que isso me importa numa vida de superficialidades como a minha? O que isso importa quando me masturbo pensando em corpos femininos, em genitálias, em obscenidades e não em garotas reais, vivas? Merda, a TV nunca está sintonizada em meus desejos. Não que eu não goste de pensar, de criar situações enquanto me masturbo, mas não é esse o caso agora. Simplesmente não quero isso e preciso ao menos de imagens reais, que não estejam embaçadas pela imprecisão do pensamento. Não acho que quero sexo; masturbar-se não é uma alternativa última que escolhemos para suprir a necessidade do sexo. Aliás, o sexo não suprime a vontade de masturbação. A masturbação não é exatamente uma assimilação do sexo. A verdade é que não sei bem o que quero. Espero da TV qualquer coisa que me agrade, mas tudo quanto poderia fazê-lo não o faz na hora certa – mesmo que o fizesse. Quando estou sóbrio, lúcido, escusado da volúpia sexual que acomete meus sentidos, e quando estou, principalmente, revestido de meus valores cotidianos, posso fazer críticas negativas à TV e tudo o que ela representa e mostra. Percebo que, em horas como esta agora – não sei se pela deturpação causada pelo meu estado mental – que tudo quanto uso como ataque não passa de opinião e argumento manjados de um público unânime. Acho que isso se chama hipocrisia e eu faço parte dela. Quando estou com minha mão no meu pênis, tudo quanto é valor moral é desmistificado – eu aceito isso. Por enquanto, talvez. Nem sempre. Porque ainda me sinto sujo e prostrado. Não estou a fim, talvez. Vício, talvez. A TV não mostra o que eu quero ver, talvez. É uma dúvida constante, talvez. Nem sempre, talvez. Mas a pornografia estimula os sentidos e descartam as incertezas – passo a perceber o mundo a partir dos meus próprios sentidos e de um raciocínio lógico condizente a eles. Todos os valores são desvalorizados e não os transponho; deixo que tudo dependa do tempo conceitual e das imponderações da vida, mesmo que estas sejam descartadas. Não digo como um livro de auto-ajuda diria, nem com os mesmos valores ou o mesmo jargão de uma pseudopsicologia barata – e não deixo que seja algo como: “ah, que tudo aconteça como tem que acontecer, pensamento positivo, bola pra frente”. Porque. Nem sempre. Eu mesmo me confundo quanto a isso, por isso me masturbo. Por isso descentralizo-me, desfiguro-me para me naturalizar a partir do meu instinto sexual. Aliás, Freud explica. E me desfaço de muitas concepções. Penso que a Virgem Maria não era virgem, penso que Cristo fodeu Madalena, penso que Adão e Eva praticavam incesto, já que eram irmãos (ela saiu da sua costela, suponho que tenham o mesmo sangue, ficcionalmente), penso que o mundo rebentou, veio à luz, de um divino ventre fecundo, no qual Deus ejaculou e semeou com seu esperma divino, ou talvez ele o tenha feito em si mesmo por reprodução assexuada – e se Deus fosse uma célula? </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">O orgasmo se aproxima pulsante, embalando respirações e pensamentos; um delicioso estremecer no corpo o precede. E assim o mundo apaga-se, as luzes da cidade se apagam, a imensidão infinda do céu, as dúvidas e imponderações da vida, a própria vida, a opinião pública, Jô galante, os pastores fervorosos, os entrevistadores e entrevistados, as músicas na MTV indecisa, as questões filosóficas, existenciais, epistemológicas, ontológicas, tudo se dissipa na hora culminante, numa vertigem inexorável. A cabeça, então, gira, a visão escurece, o corpo prostra-se: e eu gozo tudo na minha mão. O esperma viscoso escorre lentamente e se dissipa, entre os dedos, entre as virilhas, assim como o fazem, lá no céu, as nuvens roseapúmbleas dessa madrugada translúcida, fria e silenciosa. Extenuado, fico a cingir o falo, escorregadio, pegajoso, enquanto me recupero. Nem sempre. Não estava a fim. </div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-40421129143195804472009-12-19T16:13:00.000-08:002009-12-19T16:47:54.456-08:00pornopoesia - culto fálico<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoplzDLvWvOaCEMyWvNmFd4pRzV1Himga4mgHsPhH2MxwGHYCzupPD1MfpznoZGvJ2N74AByDGwuu5RdHw8iFJ7f_jt9465qS7BvmjAFJbtVTinCAQeSPNstj6PFEI5V5GRxfAmNGBtOJj/s1600-h/shortbus.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5417113665932727426" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 222px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoplzDLvWvOaCEMyWvNmFd4pRzV1Himga4mgHsPhH2MxwGHYCzupPD1MfpznoZGvJ2N74AByDGwuu5RdHw8iFJ7f_jt9465qS7BvmjAFJbtVTinCAQeSPNstj6PFEI5V5GRxfAmNGBtOJj/s320/shortbus.jpg" border="0" /></a><br /><p align="justify">mãos punheteiras, visão plasmática, profusão de imagens imateriais, impalpáveis, unirreferenciais. obscenidade. corpos plurivarginais, mente extática, mundo estático.<br />bocetas - mulheres plurianais, multiorgasmáticas, pleniextasiantes - sou contemplado contemplador.<br />falo pulsante, túrgido, penetrante, contundente. grotesco. obsceno. pornopsique. pornocompulsão. masturbação. putaria.<br />minha plenipotência sofre infusões e implode em êxtase orgástico dentro da cabeça – volúpias e vertigens. a vista difunde.<br />e eu gozo tudo nas mãos.</p><br /><div></div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-31636052103074602722009-12-01T17:22:00.000-08:002009-12-02T05:26:38.586-08:00If..., um filme de Lindsay Anderson.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh08OIaZynzvqNCYQL8myfO_LEG8HotGeSK7ThVQALbUcd4jFwoaDx0t-LR7Bxbx4L_xY5tldKKrOgH4c1erq4QgbA7nsdjVeaooYsJ0r02Ha2Tg94R6dtxcPs8N8UayDKhp2kSxbFpFPp2/s1600-h/if+-+lindsay+anderson.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 285px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh08OIaZynzvqNCYQL8myfO_LEG8HotGeSK7ThVQALbUcd4jFwoaDx0t-LR7Bxbx4L_xY5tldKKrOgH4c1erq4QgbA7nsdjVeaooYsJ0r02Ha2Tg94R6dtxcPs8N8UayDKhp2kSxbFpFPp2/s400/if+-+lindsay+anderson.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5410629370998451970" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;"> <br />Vira e mexe me vejo pensando em Malcolm McDowell (alguma espécie de paixão platônica?) e em como ele atua bem (já perceberam?), sempre com algo de sarcástico e mordaz. Fui procurar algum filme interessante em que ele protagonizasse e eis que encontro Se..., de Lindsay Anderson. Li a sinopse e pensei: “ora, típico do Malcolm! Vou ver!” E vi.<br /><br />Me surpreendi. Aliás... em que filme a carreira dele decolou mesmo? Laranja Mecânica? Não?<br /><br />Rapaz, que filme interessante! Muitíssimo interessante, bastante contundente para a época! If... retrata bem o espírito rebelde que encarnara na juventude explosiva (e que isso sirva como uma alusão ao próprio filme) de 60. If... foi feito em 1968, numa época em que se alastrava pelas ruas, pelas escolas e universidades, as mais controversas idéias da contracultura. O tradicionalismo esclerosado e medíocre em que estava sustida a sociedade fedia e dele já não rebentava nada. E contra isso, as novas gerações lutaram energicamente.<br /><br />E nesse contexto, a arte tentava das suas façanhas. Na França, Godard e amigos inovavam toda a linguagem cinematográfica, desde a estética às abordagens temáticas, e contribuíam com sua crítica ao tradicionalismo, ao convencionalismo e a tudo que perpetuava numa estagnação social. Sem precisar repetir (e repetindo) que o cinema francês foi o mais incendiário nas idéias e nos experimentos, Lindsay Anderson, no entanto, deixou também uma marca na história do cinema para os ingleses. E nada mais agressivo e transgressor que uma crítica à instituição educacional do país e seu sistema de ensino obsoleto e inefetivo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">1. Casa escola – Retorno...</span><br /><br />A estória começa com o retorno às aulas e nos apresenta os personagens, quem é <span style="font-style: italic;">oldschool</span> e quem é novato. E sob a mesma ótica, duas gerações de alunos se fazem narradas: a turma avançada de Mick, e a turma das crianças.<br /><br />Tudo parece normal nesse começo, a euforia das voltas às aulas, a timidez e reclusão dos novatos, a frustração por estarem retornando, algumas amizades já bem desenvolvidas, e a espontaneidade dos <span style="font-style: italic;">oldschool</span>. É impossível identificar o que há de errado, mas essa atmosfera recende à mediocridade. Vez ou outra, algum antigo aluno resmunga algo contra o retorno às aulas. “Tudo de novo”, alguém diz, tudo de novo.<br /><br />Essa atmosfera de habitualismo vai se revelando e se transformando na verdadeira ignomínia que é aquela instituição. E isso se revela desde a exploração de crianças e o homossexualismo pedófilo dos coordenadores até a incompetência e o descaso hipócrita dos diretores e superiores. Os alunos, naturalmente, adaptam-se como podem a essa realidade.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Quando começamos a viver? É tudo o que quero saber”</span>, Mick. É então que começa a cair a ficha e percebemos que saberemos o que eles, os personagens dessa estória, sabem.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2. ESCOLA – Mais uma vez reunida...</span><br /><br />Reunidos na igreja, todos cantam quase em meticulosa harmonia, como uma orquestra, dentro de um regimento convencional marcante em todas as horas do internato. É tudo uma rotina severamente moldada.<br /><br />Algo que me interessou particularmente nesse capítulo foi uma cena em que o professor de História da turma de Mick faz uma insinuação desmascarada e contundente quando sugere algo de superficial e demasiado simplista na interpretação positivista da História, nas suas aulas rotineiras. Essa insinuação é escamoteada pela falta de visão crítica dos alunos, que aparentam perturbação ao ouvir idéia tão inédita.<br /><br />Logo depois, o professor de matemática das crianças dita princípios da geometria sem qualquer compromisso quando, de repente, para e esbofeteia um aluno qualquer. Caminha mais um pouco, proferindo alguns outros princípios e ataca outro aluno.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">3. Tempo do período</span><br /><br />O golpe aqui é dado quando se revela, num tom conciso e frio, a prática homossexual e pedófila por parte dos coordenadores. Philips é um dos garotos da turma mais nova, é alto e convenientemente bonito, mantém uma postura sempre cavalheiresca e, com seus cabelos dourados e sua face suavemente modelada, infantil e límpida apesar de bem aparentar seus 17 anos, é encantadoramente delicado. Philips trabalha como uma espécie de acólito para todas as horas para Rowntree, um dos coordenadores. Rowntree, após dispensar Philips por hora, troca algumas palavras com seus amigos coordenadores. Um deles confessa estar morrendo de inveja do amigo por ter Philips como seu próprio efebo, e outro acrescenta: “Sabe o que o Patridge de Haig House me disse? ‘Por que não nos manda o Bobby Philips numa dessas noites e nós te mandamos o nosso Taylor?’”.<br /><br />Essa perversão é repelida por Richard Denson, outro coordenador (mister dizer que o mais carrasco para Mick), que defende a atitude exemplar. E acrescenta: “ademais, essa paquera homossexual é algo tão adolescente”. Rowntree, para contradizê-lo, chama de volta Philips e o avisa que a partir de então “será subordinado ao senhor Denson”.<br /><br />Neste capítulo, Mick revela seu instinto belicioso e insurreto. “A violência e a revolução são os únicos atos puros”, diz. E por entre as leituras aleatórias que ouve de seu amigo e goles de bebida alcoólica, acrescenta: “A guerra é possivelmente o último ato criativo”. Depois, todos saboreiam a imagem de uma modelo na revista, e Mick diz com palavras misteriosas: “Só há uma coisa que se pode fazer com uma garota assim: caminhar para o mar junto dela, sem roupa, enquanto o sol se põe, fazer amor uma única vez... e então morrer”.<br /><br />Aqui também vemos ser alimentada a raiva de Mick contra Richard Denson, os coordenadores e tudo o que eles representam e contra a própria instituição escolar.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">4. Cerimonial e Romance</span><br /><br />Por outro lado, Mick demonstra sua poeticidade bélica enquanto luta esgrima com os amigos. Mick ironicamente representa a Inglaterra e a suposta liberdade que ela pressupõe. A brincadeira toma rumos mais agressivos e termina machucando a mão de Mick que exclama surpreso, mas contente: “Sangue! Sangue de verdade!”<br /><br />E o ápice do ridículo e da hipocrisia é quando é dado um aviso de que a torcida na escola tem sido fraca e pedem que os alunos torçam com vontade no jogo à tarde. Na sequência, a gritaria ávida de torcedores fanáticos toma conta do campo em que jogam dois times. A necessidade de manter as aparências, mesmo que internamente as entranhas pareçam fétidas e arruinadas, é exposto ao extremo, descaradamente, para os alunos e nós, espectadores.<br /><br />É também neste capítulo que rebenta uma das cenas nonsense. Mick e um amigo se divertem na cidade, aliás, a única cena no exterior da escola. Depois de roubarem uma motocicleta de uma loja, Mick e o amigo vão a um café. Lá Mick tenta beijar a balconista e é esbofeteado. Depois, de maneira esquisita, reconciliam-se e se amam selvagemente, imitando tigres, atacando-se com as unhas e se mordendo. Afinal saem na motocicleta Mick, o amigo e a balconista no meio e em pé, como jovens rebeldes depois do amor.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">5. Disciplina </span><br /><br />A disciplina comedida que deveria manter os alunos da escola é quem oprime e os impele à transgressão. Os coordenadores decidem tomar medidas extremosas e agressivas contra essa transgressão e conseguem obter a permissão almejada. Mick e seus dois amigos são os primeiros.<br /><br />Essa é a sequência mais tensa e humilhante do filme. Não entendo como Mick se deixa submeter a essa humilhação. Depois de avisados sobre o castigo, são imediatamente levados ao ginásio onde se realizará a punição. Mick e os amigos esperam enquanto um por um é chamado e chicoteado na frente de todos os coordenadores. Durante todo o momento, a cena não recebe cortes e apenas ouvimos os açoites enquanto Mick espera sua vez com um amigo. Mick é o último... e o mais severamente punido. Sua postura insurreta e sarcástica é desmoronada diante dessa humilhação. Lágrimas escorrem pelo rosto. Enquanto os outros dois amigos receberam quatro chicotadas, Mick ultrapassa esse número. Todo mundo escuta os passos que precedem o som dos açoites e todos imaginam a dor que Mick sente. Afinal, Mick ainda deve pedir “obrigado” ao coordenador que o açoitou.<br /><br />Talvez isso tudo tenha servido para canalizarmos toda nossa raiva para que justificarmos as próximas cenas. A “resistência”, o “contragolpe”, e toda a revolta.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">6. Resistência</span><br /><span style="font-style: italic;">“Um homem pode mudar o mundo com uma bala no lugar certo”</span>, Mick.<br /><br />Mick e seus amigos planejam a vingança. Essa vingança pode ser trazida a um contexto mais atual, ao incidente de Columbine. Retificados alguns pontos, a sequência é quase uma predição do que aconteceria em Columbine. De um lado, a humilhação física e psicológica de uma instituição opressora e hipócrita; de outro, a opressão física e psicológica de uma sociedade omissa e negligente. If... é um filme que se estende até os dias atuais de uma maneira quase profética. Pois até o bullying de hoje não é uma conseqüência das mudanças, mas uma herança daqueles tempos.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">7. Adiante à guerra</span><br /><br />O primeiro sinal de que os rumos convergiriam a um final trágico é dado agora. Alunos e professores simulam uma guerra por entre os bosques da escola, fardados e armados, em contingentes realisticamente estruturados, seriamente comprometidos com as estratégias. Tudo contribui para crermos numa guerra real. Até que Mick e os amigos “desertam” dessa encenação ridícula e arruínam qualquer plano estratégico de seu suposto batalhão. Chega a ser engraçado como a cada novo encontro com o inimigo, Mick e os amigos “morrem” ou simplesmente ignoram a situação. A seriedade depositada nessa simulação chega a ponto de um professor se gabar por ter assassinado Mick e os amigos. Ainda chega a pedir para que caiam, para que se joguem no chão, simulando suas mortes.<br /><br />O susto vem quando Mick e os amigos assustam, atirando com balas de verdade nos contingentes que descansam, depois de finalizados os exercícios e a simulação. Todos se desesperam e se jogam no chão, exceto o reverendo que os encara e ordena que se desfaçam das armas. Mick e os amigos saem da moita, mas não se “rendem”. Mick aproxima-se do reverendo e aponta a arma para ele. Dispara. O reverendo cai. Pensamos: “minha nossa!”, novamente Mick dispara. E assistindo ao reverendo se contorcer comicamente e se debater no chão, Mick o ataca com a baioneta. Não há sangue, mas... não soube dizer o que viria depois.<br /><br />Decerto não houve morte, nem ferimentos. O diretor da escola censura Mick e os amigos e após pedir que se desculpem do reverendo, abre uma gaveta de onde o próprio reverendo se levanta para apertar a mão de cada um. Nonsense. Com um discurso enloquente, pronunciado pelo diretor, quase nos convencemos de que um final feliz e compreensível vem por aí. Engano. A punição não é tão severa quanto se imaginava. Mick e os amigos são destinados a um trabalho gratuito, mas simbólico, apesar de necessária a força física. Enquanto Mick e os amigos limpam e organizam depósitos esquecidos da escola, encontram armas e explosivos reais que servirão para o desfecho do filme. Curiosamente, a balconista também os ajuda nessa tarefa de limpeza.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">8. Cruzadas</span><br /><br />A cena a seguir é o enquadramento da bandeira inglesa esvoaçando austeramente no mastro, repassando uma idéia clara e irônica de patriotismo. E em meio a um formalismo pré-ensaiado, um séquito medíocre recebe o General Denson, figura notoriamente conservadora, que dizem ser um herói da pátria. Também encontramos o Bispo, com todos seus adornos representativos e seu cajado suntuoso na mão. E, por último, o príncipe inglês, trajando uma armadura metálica medieval, com o capacete na mão, numa postura rigidamente ereta. Essas três figuras formam as égides decrépitas do tradicionalismo miasmático inglês e consolidam no filme a idéia de uma sociedade regida por grupos representativos altamente arcaicos e esclerosados. E sob essas égides, se escondem e se glorificam pomposamente os sectários desse tradicionalismo, como demonstram as imagens que se sucedem enquanto o General Denson, já na igreja com os outros, profere um discurso caloroso sobre a necessidade de se manter as tradições. Vemos as faces dessa sociedade geriátrica, as senhoras idosas cheias de adornos, homens austeros, pais e mães dos alunos e finalmente os próprios alunos (que tudo sabem sobre a verdadeira face de sua escola). E essa figura cheia de empáfia e regramentos que é o General Denson não percebe quando, em meio ao discurso, uma fumaça sobe provocando tosses nos espectadores e interrompendo a cerimônia.<br /><br />Este é o momento-símbolo do filme: Mick e seus amigos disparam suas armas pesadas impiedosamente contra a sociedade arcaica. Todos os significados que não encontramos ou não entendemos no decorrer do filme, se apresenta aqui sem véus nem omissões. É a luta entre o novo e o velho, o confronto entre a nova geração e a velha geração. E a palavra de protesto que se revela nas armas de Mick, contra a opressão, a hipocrisia, a indiferença e até mesmo a corrupção.<br /><br />Afinal, todos pegam em armas. Senhoras atiram extáticas, clamando por violência, o General Denson, os pais dos alunos e todos os representantes da sociedade. Mick, encarnado por Rambo, atira embevecido com sua metralhadora. E fim.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Mick: </span><br /><br />Mick me parece, por vezes, fruto da tapeação e dos erros de cálculo da instituição escolar. Ele não ostenta a singularidade moral de um líder revolucionário nem a mentalidade madura, sagaz, fria e calculista de um grande gênio rebelde. Mas ele parece conservar a frivolidade de um rebelde do rock’n roll, pretensioso e inconseqüente. É por isso que sua natureza não se constitui de uma genialidade autêntica, dos grandes líderes, mas se faz apenas de instintos perceptivos, da capacidade de sentir a opressão e do desejo de alcançar a liberdade aparente. Sua natureza, na verdade, foi condicionada à transgressão, ao desejo de ultrajar regras e conveniências. E a culpada é exatamente instituição escolar e seu desequilíbrio idôneo.<br /><br />Não digo que o Mick é um personagem negativo, por causa de sua falta de originalidade. Não. Ele é original, sim, justamente na sua natureza perceptiva. E logo que descobre um sistema corrompido e cheio de falhas, torna-se uma conseqüência desse sistema, e aí se encontra a transgressão.<br /><br />Apaixonado por imagens de soldados, de guerras, de destruição, a parede do seu <span style="font-style: italic;">quartinho particular </span>é adornada com vários recortes de revistas sobrepostos. Essa profusão de figuras, não só bélicas, mas imagens de fome e miséria, de bebidas etc, corrobora para a imagem de adolescente impulsivo que temos de Mick. Nesse mesmo <span style="font-style: italic;">quartinho</span>, Mick e seus amigos fumam, bebem e conversam extravagâncias e trivialidades.</div>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-83153385253960642252009-11-10T19:48:00.000-08:002009-11-11T07:54:21.843-08:00Quando você come moralismo e caga hipocrisia (Uma crítica a você, cidadão)<span style="font-style: italic;"></span>Critiquemos a política.<br />Critiquemos o desmatamento.<br />Critiquemos as ruas e a segurança,<br />Os assassinos e a polícia.<br />Critiquemos a desigualdade e a discriminação e<br />critiquemos as políticas afirmativas.<br />Critiquemos o terrorismo e<br />critiquemos, também, os Estados Unidos.<br />Critiquemos a sujeira, o lixo, a lama,<br />a poluição.<br /><br />Critiquemos você, cidadão.<br /><br />Critiquemos o país, o mundo, a sociedade inteira<br />Por viver de hipocrisia à sua maneira.<br />Critiquemos a mídia, a televisão, as imagens,<br />a violência, a vulgarização.<br />Critiquemos a pornografia, as mulheres, a prostituição.<br /><br />Critiquemos você, cidadão.<br /><br />Critiquemos a tecnologia e tudo o que ela propicia.<br />Critiquemos o avanço, a maquinização das coisas.<br />Critiquemos a concretude ortogonal que se ergue pela cidade<br />Como monstros implacáveis.<br />E, vá lá, critiquemos a ciência e a religião.<br /><br />Critiquemos você, cidadão.<br /><br />Critiquemos você aí sentado,<br />De cara pra TV ou pro computador,<br />Não sem certa empáfia,<br />Criticando a política, a mídia, a pornografia,<br />a segurança, a poluição, o desmatamento, a sujeira,<br />o país, o mundo, a sociedade inteira<br />por viver de hipocrisia à sua maneira.<br />Critiquemos, ao mesmo tempo, Geisy Arruda e a Uniban,<br />os alunos e o Taleban.<br /><br />"<span style="font-style: italic;">Poesia rima com hipocrisia", Laurinha.</span>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-20615175800259465672009-11-08T19:37:00.000-08:002009-11-08T20:20:39.835-08:00O baque na realidadeNão foi com lágrimas nos olhos e a vista difusa que terminei <span style="font-style: italic;">Cem anos de Solidão</span>, de Gabriel García Márquez, pois em mil outras páginas desse livro eu pude - e motivo não faltou - chorar minhas emoções e não o fiz. No entanto, foi com o corpo trêmulo e o coração apertado que fechei esse livro e senti, então, o baque da realidade caindo em peso, como tantas vezes, ou sempre aconteceu, ao terminar um livro. <span style="font-style: italic;">Cem anos de solidão</span> (faço questão de escrever o título com todas as palavras), entretanto, me absorveu e me dissolveu num mundo tão fantástico quanto real e, nessa mescla substancial, me deixou estonteado, guiando-me, num tom quase frio e impessoal, pelas vicissitudes de uma <span style="font-style: italic;">estirpe</span> condenada a cem anos de solidão.<br /><br />Tão logo já o elevei ao pedestal da minha cabeceira. E quantas vezes não abri a boca, surpreso, para exclamar que porra estava acontecendo ali e por que acontecia. Não vou nem espero divagar sobre o livro, escancarar uma verborragia de reflexões filosóficas, sociológicas, ou, enfim, elaborar um jargão psicanalítico de simbologias para estudar o livro. Mas o livro - ah, sei lá, não quero nem adjetivar nem declarar alguma coisa sobre o livro que é para não vulgarizar a coisa toda. É simples definir algo como bom ou ruim, mas isso é a simplificação simplificada de algo muito mais complexo do que maniqueísmos baratos. Tenho certeza que apreciei o livro, mesmo nos momentos tristes, diante dos impasses e do desfecho de alguns personagens, mas é algo além da definição prática e resumida da razão - e por isso apelo para as sensibilidades.<br /><br />Não estando a fim de destrinchar sensações e defini-los racionalmente (por causa da hora ou porque não quero), vou deixando por aqui a impressão profunda que me <span style="font-style: italic;">estigmatizou</span> a leitura de <span style="font-style: italic;">Cem mil anos de solidão</span>. Eu na cama, e o livro na cabeceira.<br /><br />Mas o baque na realidade é constante. Mãos invisíveis apertam o coração e toda a concretude ortogonal parece pesar na alma; a alma adensa-se e deixa prostrado o corpo. Eu li.renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-24155476032936151692009-11-02T12:25:00.000-08:002009-11-02T13:35:42.207-08:00Paradise Now, um filme de Hany Abu-Assad.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDIXKHlzzXENwfAyvsfcn8xcJ1EiV_o_AK89QF9aQNuKaGdZSDxPnS7nVMdDyt1hhlrXC1J4NOOZ1-qdSE2BONgCC6KirMh_qyVaNPpTVHflPso_j7XkBLQkknuVdKu4tttD_07zSoJmpq/s1600-h/paradise-now-poster-0.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 270px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDIXKHlzzXENwfAyvsfcn8xcJ1EiV_o_AK89QF9aQNuKaGdZSDxPnS7nVMdDyt1hhlrXC1J4NOOZ1-qdSE2BONgCC6KirMh_qyVaNPpTVHflPso_j7XkBLQkknuVdKu4tttD_07zSoJmpq/s400/paradise-now-poster-0.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5399623132679684002" border="0" /></a>
<br />
<br /><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} @font-face {font-family:Verdana; panose-1:2 11 6 4 3 5 4 4 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:536871559 0 0 0 415 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"> Minha namorada raramente aceita assistir aos filmes que quero ver e é uma proeza minuciosa persuadi-la, no sentido de que eu não tenha de forçá-la com chantagens ou melodraminhas sentimentais, mas de persuadi-la por sua própria vontade (?). Neste último final de semana, assistimos a uma produção palestina, do diretor Hany Abu-Assad, que trata com maiores delineamentos humanizados (do que trataria uma produção hollywoodiana) os personagens de uma trama que aborda um assunto bastante atual: o terrorismo dos homens-bomba. De uma escala de 0 a 10, por incrível que pareça, a nota recebida por ela foi 8. Por complacência ou não, acho que foi sincera.</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style=""> </span>Bom, indo ao filme, vou apresentar a sinopse para apoiar nela minha crítica pessoal (ou melhor - para não apresentar qualquer indício de pretensão - minhas impressões).
<br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span><i style=""><span style=";font-family:";font-size:9;" >Amigos de infância, os palestinos Khaled (Ali Suliman) e Said (Kais Nashef) são recrutados para realizar um atentado suicida em Tel Aviv. Depois de passar com suas famílias o que teoricamente seria a última noite de suas vidas, sem poder revelar a sua missão, eles são levados à fronteira. A operação não ocorre como o planejado e eles acabam se separando. Distantes um do outro, com bombas escondidas em seus corpos, Khaled e Said devem enfrentar seus destinos e defender suas convicções. </span></i><i style=""><span style=";font-family:";font-size:9;" ><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><i style=""><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><i style=""><span style=";font-family:";font-size:12;" ><span style=""> </span></span></i><span style=";font-family:";font-size:12;" ><span style=""> </span></span><span style="">
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> Numa tentativa de concretizar e humanizar os fantasmas que são os homens-bomba cujas identidades são abafadas pelas vítimas dos seus atentados, Abu-Assad constrói para seus personagens duas personalidades com peculiaridades distintas e autenticamente humanas, sem maniqueísmos, nos quais o passado, a família, a cultura, a razão e o próprio sentimentalismo se interagem, se confrontam e se complementam, conduzindo-os em seus passos. Enquanto o número de vítimas se transforma em dados estatísticos nos jornais e na TV, os terroristas, os homens-bomba nem ao menos são vistos como gente. Abstraem-se. É mais ou menos para preencher o vazio, a invisibilidade de identidade desses homens que parte a estória de Paradise Now. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">Khaled e Said, já apresentados na sinopse, são apresentados como figuras até comuns em nossa sociedade, desleixadas e espontâneas, sem grandes pretensões, trabalham numa funilaria e no fim da tarde fumam em seu narguile enquanto, do alto da montanha, observam a cidade. Toda essa despretensão, essa falta de disciplina, demonstra qualquer coisa de afastamento religioso ou político. Numa cena, os protagonistas, em desavença com o chefe, quebram o pára-choque do carro de um cliente, porém, tanto eles quanto o chefe parecem acostumados com as vicissitudes, o que não acarreta em nenhuma decisão drástica – no final, ninguém é despedido. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">E quanto mais afastados da religião ou da política, mais próximos estão da nossa cultura – é a impressão que tenho. Essa impressão é reforçada pela estética convencional norte-americana estruturada no filme, de sequências rápidas, diálogos rápidos, de enquadramentos e ângulos tipicamente hollywoodianos. Mas não quero justificar minha impressão me apoiando em técnicas, já que prefiro não criticar as produções norte-americanas, até pelo contrário, algumas até me atraem. Só que é irônico encontrar esse tipo de estrutura num filme que conserva certa aversão aos costumes norte-americanos. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">No entanto, a semelhança de produções não se limita à técnica nem às personalidades dos protagonistas, mas se estende à dramatização que por vezes se deixa cair nos deslizes de diálogos manjados concatenados a expressões que deixam transparecer certo melodrama. É aí que perdem destaque para mim, apesar de que eu não teria qualquer outra idéia de como poderiam me persuadir outros personagens num mesmo contexto, numa mesma estória. Essa dramatização típica emana um ar de previsibilidade imprevisível – isso mesmo. É claro que o filme não perderia prestígio, para mim, por isso, já que também respeito esse modo de expressão; e é claro também que o filme não se tornaria ruim por isso, para ninguém, já que a sensação de previsibilidade é tão manjada que já existem diversos artifícios para contorná-la – e é claro – também - que essa sensação de previsibilidade é exposta aqui como simbologia. De modo que agora me sinto obrigado a expressar meu enorme respeito pelo filme, pelos assuntos que aborda, e minha admiração, também, por essa obra – já que eu gostei. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">Novamente me escusando de qualquer pretensão, expresso aqui uma análise pessoal, tida pelos meus próprios sentidos, por assim dizer, leigos, desprovido até de conhecimentos técnicos mais profundos. Mas, convenhamos, concordemos – assistamos ao filme. Isso vale como recomendação. E continuemos. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">Khaled e Said são convocados para realizar um plano que vinha sendo “estudado há 2 anos e chegou a hora de pô-lo em prática”. É aí que começamos a conhecer as relações político-religiosas dos protagonistas e suas convicções à cerca do assunto. E é nos próximos momentos que se configurará uma complexa rede de minuciosidades que nos apresentará ora sutilmente, ora expressamente as convicções do próprio autor. Jamal, amigo de Said há algum tempo, é quem dá a ele a notícia de que fora convocado. No primeiro momento, senti algo mais profundo nas intenções de Jamal, no entanto, no decorrer das sequências, ele se mostra debilitado em suas ideologias, quase vazio, sem argumentos, e que tenta delicadamente convencer Said, ou melhor, mantê-lo convicto de sua decisão e de Alá, também.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">O momento mais constrangedor, para mim, que revela toda uma falta de pretensão, organização, ou a falta de uma sólida base racional, e que revela também, além do desinteresse, um certo desrespeito com os escolhidos para a “missão”, é quando Khaled, filmado pelos correligionários em seu discurso de “despedida”, no qual explicita a razão de sua conduta, é avisado que a câmera não estava gravando por alguma falha. Exatamente nesse ponto, pensei comigo: não há mais convicção, não há entusiasmo, eles não sabem nem ao menos porque agem assim. É a prova cabal de que o conflito e toda a causa foram banalizados não só para a sociedade ocidental, ou ocidentalizada, mas até mesmo para eles, oprimidos e reacionários. Após todo o discurso que Khaled lê num papel, o aviso, dado inclusive descompromissadamente pelo rapaz que filmava, revela esse desacordo com ideologias tão fortes e tão perigosas. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:11;" >Afinal, os protagonistas passam pelas vicissitudes da trama e não há nada demais que eu queira comentar sobre isso. Aliás, tenho sim. Diante da <i style="">sagrada missão</i>, escondido por um espesso manto de medo (do divino e do humano), Said tenta disfarçar a incerteza da existência do Paraíso e manter sólidas suas convicções. Desconfia, mas não quer desconfiar. E se deixa ir na estória como se usasse a luta contra o medo como desculpa para suas incertezas. É como lutar contra a negação do divino. Porém, isso não se mostra tão visível, mas aparente, de forma cautelosa, escamoteado nas entrelinhas das perguntas e das afirmações.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:11;" >
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:11;" > </span><span style="">Mas há algo realmente interessante que realça bem a contradição entre os dois povos que ocupam a região. Enquanto a cidade dos protagonistas, em alguma parte da região da Cisjordânia, apresenta-se com todas as estruturas de uma cidade de subúrbio, marginal, quase uma favela do Rio de Janeiro, de ruas de terra, sulcadas, esburacadas, com casas decrépitas, dispostas em morros e mais morros, Tel Aviv, cidade israelense, tem seus prédios suntuosos, suas praias bordadas por orlas matematicamente estruturadas, onde passeiam a gente, os turistas, num ar de contentamento e indiferença. Nessa parte, vê-se também a diferença cultural, a divergência no modo de vestir, inclusive com um plano que enquadra uma garota de biquíni e toda a visibilidade do seu corpo. Essa cena se passa já no final, quando, de alguma maneira, a trama consolida as convicções de um e dissolve as de outro, e nos permite observar a ação de suas decisões.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""><span style=""> </span>
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style="">Recomendo, sim, esse filme, até para que seja possível que se admita uma outra visão sobre o assunto, que ao menos a considere para debater com mais precisão esse tema tão unânime na opinião pública. E já que não estamos discutindo originalidade artística, nem construção estética, desconsiderem minhas considerações sobre a técnica e suas influências no total cinematográfico. E eu sei que estou errado quanto a isso também.<o:p></o:p></span></p>
<br />renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-55824494360102182702009-10-24T20:25:00.000-07:002009-10-25T03:52:42.556-07:00O Amplificador Desamplificado<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Há algo de melancólico no tom em que canta suas músicas alegres. E em toda sua representação de trajes típicos de sua região. Nas suas músicas entrecortadas, entre chiados e oscilações de intensidade, o amplificador cospe o ruído grave da sua voz rachada e extenuada. O homem tem um violão reluzente nos braços e toca suavemente suas cordas tilintantes, enquanto canta ao microfone. Uma batida de percussão sai pré-gravada de um instrumento e segue as notas de seu violão. E tudo é um som só num único amplificador, desamplificado. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>Abaixo, ao seu lado, uma caixa de papelão expõe à venda seus CDs quase improvisados, resultado da doação de alguma gravadora ou de algum projeto de incentivo à cultura do Estado. Do outro lado, um acordeão também reluzente, coberto em parte por uma capa de couro. O homem e sua cantoria parecem adaptados ao local, àquelas circunstâncias de alegrias, mas a multidão ao redor mal presta atenção na sua música. Uns passam, outros repassam, lanchando coxinhas e pastéis. Visam às barraquinhas feitas a ferro, madeira e lona, e o que elas oferecem - frituras e gorduras. As várias barraquinhas em fileiras <i style="">vendem seus peixes</i> ao ar quente que sobe do óleo no fogo. Uns pirralhos brincam enquanto rodeiam ávidos como urubus as pessoas com seus lanches. E então atacam, pedem um pedacinho, um golinho do refrigerante, pedem que deixem um restinho disso ou daquilo e pedem um trocado e vão embora ainda insatisfeitos. Alguns turistas observam as lojas de artesanato - as peças de barro, as esculturas em moldes e traços tipicamente regionais: uma visão simbólica de uma gente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>E o homem a cantar e a bailar, em passos mínimos e repetitivos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span> Os sinos batem na igreja da praça, os noivos vão entrar; trajes a rigor, os que ali estão, separados por grades, contrastam sua exuberância com o ambiente simplista, tolerante, dos transeuntes na feirinha. Os vendedores sentam-se em seus banquinhos enquanto a freguesia não chega; descansam e uns conversam com outros. Os murmúrios e o tilintar ressonante dos sinos, o rosnar metálico dos carros na avenida, tudo supera a música ruidosa que sai do amplificador do homem, mas ele não perde o fio da meada, não perde a voz já desgastada, não perde o ritmo nem a letra, e perpetua em sua canção imortalizada. O homem conserva a paciência de um surdo que canta para si. Da face cintila o suor, e pingos caem titubeando entre as rachaduras e as rugas de um rosto desgastado pelo tempo e pela vida. E o homem, obstinado, a cantar. A noite sem estrelas e sem nuvens resplandece em sua lucidez vívida e traz da praia a leve e constante maresia que, vez ou outra, intensifica e logo se acalma, sempre constante. As luzes dos prédios ao redor vivificam a noite, e toda essa claridade não é mais uma antítese da escuridão no céu, mas um contraste que se aplica como adorno, como estrelas artificiais que o céu não trouxe consigo esta noite. E todo o ar parece límpido e conserva em si o contentamento e a serenidade das pessoas na praça. Toda a paisagem é um reflexo dessa conformidade rotineira. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>No asfalto, porém, as rachaduras escondem a sujeira; a grama pisoteada e desbotada guarda o lixo descartável já consumido. Os postes se espalham e espalham iluminação. Gente sentada na bancada da praça consome, ri, conversa. E o homem, com seu violão, canta. E todos guardam sua indiferença ao homem do violão. E a música se perde entre o alarido, entre risos e gargalhadas, entre o ressoar dos sinos e o estrepitar dos carros. A missa de celebração começa, todos silenciam, mas lá fora, na praça, tudo funciona, tudo vive. E o homem canta.</p> renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-23460830997833461382009-10-23T20:05:00.000-07:002009-10-24T17:25:27.397-07:00Vivas ao minimalismo musical!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeg-w2MFzKqv855sTbpuoUsWA2JPwuIQr_hoyM9iUnIbhXdjL2WEqsacg8H2_J5equRlyCxawTVzEk541DXRVhV1FC7-T8uGrGL-bsu8SDIY-2f-KEDbfY05LFcvfvdxvmXL5t64xH81iP/s1600-h/Arvo+Part.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 200px; height: 141px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeg-w2MFzKqv855sTbpuoUsWA2JPwuIQr_hoyM9iUnIbhXdjL2WEqsacg8H2_J5equRlyCxawTVzEk541DXRVhV1FC7-T8uGrGL-bsu8SDIY-2f-KEDbfY05LFcvfvdxvmXL5t64xH81iP/s200/Arvo+Part.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396002867021073842" border="0" /></a><br /><span style="font-weight: bold;">Arvo Pärt</span> <span style="font-style: italic;">me</span> concebeu uma música de notas tênues que perpassam pela História e tocam meu espírito com uma pontinha de existencialismo.<br /> Tanto me toca Für Alina, a primeira música que conheci, que elaborei até um textozinho para exprimir a sensação:<br /><br /><br />- Essa música inspira silêncio. Inspira e aspira silêncio. É como aquelas ondas provocadas pela gota na água. E quando desaparecem, tudo volta ao normal, à calmaria, ao silêncio. Suas notas são as únicas coisas que preenchem o silêncio, nesse sentido. Essas notas tocam o silêncio, cantam o silêncio. E o que vem depois é apenas o eco o silêncio, o vazio, o nada, a lacuna.renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-36968678417756254872009-10-22T20:02:00.000-07:002009-10-22T20:16:33.178-07:00As Ilusões Perdidas, um livro de Balzac<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Minha namorada tem uma coleção museológica de livros de clássicos da literatura universal. Para se ter uma idéia, as traduções devem estar em sua primeira versão, são traduções de personalidades até ilustres da literatura, como Machado de Assis, Mário Quitana. São mais de 50 títulos, de vários autores. Dessa coleção, quase obsoleta no armário dela porque ela mesma só leu uns poucos, li a maioria e ela vive dizendo que serei o único a ler todos. Li os Sertões, que cheguei a dizer ser o melhor livro que já li (e ainda hoje reservo um pedestal especial para essa obra); li, pela primeira vez, o filósofo existencialista condenado ao extremismo, Sartre; li a obra mais desvairadamente insensata (e nem preciso dizer isso), Ulysses, de Jaymes Joyce, e modestamente (ou não, pois ainda podem me chamar presunçoso, apesar de tudo) digo: entendi uns 50% do livro; li Camus, Stendhal, Eça, e alguns desses livros que constituem, digamos, uma erudita formação literária. Se me perguntam se gostei de ler esses livros - sim, numa perspectiva menos crítica e mais superficial, gostei, mas admito as milhares de vezes que precisei de um dicionário.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Para mim, essa coleção tem algo de misterioso e reliquiário. Quando não tenho um Bukowski ou Kerouac pra ler, vou ao reservatório e escolho algum livro, às vezes por título, às vezes por autor, por ter visto em algum lugar qualquer indicação, não sei-não sei.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Chegou, então, a vez de Balzac. Já havia lido duas novelas da Comédia Humana (que, aliás, me parece não ter nada dele que preste sem ser da Comédia Humana) e já tinha uma noção de como era o mundo das estórias de Balzac. Um mundo não particular, inventado e muito menos fantástico, mas uma transcrição da realidade. Balzac retratou com bastante perfeição a sociedade francesa, tanto parisiense quanto provinciana, reproduzindo ou recriando alguns personagens históricos ou da aristocracia. Só para encher mais a bola do cara, Engels disse</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;">em uma carta a Marx: "Aprendi mais em Balzac sobre a sociedade francesa da primeira metade do século, inclusive nos seus pormenores econômicos (por exemplo, a redistribuição da propriedade real e pessoal depois da Revolução), do que em todos os livros dos historiadores, economistas, estatísticos da época, todos juntos".</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Mas foi depois de As Ilusões Perdidas (o título resume muita coisa) que me surpreendi e me enchi de receio para próxima vez que for ler Balzac. É de pensar duas vezes. Esse livro me despertou uma raiva incondicional, uma raiva impotente, que se passou por aflição, por euforia, mas sempre impotente.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Esse livro, como eu disse a muita gente, é um baú de perfídias, uma semente que, semeada, faz brotar uma árvore já morta. Só por tocar, você esmorece, desbota, perde a cor, cai e morre, com tanto desgosto, tanta desgraça, causados urdidamente por ambiciosos. A trama se desenrola, basicamente, entre conspirações e astúcias, sob um mecanismo movido por ambição, no qual os personagens exprimem a necessidade humana de ascensão, de reconhecimento, de notoriedade na sociedade. Lucien (pois me nego a chamá-lo, por uma questão de frescura, de Luciano) é aquele típico ser revestido e investido por todas as características românticas, dotado de uma sensibilidade poética e de um profundo conhecimento dos saberes científicos e literários da época. O poeta, pois é por esse título que Lucien se apresenta à aristocracia provinciana, e é com ele que conquista o coração de Luísa de Negrepelisse, ou melhor, de Bargeton (pois já era casada ao se conhecerem - olha os sinais do acrônico fator adultério).</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>E inflado pelas promessas de glória e ascensão da vida parisiense, Lucien, ingênuo como é (e se não fosse não teríamos história, eu não teria me empolado de ódio, David Sechárd não teria sido preso e Eva não teria passado por tantos desgostos junto à mãe).</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>David Sechárd é amigo de Lucien, Eva é irmã deste e esposa daquele – esses três são anjos caídos no céu, daqueles bem infantis que carregam a cegueira da ingenuidade e da inocência ante a perfídia humana, que se deslumbram facilmente e são altruístas. David casa-se com Eva e, juntos à mãe, trabalham incansavelmente para suprir Lucien em sua campanha de ascensão e retomada do nome nobiliárquico. Sim, retomada, porque sua mãe, a Senhora de Rubempré, agora Senhora Chardon, já fora nobre, mas casou com um farmacêutico e seu destino alterou-se bruscamente.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Em Paris, Lucien enfrentará todos os empecilhos que adornam o caminho da fama. Descobrirá que ser escritor, naquela época, dependia de inúmeros fatores que envolviam a imprensa, os editores, comércio e de muita influência. E é aí que o livro me acomete, pois enquanto eu lia Bukowski e experimentava a sensação de querer ser escritor, mesmo presenciando Chinaski em todas as suas enrascadas, “enquanto miserável”, Lucien me mostrou um outro lado da coisa. É claro que as épocas de distanciam, mas o que é hoje o nosso mundo tecnológico senão uma globalização das competições, um acirramento da concorrências, no qual, mais do que nunca - e os meios de comunicação colaboram para isso - é acirrada a batalha ao mesmo tempo que niveladas as diferenças, em suas aspirações, em suas disponibilidades instrumentais. É, no entanto, aí que encontro um paralelo entre Lucien e Chinaski. Ambos passam pela miséria, pelo limbo (um pouco mais enxuto, no caso de Lucien, por se passar em Paris – que chiquérrimo). </p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Não queria resumir a estória, falar sobre os personagens, fazer uma prospecção da obra, por isso nem vou continuar. O fato é que o livro me deu muita raiva, raiva aflita e impotente, por fervilhar tramóias das mais torpes. Lucien parece ser guiado sob a lei de Murphy voluntária, de conspirações bem planejadas, de modo que ele seja torturado moralmente, economicamente e emocionalmente. E ele é torturado, sofre os piores desgostos, nas piores horas, nos piores momentos, e leva consigo todos a quem ama.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Enquanto Lucien representa a figura emblemática dos moldes românticos, a sociedade em si é corruptiva e apresenta personagens ignóbeis e um contexto tão complexo quanto real, que Balzac destrincha habilmente.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>A sociedade é movida por engrenagens que se compõem mutuamente, mas nem sempre se interdependem, podendo uma suprimir a outra. Falo do Jornalismo e suas ligações com as áreas sociais. Balzac confere ao Jornalismo o papel de vilão-mor, enquanto seus integrantes são ou foram corrompidos por ele. É admirável que, num século concebido pelas mãos audaciosas da Revolução Francesa, em pleno momento da Restauração, de reacionarismo e coerção, o jornalismo detinha certo potencial ainda que embrionário. Balzac, nas palavras de um dos personagens, anteviu todo o poder que a imprensa concentraria: "O jornalismo está na infância, há de crescer. Tudo, daqui a dez anos, há de depender da publicidade. O pensamento tudo iluminará, e ele...", e dessa visão profética, conclui outro personagem: "Há de tudo crestar", "Fará reis", "desfará monarquias". Os próprios integrantes da instituição jornalística têm consciência do poder que guardam, e sabem o quão indigno é esse poder.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Balzac descreve admiravelmente os segredos do jornalismo, suas manhas, suas conspirações, suas campanhas contra e a favor de personalidades. Todas as desmoralizações são desvendadas. Do jornalismo, entendemos como funciona a indústria editorial e o comércio dos livros e dos teatros, dos jogos políticos e aristocráticos - onde a constante é o dinheiro, agindo desavergonhada e impiedosamente. Ou seja, entendemos como funciona a "troca de favores". </p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Lucien, carregando os anátemas do romantismo, que é a confluência proporcional da genialidade à ingenuidade, será destroçada pelas engrenagens da imprensa - pois tanto sábio e ambicioso quanto ingênuo, cairá nas perfídias dos inimigos, desvanecerá até esgotar-se diante dos tormentos torturantes previamente planeados. Lucien, abatido, tão logo se aproxima de Werther quanto desaproxima, por ser um personagem não romântico mas balzaquiano, pois Balzac habilmente confere realidade a ele, dispondo-o sob a dissimulação e o arrependimento, sendo este verdade para todas as horas mas que ainda assim não é desmistificado por aquele; um, porém, não exclui o outro, e, mesmo verdadeiramente arrependido, não é desinfeccionado dos vícios e das vontades que o levaram onde chegou. O momento do suicídio é o impasse que porá em prova a honestidade de seus sentimentos, de seu arrependimento, que se assemelhará às faculdades romanescas de Werther. No entanto, qualquer prova de dissimulação terá em si a ingenuidade e a involuntariedade de seus sentimentos e de suas decisões. Afinal, Lucien não é mau, mas tem suas ambições.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span>Balzac, afinal, nos dá um final feliz, algo como "viveram tranquilos para sempre", o que, além de atenuar a dramaticidade ficcional, aproximando a obra da realidade, tranquilizou um pouco a latejante angustia que me acometia. À família Sechárd são perdoadas as dívidas e quanto a Lucien, este volta à Paris, onde se passará a nova aventura, numa espécie de "continua no próximo livro". É, Balzac sabia prender os leitores.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; line-height: normal;"><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt;"><o:p> </o:p></p> renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4675837397534823692.post-20995250585476247872009-10-21T22:11:00.000-07:002009-10-21T22:21:52.435-07:00Sem paredes<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p></o:p><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <o:officedocumentsettings> <o:relyonvml/> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><link rel="themeData" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CRenan%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--><b style=""><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></b> </p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Sem paredes para respirar</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Sem paredes para olhar distante</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Ver distante, entender distante</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Viajar além-mares, procurar a linha do horizonte</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Encontrar o que não procuro</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">E trazer como prova da minha existência</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center">Pedaços de terra e de lembranças</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center"><o:p>
<br /></o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;" align="center"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><b style="">Cliché:</b> </p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">visão idealizada e romanesca de um garotinho enfurnado no quarto, solitário, tecendo um mundo e descobrindo suas naturezas, suas alegrias e suas tristezas, experimentando os frutos proibidos e tomando o veneno que lhe corrói a alma e a força. O garotinho é curioso e tem a necessidade do toque, de estimular os sentidos; experimenta tudo o que a existência tem para oferecer: e recolhe cada informação, cada detalhe marcante, cada imagem e os deposita num amontoado de entulhos cognitivos do seu mundo particular. A tecnologia lhe proporcionou meios, deixou-o sem paredes e sem portas, agora ele pode entrar onde quiser e deixar o que o aborrece para trás, pode espiar tudo, tudo virtualmente. A tecnologia lhe deu papel e caneta; agora o garotinho pode gritar.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p>
<br /></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><b style="">Apresento-lhes meu alter-ego:<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Meu alter-ego é presunçoso, mas um veemente defensor da liberdade, assim como tantos artistas e revolucionários o foram, assim como lutaram por ela tantos movimentos na História. A Liberdade, tão abstrata em seus sentidos, tão amada, tão desejada e tão complexa. A Liberdade, porém, não define parâmetros. E daí provém as controvérsias. Deus, ao menos, é dogmático: é mais fácil se apoiar nas bordas de suas palavras para seguir na existência. Meu alter-ego, particularmente, é bastante materialista para crer e se sustentar nessas bordas; a metafísica está além da imaginação cognitiva, da compreensão lógica e racional do meu intelecto. Eu não consigo entender além, minha ignorância humana não permite, por isso são outras linhas as quais segue meu alter-ego. Por isso sua objetividade, sua consistência argumentativa e sua convicção quase inabalável quando apoiado em bases firmes.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">E, no entanto, meu alter-ego ainda é subordinado a mim. Encontra suas desvantagens por ainda me ser intrínseco, por compartilhar das emoções, do conhecimento, e por se submeter aos meus órgãos para viver. Sim, eu sou o estorvo para ele. Ou talvez ele o seja para mim. Mas... a existência é uma pêndulo multidimensional. E ora eu sou Harry Haller, ora Mozart, ora o lobo, ora o macaco, ora algum outro elemento coexistente em mim. O que faço? Ponho-me a frente do espelho mágico para me desfazer em minhas mil personalidades, as mil personalidades que compõem o homem? O espelho apresentado a Haller para que se desmanchasse e se desfizesse de sua aparência una para conhecer com outros olhos, ou com olhos incipientes, a criação da vida, da personalidade, do eu. Mas eu não me permito adentrar no Teatro Mágico. São meus medos, minhas dissidências, minha inexperiência e minha subordinação.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Meu alter-ego, porém, poderia ser livre.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Quantos artistas não inverteram as existências para desdobrar o alter-ego?</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Se eu, então, crio um personagem e ele é um poeta, onde haveria de situá-lo meu alter-ego? Quem contextualizaria a estória? Quem apresentaria a problemática? Sobe o que se trataria e quem discorreria sobre o tema? O meu poeta não seria meu e estaria na corda banda das ideologias.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p>
<br /></o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><b style="">Meu Poeta:</b> Há um mundo de lugares para ir, mas ele não pode se esconder em nenhum deles. No entanto, não lhe escapa dos dedos o lodo viscoso da existência, os versos sujos entremeados de pedras e cristais que compõem a poesia da vida. Ele sabe que as palavras não brilham por estarem enlameadas. Vez ou outra, uma cintilância relampeia secreta e rarefeita, sufocada. Enquanto recorta os papéis para desenhar neles a vida, fragmentada, desvencilhada, derrama a tinta sobre o chão e os papéis; o negrume pastoso e denso espalha-se devagar, pusilânime - a existência é marcada.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Não recorta a vida em partes da evolução para embaralhá-las; o que ele faz é uma translineação descontínua da vida. Ele quer entendê-la, ciente de sua ignorância. Por isso, tenta desmontá-la, como Tarkovski desmontaria o relógio e tiraria suas peças para compreender seu funcionamento.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Sua tensão ao escrever é exasperante; faz friccionar a vida e dela se desfaz pedaços de isopor que voam tremulantes, sensíveis ao vento. Ele tem mil palavras acessíveis e nenhuma delas o exprime. Ele escreve como cingisse a roupa molhada e o excesso de água no balde é o precipitado de idéias que ele é. Mas suas idéias fundem-se num único elemento lá dentro. E constituem o que Weber chamaria de "tipo ideal". Ele, no entanto, ainda é um precipitado de idéias.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p>
<br /></o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;"><b style="">Isto não é uma parábola:<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">O poeta existencialista tem problemas existenciais. Fragmentos de vida estão espalhados sobre sua mesa, e meu poeta brinca com a tinta enquanto não lhe rebentam da mente os versos perfeitos que traduzem estésicos a existência. A revelação, pois, nunca é uma epifania grandiosa, divina, e mais uma vez decepção sopesa sobre o poeta a concretude da realidade, onde tudo é ríspido, e as emoções, atenuadas. A alma decepcionada prostra-se numa melancolia voluntária - e meu poeta desvanece e tenta sucumbir para dar vazão à enlevação das sensações, transcendê-las e senti-las culminantes, pulsantes, vivas em seu corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2.85pt 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 8.5pt; line-height: 15pt;">Meu poeta é uma chaga da existência, está perdido em suas dúvidas e as respostas ocultam-se a sua frente para o desafiar e zombar de sua ignorância. Meu poeta rabisca os papéis em branco, porque suas poesias transcrevem sensações, e as suas são emaranhados herméticos de perguntas sem respostas sobre a existência. Suas sensações se confundem, não possui mais a estésica visão do mundo e da vida e então ele rasga os papéis, mistura-os, embaralha-os e encontra neles o abstrato da poesia que traduz introspectivo sua existência. Não há respostas ontológicas nem epistemológicas para suas dúvidas existenciais, no entanto meu poeta descobre que o segredo que impulsiona a filosofia é perguntar e não responder.</p> <p></p>renato serenohttp://www.blogger.com/profile/04542203735812684587noreply@blogger.com1